Olhos vermelhos, larica, sonolência e até bad trip. Já se perguntou o porquê as pessoas sentem esses sintomas ao fumar um beck?
A cannabis tem sido usada há milhares de anos de várias formas diferentes, mas com certeza o uso fumado é o mais conhecido.
Mas não se engane, tudo acontece na mente. E estes efeitos podem estar ligados também a vários benefícios. Confira:
A fome é puramente psicológica! O que chamamos de larica é apenas a conexão das moléculas da cannabis com as receptores do nosso corpo.
Não entendeu? Vamos te explicar melhor:
A cannabis funciona em nós através do Sistema Endocanabinoide, que trabalha a nível molecular e está presente em quase todo o organismo.
Ele é encarregado de enviar os chamados canabinoides, substâncias que se conectam aos nossos receptores para sinalizar que algo precisa ser feito.
A cannabis também possui canabinoides, que podem interagir com o nosso corpo de forma parecida. O CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol) também são canabinoides e por isso podem ser úteis para tantas condições diferentes.
De acordo com o diretor médico da Cannect, Rafael Pessoal, o consumo de THC (substância que gera os efeitos da maconha), pode sinalizar que você está com fome, mesmo que não seja verdade.
Quando a maconha é inalada o THC se conecta com os receptores do sistema nervoso central que controlam a fome e o apetite. Por isso, a larica é puramente psicológica.
O canabinoide também pode desencadear um surto de um hormônio chamado grelina, mais conhecido como hormônio da fome.
Alguns podem pensar que os olhos ficam vermelhos por causa da fumaça ou a falta de costume em usar a maconha. Outros até podem associar a algum problema de saúde. Mas não é nada disso.
A explicação, na verdade, é bem simples. A presença do THC baixa a pressão arterial, que consequentemente, dilata os vasos sanguíneos.
Isso acontece porque a maconha gera um aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, que diminuem cinco a 10 minutos depois do fumo. Então, há uma redução da pressão e o fluxo sanguíneo aumenta, causando a vermelhidão.
A intensidade pode variar de acordo com a quantidade de THC ingerida. Se uma pessoa consome uma cepa com uma quantidade maior da substância, por exemplo, os olhos tendem a ficar mais vermelhos.
Mas isso não chega a ser prejudicial. Comestíveis com níveis elevados do canabinoide também podem gerar o sintoma.
Adivinha o que o Sistema Endocanabinoide também influencia? Isso mesmo, o sono. O seu papel natural é equilibrar o sono, mas quando há muitas sinalizações, ele também pode entender que você precisa dormir (mesmo que não seja hora para isso).
Alguns canabinoides da cannabis têm efeitos calmantes e sedativos, como o CBD, por exemplo. Motivo pelo qual ele é usado para condições como ansiedade.
Embora o mundo já esteja acostumado a delegar os efeitos de euforia apenas ao THC, há estudos que mostram que ele também causa sono. De acordo com um estudo clínico feito em 2004, ele pode sim dar sonolência.
Contudo, é sempre bom ressaltar que nem toda a maconha é igual a outra. Enquanto umas cepas causam sonolência, outras podem te deixar mais despertos.
A famosa “bad trip” nada mais é do que misto de sentimentos, como ansiedade, medo, tremores, confusão, enjoo, pânico e até delírio, que podem acontecer depois do fumo da maconha.
É importante ressaltar que isso não é exclusivo da cannabis, ela pode acontecer em qualquer substância psicoativa.
Apesar de cada um ter uma experiência diferente, os efeitos colaterais da “bad trip” são bem parecidos. Dependendo da quantidade ingerida e até do organismo de quem usa, ela pode ser leve ou intensa.
De acordo com a médica e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria Ana Hounie, isso acontece porque há uma alta liberação de dopamina no cérebro, o que causa a ansiedade.
Por outro lado, ela é multifatorial, ou seja, o estado emocional da pessoa também pode influenciar. Se uma pessoa já está ansiosa, por exemplo, a cannabis pode agravar ainda mais o problema.
Isso porque as substâncias da cannabis não afetam apenas a mente, mas outras partes do corpo, como o sistema nervoso.
O que pode inclusive, despertar sintomas mais graves em pessoas com predisposição para esquizofrenia e paranoia.
Não é porque estes efeitos à cannabis parece um problema, que realmente são. Estas reações também podem ser úteis para o tratamento de doenças. Entenda:
A reação provocada pela larica pode ser usada para estimular a fome em pessoas com condições como AIDS e câncer, por exemplo.
As terapias destas condições podem causar uma série de efeitos colaterais, como falta de apetite ou falta de prazer pela comida.
A famosa “larica” pode contornar esses efeitos e proporcionar uma melhor alimentação e consequentemente, uma melhor qualidade de vida.
A influência do THC na pressão intraocular é o motivo pelo qual a cannabis é cogitada para o tratamento para glaucoma, por exemplo, que nada mais é que a pressão intraocular degradando o nervo óptico.
Contudo, mais pesquisas precisam ser feitas para que a planta de fato seja uma solução.
A cannabis é cada vez mais utilizada para o tratamento de insônia. Acredite ou não, mas a própria Beyoncé utiliza os benefícios da plantinha para dormir.
Em abril de 2020, uma pesquisa publicada no periódico Experimental and Clinical Psychopharmacology, mostrou que a cannabis pode ser eficaz no tratamento da insônia crônica.
O estudo observacional foi realizado na Universidade da Austrália Ocidental com 23 voluntários por 14 noites. Metade deles recebeu uma dose da planta e a outra metade recebeu um placebo, porém ninguém sabia qual havia recebido.
O resultado foi uma melhora de 36% em voluntários que receberam a cannabis.
Esta não é a primeira vez que investigam a cannabis para tratar a qualidade do sono. Outro estudo publicado no Journal of Psychopharmacology realizado em 2014 mostrou que o canabidiol pode aumentar o tempo do sono e o THC a sua latência.
Sem contar que também há evidência da ação dos dois elementos na redução de transtorno do estresse pós-traumático, o que consequentemente pode influenciar na hora de ir dormir.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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