Em julho de 2020 contamos a história da Eliane Soares, que entrou em depressão depois de um assédio sexual. Em meados de 2008, os sintomas da diarista de 44 anos pioraram, e ela tomava uma série de medicações fortes, como clonazepam.
Eliane chegou a tomar 10 cápsulas de remédios tarja preta que só a faziam dormir. Foi em 2010, quando ela começou a usar a cannabis que a situação mudou.
Ela descobriu que a planta poderia ser terapêutica, pois a ajudou tanto na depressão quanto na diminuição o número de medicamentos. Mas como a planta funciona?
Primeiro vamos entender o que exatamente é a depressão.
Tristeza, desânimo, angústia, frustração, desmotivação, tudo isso pode ser sinais depressivos, que podem levar a condição. Ela pode causar problemas emocionais e físicos, tanto no relacionamento com os outros quanto com ela mesma.
O Brasil é o país mais depressivo da América Latina, e o segundo maior das Américas, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
São mais de 12 milhões de pessoas, cerca de 5,8% da população. O número ainda é superior que a média global, de 4,4% pessoas e os números só crescem.
Ela é a doença que também mais afasta pessoas do mercado de trabalho. 75,3 mil funcionários foram afastados em 2016 por causa da condição. 37,8% de todas as licenças tiradas durante todo o ano.
A condição pode afetar qualquer um, não só pessoas que passaram por situações traumática. Talvez aquela pessoa aparentemente feliz e com as condições de vida ideais, possa sofrer com a doença, pois não são só fatores externos que influenciam, mas também orgânicos e emocionais, como por exemplo.
Ao contrário do que muitos pensam, a depressão não é só um estado deprimido, ela segue uma série de outras condições
São muitos os fatores que podem levar a uma pessoa a depressão, mas é preciso entender que o luto e a tristeza não é a mesma coisa.
Perder algo que gostava muito, como um emprego ou um relacionamento e até ter que passar por um luto, podem gerar sentimentos negativos e angustiantes, mas é importante lembrar que eles são normais.
São processos naturais da vida de todos os seres humanos, que também causam sentimentos semelhantes a depressão. A diferença é que a tristeza considerada normal passa com o tempo. No luto, por exemplo, a tristeza vem em alguns momentos, seguidos de boas lembranças do ente querido.
No entanto, o luto, também pode levar a depressão, assim como outros fatores, como:
É importante destacar que outras doenças, como disfunções na tireoide, tumor cerebral e até a falta de vitaminas pode gerar os sintomas, por isso, é preciso entender quais são as causas antes de começar a tratar.
Primeiro é preciso ter um diagnóstico claro de que é depressão. Como dito acima, ela pode ser confundida com tristeza ou com outras doenças ou condições.
Isso pode ser feito em agendamento?utm_source=cannalize&utm_medium=textoancora&utm_campaign=agendamento” target=”_blank”>consultas com um psicólogo e um psiquiatra, que irão avaliar todos os caminhos até concluir em um diagnóstico de depressão.
Quase sempre a doença é multifatorial, por isso, precisa ser tratada em todos os ângulos ao mesmo tempo. Tanto a parte emocional, se conhecendo melhor com a ajuda de um profissional, quanto a parte orgânica, com medicações.
Como dito antes, fatores químicos podem influenciar. Por isso, a administração de medicamentos é tão importante. Eles não são sedativos ou tranquilizantes, mas apenas um auxílio para regular as substâncias químicas do cérebro.
As melhoras podem ser vistas de duas semanas a três meses. Caso o remédio não esteja fazendo efeito, é bem provável que precise aumentar a dosagem, mas tudo é conversado com o médico responsável.
No entanto, o uso prolongado de remédios para ansiedade e depressão podem causar dependência.
Segundo dois estudos realizados com 250 e 180 pessoas, a retirada da medicação depois de um longo período foi muito difícil para os participantes, pois eles relataram continuamente sintomas de abstinência.
Outra questão, observada pelo professor Francisco Silveira Guimarães da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, é que a estimativa de eficácia dos antidepressivos é de apenas 60% dos pacientes. Os outro 40% podem permanecer com o problema.
Como no caso da Eliane que mencionamos no começo deste artigo, a cannabis também funciona como um antidepressivo, estimulando algumas funções orgânicas do cérebro.
Para entender melhor é preciso saber o que é o Sistema Endocanabinoide (SE), que existe em todos os mamíferos.
Este sistema é responsável por regular a homeostase, ou seja, o equilíbrio de muitas funções do organismo a nível celular, como fome, humor, sistema imunológico e o Sistema Nervoso Central.
Se alguma função não está operando direito, é ele quem avisa.
Quem trabalha através do SE são os endocanabinoides, produzidos pelo próprio organismo, corrigindo o que está desregulado. Eles trabalham através de receptores, os mais conhecidos são chamados de CB1 e CB2, que são responsáveis pela absorção deles.
No entanto, a falta de canabinoides, que pode acontecer por uma série de motivos, pode gerar o que chamamos de Síndrome de Deficiência Endocanabinoide, o que acarreta em uma lista de complicações.
O motivo da cannabis ser usada para tantas condições é que ela também possui canabinoides, que são chamados de fitocanabinoides. Há uma variedade deles na planta que podem ser usados para suprir ou reforçar os nossos.
Das centenas de canabinoides da cannabis, os mais conhecidos são o CBD (canabidiol) e o THC (tetra-tetraidrocanabinol). O primeiro é mais usado em remédios por possuir o mínimo de reações adversas, principalmente para tratar epilepsia de difícil controle.
O THC também não tem muitas reações negativas, mas é nele que se encontra o famoso “barato” da cannabis. No entanto, isso não quer dizer que não seja importante.
Remédios também são feitos com o tetra-tetraidrocanabinol e dependendo da genética de cada um, ele pode funcionar melhor que o CBD ou vice versa.
O sistema endocanabinoide pode trabalhar como um neuromodulador para o Sistema Nervoso Central, capaz de regular aspectos emocionais, cognitivos, nervoso e processos motivacionais das pessoas.
Na depressão, há uma baixa de endocanabinoides no cérebro, como a serotonina ou a dopamina. Apesar de ser neurotransmissores, eles também são considerados endocanabinoides. Por isso, remédios ou uma reposição de canabinoides pode elevar os níveis das substâncias químicas.
Um estudo pré-clínico em 2011 mostrou que quando o Sistema Endocanabinoide está funcionando bem, pode resultar em efeitos ansiolíticos e antidepressivos, também reduz a atividade estressante do sistema neuroendócrino e melhora a plasticidade do hipocampo.
O THC, por exemplo, conhecido pelos seus benefícios no humor e euforia, pode ativar o receptor CB1 e regular essa parte química do cérebro.
Um estudo de 2006, realizado na Universidade McGill, em Montreal, mostrou que o tetra-tetraidrocanabinol pode agir como antidepressivo, além de produzir serotonina.
Consumidores ocasionais e diários do cigarro de maconha, por exemplo, tinham sintomas mais leves de depressão do que pacientes que não usavam.
No entanto, doses altas poderiam ocasionar em uma piora dos sintomas.
O CBD também pode influenciar o humor. A ativação da serotonina pelo canabinoide, por exemplo também mostra ter efeitos antidepressivos.
Em 2018 a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), líder em pesquisas sobre canabidiol no mundo, realizou um estudo sobre o canabinoide que foi publicado na revista Molecular Neurobiology.
Eles deram o CBD para 367 ratos com sintomas depressivos, e os resultados foram os melhores. O estudo mostrou uma remissão dos sintomas no mesmo dia e permanência dos efeitos por uma semana.
Você não precisa escolher entre um ou o outro canabinoide, pois geralmente o THC e o CBD trabalham juntos. Isso porque a junção dos dois gera efeitos maiores no organismo do que separados.
Isso acontece graças ao efeito entourage, ou efeito sinergia. É a combinação dos compostos químicos presentes na planta de uma forma que gere efeitos diferentes e maiores do que se é esperado.
O THC e o CBD juntos oferecem efeitos sedativos, antidepressivos e antipsicóticos para quem sofre com depressão.
A cannabis só pode ser comprada com receita médica, mas é importante entender que nem todos os médicos receitam. Na dúvida, procure um especialista que tenha um conhecimento sobre a planta ou converse com o seu psiquiatra sobre o assunto.
No Brasil, há apenas um remédio à base de CBD vendido nas farmácias, no entanto o preço é bem salgado. Para adquirir outros medicamentos, que levam THC por exemplo, precisam ser importados.
Confira como funciona este tipo de importação
Há também associações que podem ajudar a conseguir o fitofármaco. Elas auxiliam tanto com o processo de importação como a disponibilização do óleo por cultivadores aqui no Brasil.
É importante ressaltar que a depressão é multifatorial, por isso, não pode ser controlada apenas com remédios, mas também com um acompanhamento psicológico e se possível, com o apoio de familiares e amigos.
A alimentação, o sono, a prática de exercícios físicos também pode ser um forte aliado na luta contra a doença.
A cannabis pode ajudar muito no tratamento, mas não pode fazer tudo sozinha.
É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.
Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar na marcação de uma consulta, dar suporte na compra do produto até no acompanhamento do tratamento. Clique aqui.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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