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Mercado clandestino: comprar ou não comprar óleo artesanal de Cannabis?



16/03/2021



Muita gente me procura para saber o caminho das pedras para conseguir comprar o óleo de Cannabis, porém, quando eu falo sobre os valores, a expressão de desanimo recai sobre a maioria das pessoas.

Afinal, se for fazer o caminho ‘oficial’ é preciso passar por uma consulta médica cara, realizar a parte burocrática e pagar pelo óleo que, se for importado, dependendo do produto, pode passar dos R$ 3.000.

Já no caso das associações, o valor varia bastante, mas pode haver a cobrança de taxas para associados e etc. É, por fim, um gasto significativo.

Eu, no mínimo, como uma jornalista que se especializou no assunto, vou recomendar um óleo de alguma associação de confiança, que eu acredito no trabalho ou tenha sido recomendada por algum profissional da saúde prescritor ou prescritora que eu conheço e confio.

Acontece que eu entendo perfeitamente que a falta de acessibilidade hoje é ainda um dos maiores entraves que os pacientes enfrentam para começar a terapia canábica.

Porém, seria muita irresponsabilidade da minha parte indicar um óleo artesanal que eu não tenho ideia das taxas de canabinoides, o tipo de cepa utilizada, que solo a planta foi cultivada e em qual ambiente foi feita a extração.

Mais grave ainda se a indicação for para tratar doenças graves, como epilepsia refratária, esquizofrenia e Alzheimer, por exemplo.

Imagina eu recomendar a um paciente com câncer que faz quimioterapia um óleo artesanal e esse produto estar contaminado com chumbo? É uma possibilidade real. A Cannabis é uma esponja e ‘chupa’ tudo que está no solo onde é cultivada.

Eu vejo, muitas vezes, uma boa intenção nas pessoas que fazem óleo artesanal para vender por um preço mais em conta para quem não tem condições de pagar, mas precisamos ter cuidado.

Essa mesma pessoa bem intencionada pode, por exemplo, vender um óleo carregado de THC para uma pessoa que quer tratar ansiedade. Ou vender um óleo com altas taxas de CBD para quem precisa tratar uma dor intensa.

O tratamento pode não funcionar adequadamente. Assim, o paciente pode desistir da terapia sem ao menos realmente ter sido beneficiada por ela. Eu tenho certeza que este é o caso de uma vizinha minha que tentou tratar a artrite com óleo artesanal, mas sem sucesso.

Eu tenho e já tive acesso a tantos casos de artrite tratados com Cannabis e já li tantos estudos científicos que apontam o potencial terapêutico da planta para tratar esse tipo de doença, que quando eu vejo um caso que não deu certo, eu logo desconfio do óleo e das orientações que esse paciente recebeu.

Claro que deve existir pessoas que buscam mais conhecimento para vender o melhor produto para tratar determinada condição, mas o risco, no geral, é grande. É preciso ter muita confiança em quem está vendendo e, mesmo assim, uma orientação mais assertiva pode ficar a desejar.

Além disso, estamos falando de óleos mais em conta, mas não necessariamente baratos. Já vi óleos artesanais ricos em THC sendo vendidos de forma clandestina a R$ 500.

O mesmo valor cobrado por algumas associações, porém sem o cuidado e suporte oferecido por elas e pelo profissional da saúde que prescreveu o óleo. Então, ainda é um investimento alto dependendo da condição financeira do paciente.

A maconha é sim uma substância segura no geral, mas certos efeitos colaterais e as poucas restrições de uso precisam ser consideradas. Não é porque é um fitoterápico que é bagunça. Não é porque é natural que tá tudo bem usar de forma inveterada.

Certa vez, eu vi um caso extremo de uma mãe desesperada que comprou um prensado na favela para fazer óleo para o filho parar de ter crises convulsivas, porque não tinha grana para comprar um óleo artesanal.

Ela mesma fez o óleo, mas foi um caso excepcional. Ela mesma sabia que não era a melhor opção nem de longe, mas era a que tinha disponível.

Então, quem garante que o óleo artesanal que você compra por aí e paga um preço razoável não foi feito com uma maconha de péssima qualidade, mofada e cheia de substâncias como amônia e acetato?

Eu entendo que desestimular a compra de óleos artesanais a essa altura do campeonato pode parecer uma forma de elitizar ainda mais o acesso, mas é apenas um cuidado.

Portanto, se o óleo artesanal vendido no mercado clandestino é sua única opção, siga as dicas abaixo para tentar garantir o melhor produto e bora trabalhar a redução de danos.

– Pergunte com qual cepa (planta) o óleo foi feito.

– Acesse o Guia de Strain do Mapa da Maconha para saber as características da planta que foi usada e ter mais informações sobre seus efeitos e indicações.

– Pergunte sobre o processo de cultivo e fabricação.

– Pergunte em que tipo de ambiente a extração é feita.

– Busque recomendação de quem já usa.

– Fique atento. Fabricar e comprar óleo artesanal de Cannabis ainda é crime.

– Estude. Leia artigos em blogs especializados e artigos científicos disponíveis na internet.

– Troque informações com outros pacientes e responsáveis.

Sobre as nossas colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

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Carol Apple

Caroline Apple é jornalista especializada na cobertura de Cannabis e editora-chefe da Cannalize. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, Agora SP, R7 e UOL. Foi repórter do Sechat, onde adentrou para o universo da cannabis, atuando posteriormente na comunicação de diversas empresas do ramo. É uma entusiasta da planta e de todo o seu potencial terapêutico, além de acreditar no cânhamo como o futuro da indústria como uma forma de colaborar com a regeneração da Terra.