Alzheimer: como a cannabis pode auxiliar no tratamento

A cannabis medicinal foi regularizada em 2015, quando as importações foram autorizadas no Brasil . Desde então, o número de pacientes que aderiram ao tratamento alternativo tem crescido gradativamente.
Só em 2021, a estimativa era a de que mais de 50 mil pessoas utilizassem o óleo no país. Por outro lado, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Indústria de Cannabis (BRCann), o perfil dos consumidores mudou.
Se antes a demanda era principalmente para tratar convulsões em crianças, hoje, tratamentos para Alzheimer, dores crônicas ou ansiedade se tornaram mais comuns.
O que é o Alzheimer?
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa mais comum dentre as demências. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com demência em todo o mundo. Estima-se que 152 milhões de pessoas serão afetadas até 2050.
Estes números a tornam uma importante questão de saúde pública, gerando cada vez mais debates sobre causas, prevenção, fatores de risco, tratamento e a possibilidade de cura para o Alzheimer.
Apesar dos esforços da ciência, ainda não foi descoberta a causa efetiva para o problema, que prevalece entre idosos com mais de 65 anos, podendo, ainda que raramente, atingir pacientes mais jovens.
Dentre os possíveis facilitadores estão a genética, estilo de vida e alimentação.
Não há cura para o Alzheimer e todos os medicamentos já desenvolvidos visam atenuar seus sintomas, que incluem declínio mental, esquecimento, dificuldade de raciocínio, mudanças de humor, agressividade, apatia, entre outros.
Assim, sabendo que o envelhecimento populacional é uma realidade, encontrar maneiras de melhorar a qualidade de vida destes pacientes é fundamental.
Impedir o avanço da doença tornou-se uma prioridade de saúde pública. E a cannabis pode ser um importante aliado nesta tarefa.
Sistema Endocanabinoide
Para entender como a cannabis funciona no organismo, é preciso compreender que a planta trabalha através do chamado Sistema Endocanabinoide, que está presente tanto em pessoas quanto animais.
Ele ajuda a regular a homeostase, ou seja, o equilíbrio das funções do organismo. Se uma pessoa está com febre, por exemplo, são os canabinoides que, através de receptores, sinalizam que a temperatura precisa diminuir.
Dentre suas várias atribuições, o Sistema Endocanabinoide age sobre o humor, apetite, memória, aprendizado e atividade motora, sistema nervoso e imunológico.
A cannabis também possui canabinoides, que podem funcionar no organismo de maneira bastante parecia com os nossos.
Como a cannabis ajuda no Alzheimer?
Dentre as propriedades terapêuticas da cannabis estão a diminuição do estresse oxidativo, retardo da neurodegeneração e das placas amiloides, que sabidamente colaboram para o surgimento e agravo do Alzheimer.
Aqui, tanto o canabinoide chamado Canabidiol (CBD) quanto o Tetrahidrocanabinol (THC) têm sua parcela de importância e merecem ser considerados.
Qual o efeito da cannabis no Alzheimer?
Estudos tem mostrado que a planta pode retardar os efeitos da doença, e em alguns casos, até reverter danos. Como por exemplo, no caso do Delci Ruver, avô de uma das alunas de mestrado da Universidade Federal da Integração Latino-América (UNILA).
Após a cannabis, a equipe de pesquisa percebeu que o senhor de idade não só teve os sintomas estabilizados, como também recuperou parte das funções que ele havia perdido. Veja mais sobre essa história aqui.
O interessante é que o estudo focou no THC e não no CBD. Apesar de ser o responsável pelos efeitos alucinógenos da maconha, o THC também possui muitos benefícios para o cérebro. É bastante usado para condições como Parkinson, Esclerose Múltipla e até Dermatite.
Isso porque a cannabis possui efeitos neuroprotetores, que podem ser úteis na melhora comportamental e cognitiva.
O que diz a ciência
Um estudo conduzido pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Sul da Flórida constatou, após ensaios e investigação, que o THC interage diretamente com o peptídeo beta-amiloide, inibindo sua agregação. Além disso, não foi observada toxicidade nas doses analisadas, o que torna o THC uma opção potencial de tratamento para o Alzheimer. [1]
As análises do Instituto Salk de pesquisas biológicas colaboram para isso. Segundo seus cientistas, o THCe outros canabinoides poderiam ajudar a remover a proteína beta-amiloide em neurônios cultivados em laboratório, além de reduzir a inflamação celular. [2]
A teoria é de que o acúmulo da proteína formaria placas, que impediriam a comunicação entre os neurônio. Isso torna o canabidiol o primeiro composto não tóxico com resultados comprovados no tratamento da doença.
Redução dos sintomas
Outro estudo realizado em 2016 pelo Centro de Saúde Mental da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, mostrou que o óleo de cannabis medicinal é uma opção segura e promissora para o tratamento de demências, auxiliando na diminuição de seus sintomas. [3]
Considerando as importantes alterações comportamentais decorrentes da doença, os compostos da cannabis poderiam auxiliar na diminuição da ansiedade, agressividade e depressão entre os pacientes, resultando em uma melhora na qualidade de vida dos mesmos.
Este fator deve-se, principalmente, à interação entre o THC e os receptores do tipo CB1, fortemente presentes no sistema nervoso central.
Ainda é impossível falar em cura para o Alzheimer.
Ainda assim, com a compilação e análise dos diversos estudos já existentes, é inegável que a cannabis medicinal traz uma série de benefícios no tratamento e controle da doença, impedindo a sua progressão e, em muitos casos, favorecendo a regressão dos sintomas.
O tema ainda é polêmico e gera debates muitas vezes acalorados entre a classe médica. Parte disso se deve ao fato de que ainda não existem estudos fortes o suficiente para comprovar sua segurança e eficácia em longo prazo.
Efeitos Colaterais
A cannabis é conhecida por ter efeitos colaterais mínimos. Produtos com concentrações maiores de CBD, por exemplo, possuem efeitos como:
- Sonolência;
- Diarreia;
- Tontura;
- Alteração do apetite.
Já o THC também pode causar:
- Ansiedade;
- Boca Seca;
- Fome;
- Alteração da Cognição.
Casos reais: como a cannabis medicinal já ajudou pacientes diagnosticados com Alzheimer
Apesar dos obstáculos como a legislação, burocracia, tabus e a descrença por parte dos especialistas, não é raro encontrar casos bem sucedidos do uso da cannabis medicinal em pacientes com Alzheimer.
Um dos exemplos mais famosos é o de Ivo Suzin, um homem de 52 anos, precocemente diagnosticado com a doença. Após o diagnóstico e a mudança drástica na rotina da família, seu filho Filipe passou a estudar centenas de artigos científicos sobre os benefícios da cannabis medicinal.
Descartando a possibilidade do plantio caseiro, por questões legais, Filipe conheceu a AGAPE, uma ONG que fornece o óleo de cannabis ao Sr. Ivo, iniciando o tratamento imediatamente.
Para ele, o tratamento trouxe seu pai de volta, reduzindo sua agressividade, melhorando suas funções cognitivas e melhorando a qualidade do sono.
Em seu canal do Youtube, chamado Curando Ivo, Filipe e sua mãe Solange mostram as dificuldades da doença e a evolução de Ivo com o tratamento à base de cannabis medicinal.
Outro caso real de sucesso é o de Walter Selani, de 86 anos. Segundo seu filho, a doença demorou a ser diagnosticada, porém, evoluiu rapidamente. Walter, que é surdo, se tornou agressivo e os cuidados com ele se tornaram cada vez mais difíceis.
Ao descobrir a cannabis o tratamento foi iniciado e permanece até hoje, sete meses depois, como um complemento aos medicamentos prescritos pelo médico.
Segundo a família, hoje o Sr Walter reconhece os bisnetos, interage mais e melhor com as pessoas e mostra um melhor desempenho cognitivo.
São apenas dois exemplos dos muitos que surgem dia após dia. Cada vez mais a cannabis medicinal mostra-se uma alternativa plausível para melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares que convivem com o Alzheimer.
Vale ressaltar que, invariavelmente, o acompanhamento médico se faz indispensável.
Onde comprar
Há três formas de comprar produtos à base de cannabis no Brasil:
Farmácias. No final de 2019 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a venda de produtos à base de cannabis nas drogarias apenas com receita médica. Contudo, as empresas precisam de uma autorização da agência para poder vender.
Hoje são poucas farmacêuticas que possuem o documento.
Associações. Geralmente as entidades sem fins lucrativos plantam a cannabis e vendem o óleo a preço de custo. Para isso, geralmente é preciso ser associado e pagar uma taxa anual.
Importação. Pensando em variação de produtos, outra forma de comprar o óleo é através da importação. Contudo, é necessário uma autorização excepcional da Anvisa.
Consulte um médico
Antes de tudo, é importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que inclusive, poderá indicar qual o melhor óleo para a sua condição.
Caso precise de ajuda, há uma equipe com um atendimento especializado que poderá esclarecer dúvidas, além de auxiliar desde a prescrição até a importação do produto. Clique aqui.