Algumas ligas independentes têm se mostrado mais flexíveis com a maconha, mas você sabe como essa proibição começou?
No começo de abril, a notícia de que a NBA (Liga de basquete dos Estados Unidos) firmou um acordo com a associação de jogadores para liberar o uso da maconha repercutiu em todo o mundo.
Mas essa não foi a primeira liga que liberou o consumo da erva pelos atletas nos EUA, em 2020 outras federações como a NFL (Liga de futebol Americano) e a NCAA (Liga de Beisebol) também decidiram não punir os atletas pegos com maconha.
Mas como começou a proibição da maconha no mundo esportivo? Conversamos com a médica especializada em esportes, Jéssica Durand, para entender melhor.
O uso de substâncias para melhorar a performance não é nova, na verdade, é mais antiga que a história dos Jogos Olímpicos.
Acredita-se que elementos como cogumelos, ópio e até cafeína eram usados há mais de quatro mil anos para ajudar não só melhorar o desempenho desportivo, mas também na produtividade do trabalho e disposição de guerreiros.
Contudo, segundo a médica do esporte, esse não é o melhor caminho. O uso de substâncias sem o devido cuidado pode trazer consequências negativas para a saúde. Muitas vezes até de forma definitiva.
O primeiro escândalo de doping, por exemplo, que aconteceu em 1886, matou um ciclista de overdose em uma corrida em Paris.
Mas a morte não parece ter intimidado os atletas. O termo “usar bola”, como sinônimo de dopar-se, apareceu poucos anos depois do incidente durante os jogos de Atenas, em 1896.
O ano foi marcado pelo aparecimento de “bolinhas” com diversas substâncias estimulantes, como cocaína, efedrina e estricnina. Nas olimpíadas de Berlim, os alemães também usavam qualquer coisa para vencer.
Mas foi apenas na década de 1960, depois da morte de dois atletas, que o COI (Comitê Olímpico Internacional) passou a controlar o tipo de substâncias usadas pelos atletas. Nos jogos no México, por exemplo, os exames antidopings já eram obrigatórios.
Para controlar melhor a situação, o COI criou a Wada (Agência Mundial Antidoping, em tradução livre) em 1999. Ela ficou responsável por criar um regulamento sobre o uso de substâncias, além de realizar testes em atletas.
A agência decidiu fazer uma lista de substâncias vetadas que foi usada em várias competições oficiais, principalmente as Olimpíadas. Lista que é usada até hoje e atualizada todos os anos.
Há basicamente três requisitos para que alguma substância seja proibida:
Para a médica do esporte, esse controle é importante para manter a saúde dos atletas, principalmente se tratando de sintéticos, que apesar de trazer resultados em pouco tempo, as consequências podem ser devastadoras.
“Há o risco de desenvolver um câncer, problemas hepáticos, complicações renais. Na busca dessa performance, os atletas querem de fato serem melhores e acabam ignorando risco de lesão e tempo de descanso, o que pode causar uma série de riscos a longo prazo no fim das contas.” ressalta Durand.
De acordo com a médica do esporte Jéssica Durand, a cannabis passou a ser proibida por causa de um estudo equivocado publicado na década de 1970.
A pesquisa dizia que o THC (Tetrahidrocanabinol), substância que gera o famoso “barato”, possui um efeito broncodilatador, o que poderia “favorecer os atletas”, pois melhora a performance pulmonar.
Contudo, o estudo não havia sido feito com esportistas, mas com pessoas com asma. “A pesquisa também foi feita com uma quantidade muito pequena de pessoas”, destaca a médica do esporte.
Ela ressalta que, apesar da maconha de fato ter um efeito broncodilatador, não há nenhum estudo que comprove que tanto o CBD (canabidiol) quanto o THC melhore o desempenho esportivo.
A maconha é vetada desde 2004, quando a Wada criou a lista oficial de substâncias proibidas.
Em 2011, a agência ainda utilizou outro artigo da revista Sports Medicine para reforçar essa decisão. A pesquisa dizia que a maconha reduz a ansiedade, o que segundo o comitê olímpico, pode ajudar os atletas a “ter um melhor desempenho sob pressão”.
Mas o estudo não é evidência suficiente para sustentar uma proibição.
Apesar de não melhorar o desempenho esportivo, a maconha não é aceita por boa parte dos países, o que na lógica da agência antidoping, entra no terceiro requisito para o veto: O composto viola o espírito esportivo.
Nos últimos tempos, a história da atleta norte-americana Sha’Carri Richardson causou bastante revolta no mundo do esporte. A corredora obteve a primeira vaga para para os Jogos Olímpicos de Tóquio ao correr 100 metros em 10.86 segundos em 2021.
Contudo, foi obrigada a ficar de fora das Olimpíadas depois que testou positivo para maconha. Suspensão que causou indignação de muita gente, o que pressionou a Wada a revisar o seu código.
Mas parece que isso não adiantou muito. A Wada até analisou a liberação da maconha, mas ainda a manteve na lista dos proibidos com a justificativa de que a planta “viola a prática esportiva”.
Em um comunicado, o diretor Olivier Niggli ainda acrescentou que está ciente das percepções divergentes da cannabis pelos países, assim como suas legislações.
Apesar de ainda manter o THC na lista de substâncias ilícitas, houve pequenos avanços na Agência Mundial Antidoping, como o período de suspensão dos atletas pegos, por exemplo, que foi reduzido de dois anos para um a três meses.
Os Jogos Olímpicos de 2020, que aconteceram em 2021, também fizeram história com a primeira competição em que o CBD foi permitido.
O problema, segundo a instituição, é que a maconha é proibida em boa parte do planeta. Em países como Reino Unido, por exemplo, ser pego com a erva pode render até cinco anos de prisão.
A médica do esporte não acredita que a liberação da maconha pela Wada seja logo. Para ela, talvez demore até cinco anos para uma decisão favorável. “Isso faz com que a população de atletas consiga se fortalecer e ter referências para questionar a Wada, pressioná-la mais”, acrescenta.
Apesar da posição do Comitê Olímpico, algumas ligas independentes têm se mostrado mais flexíveis, principalmente em países onde a maconha é legal. Segundo Durand, a pressão dos jogadores e da população é o que pode mudar a posição das entidades.
A NBA, por exemplo, só permitiu o uso da cannabis depois de um acordo entre a liga e a NBPA (Associação de Jogadores da Liga Americana de Basquete).
“Nos próximos anos vai ser uma tendência a ter uma permissividade maior e consequentemente até tirar cannabis de todas as formas como uma substância proibida”, acrescenta a médica do esporte.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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