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Cannabinologia

Cannabis Brasileiras: como chegaram aqui?



14/04/2021


Embora a cannabis não seja daqui, o clima tropical brasileiro acabou criando novas plantas bem características.

Já falamos aqui em outro artigo que a cannabis tem mais de mil variações ao redor do mundo. Elas se modificam a partir do ambiente, do clima, dos cruzamentos genéticos e até da maneira que ela é plantada.

Cada tipo de variação é chamado de cepa. Também conhecidas como Strains, elas podem conter níveis de canabinoides diferentes, gostos, diferentes e até a aparência diferente.

A genética de uma planta, mesmo quando se trata de uma cepa específica, pode mudar quando é cultivada em outro clima, por exemplo. E foi por isso que nasceram as cannabis brasileiras.

Estes tipos de modificações podem ser propositais ou não. Agora que a planta vem se destacando na ciência, alguns pesquisadores já cruzam cepas para obter um efeito esperado para tipos específirealcos de comorbidades.

Os geneticistas do mundo recreativo, os famosos “breeders” ou “growers” também fazem este tipo de cruzamento para obter experiências melhores, muitos deles até participam de competições.

Contudo, para entender o que elas fazem aqui e como influenciaram a cultura, é preciso saber do seu contexto histórico.

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Chegada ao Brasil

A cannabis é bem antiga. Há registros da planta em 1.700 A.C. e a suspeita é que ela tenha se originado na Ásia Central e se espalhado ao redor do mundo, sofrendo modificações.

A planta chegou aqui pelos portugueses. Desde a colonização até o século XX a maconha e o cânhamo eram cultivados legalmente no país, até mesmo pela monarquia, através da Real Feitoria de Cânhamo.

Muitos também acreditam que ela foi trazida pelos escravos da África, nos navios negreiros. Isso porque a planta foi bastante utilizada por eles aqui no brasil e criou raízes na cultura, o que se tornou um dos motivos da sua proibição.

Mas o fato é que vários programas governamentais portugueses tinham como objetivo a objetivo abastecer a indústria têxtil plantando aqui e exportando para o mundo todo.

Portugal instaurou no Brasil a Real Feitoria de Cânhamo em 1783 para fabricar fibras e mandá-las para outros países. As fazendas se concentravam em vários estados do Brasil, como Pará, Amazonas, Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia.

A indústria no Brasil era tão forte que o cânhamo chegou a ser considerado o principal produtor agrícola de cannabis, segundo um jornal da época.

Uma das grandes vantagens de cultivar a erva no Brasil era o clima tropical, pois as plantas se davam muito bem.

Além de tecidos, o cânhamo era culturalmente usado como remédio. O óleo vegetal também servia de alimento e matéria prima, foi bastante útil como combustível para lamparinas e outras utilidades.

A primeira grande produção no Brasil nasceu no Maranhão. Isso criou uma cultura de plantio no país e mesmo depois da proibição, a planta continuou crescendo no solo brasileiro.

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Histórico de Proibição no Brasil

Influenciado pelos países que proibiram a cannabis, em 1921, a primeira lei de controle de drogas surgiu no Brasil.

Ela penalizava apenas a venda de cocaína, ópio e derivados, mas em 1932 a cannabis indica foi incluída.

Seis anos depois, o Ato Fiscal da Maconha, abrangeu a cannabis sativa também, exceto para o uso medicinal. Mas, no dia 4 de novembro de 1964, no início da ditadura militar, a simples posse de cannabis foi classificada como crime.

Mesmo depois da sua proibição em 1932, a planta era comercializada para fins medicinais e ainda recomendada pelos médicos. 

Com o passar dos anos, ela se modificou tanto pelo clima, quanto pela região. Isso fez com que aparecesse algumas cepas no Nordeste, como a cepa rabo de raposa, cabrobró, manga rosa, pernambucana e muitas outras.

E no Sul, a que chamam de planta paraguaia até hoje. Quando a cannabis passou a ser proibida no Brasil, ela começou a ser cultivada no país vizinho.

Usadas até hoje

Várias comunidades indígenas, por exemplo, ainda cultivam a planta. No ano passado, aldeias do Maranhão utilizaram a cannabis para tratar a Covid-19. Um tratamento que segundo eles deu bastante certo.

No sul, o professor Francisney Nascimento, que dá aula de Medicina e Ciências na Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu (UNILA), só começou a fazer pesquisas sobre a cannabis para o tratamento de Alzheimer depois de perceber que remédios à base da planta eram comuns em uma pequena cidade do Paraná.

 Apesar dos estigmas, as chamadas “cannabis brasileiras” ainda estão vivas em algumas culturas locais que são exploradas até hoje. Tanto por suas propriedades medicinais quanto para o uso recreativo.

A famosa White Window, por exemplo, foi criada quando uma cepa selvagem do Brasil foi polinizada por uma cannabis indica do Sul da Índia.

Tipos de cannabis brasileiras

Algumas cepas, embora pouco exploradas, são o nome das cidades onde nasceram, como a Cabrobró, que tem o nome da cidade pernambucana. Outras foram dadas por causa das suas características ou até do “grower” que fez o cruzamento.

Veja algumas delas.

Cannabis paraguaia

Embora não seja exatamente brasileira, a Cannabis do Paraguai, ou também conhecida como Fuso paraguayo é talvez a mais conhecida e consumida no Brasil.

Ela é plantada na fronteira entre os dois países em quilômetros de hectares escondidos. Segundo o serviço antidrogas do Paraguai, cerca de 80% da maconha plantada ilegalmente vem para o Brasil.

Só ano passado, os dois países destruíram 85 hectares da cannabis, que eram plantadas entre o Mato Grosso do Sul e os estados de Caaguazú e Canindeyú, no Paraguai.

O nome, claro, é genérico, pois há uma variedade de cepas com variedades com níveis de canabinoides, aromas e gostos diferentes.

Manga Rosa

Alceu Valença uma vez cantou: “De manga rosa quero o gosto e sumo”. Talvez ele não estivesse falando da maconha brasileira com o mesmo nome, mas o mundo recreativo tem repetido a canção com essa finalidade.

A manga rosa ficou conhecida não só no Brasil, mas no resto do mundo, além de ser precursora de outros cruzamentos também.

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Foto: nachilloo

O nome, segundo alguns afirmam, vem da própria fruta mesmo. Até hoje a manga rosa é muito cultivada no Nordeste e se distingue por causa do seu sabor bem doce.  

Além disso, ela é uma planta alta, pode chegar a dois metros. Suas folhas são longas e finas e as suas flores também fazem jus ao nome, são rosas e avermelhadas.

A planta tem a genética da cannabis sativa e é utilizada principalmente no uso adulto. Quem utiliza a variação da cannabis diz que ela realmente tem cheiro e sabor de manga rosa.

Por causa do seu efeito energizante, é recomendada também como terapia para pacientes que precisam do alívio da cannabis, porém com energia e produtividade durante o dia. Por isso, é usada para combater o estresse, a falta de energia e dores crônicas.

No entanto, ela não é recomendada para pacientes com ansiedade, depressão ou outras condições da mente, pois as altas concentrações de THC podem agravar os sintomas e até causar paranoia.

Santa Maria

Mais conhecida como Planck, esta é uma das cepas originadas na Amazônia. Ela tem sido usada por gerações em rituais religiosos por todo o estado e também para fins medicinais.

Lá fora, ela foi cruzada com outras cepas europeias e, consequentemente, originou outras strains também.

A sua genética está mais para a sativa, e possui níveis moderados de THC. Contudo, sites especializados em strains garantem que ela possui efeitos poderosos da cannabis de tipo indica até no aroma.

Ela é bastante utilizada por suas propriedades entorpecentes, principalmente para quem sofre de dores, insônias e rigidez muscular.

Brazil Amazonia

Outra originada do norte do país é conhecida por surtir efeitos de forma rápida e repentina. Contudo, muitos garantem que isso gera uma onda de relaxamento que se espalha por todo o corpo.

Ela também é utilizada para manter o foco em múltiplas tarefas, sejam elas artísticas ou analíticas.  O que pode ser de grande ajuda para quem tem distúrbio de déficit de atenção.

As propriedades anti-inflamatórias também ajudam no alívio de dores crônicas, dores de cabeça e cólicas. Além de melhorar o humor.

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D- Gusta

Essa cepa é relativamente nova, nasceu lá em 2010 no Espírito Santo. Ela é fruto de um cruzamento com outras duas variações, a Cinderella 99 (C-99) e Chemdawg.

O seu principal efeito é ajudar a combater o estresse. No entanto, gera bastante fome, ou a famosa larica.

Segundo o seu “grower”, o aroma e o gosto são característicos das plantas que deram origem, com um gosto amadeirado e um cheiro de talco.

Ao contrário da boca rosa, essa variação não chega a um metro.

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Tainara Cavalcante

Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.