Hoje, mãe e filha fazem o uso da cannabis. Foram apenas poucas gotinhas para melhorar a qualidade de vida como um todo
Dona Maria do Socorro tem 82 anos e sofreu dois AVCs que comprometeu os dois lados do corpo. Há mais de 12 anos precisou conviver com uma cadeira de rodas, dores crônicas, espasmos e depressão profunda, além de outros problemas que ela já tinha, como diabetes, hipertensão e hipotiroidismo.
No entanto, que vê a idosa cantando e contando piadas atualmente, nem imagina que a aposentada passou por momentos em que desejou morrer. Por muitos anos não conseguiu dormir, estava sempre no pronto-socorro e tinha dores por todo o corpo.
Hoje, ela agradece pelas “plantinhas de Deus”, que cultiva em casa onde mora com junto com a filha Uilna Zélia (49) e não mede palavras para falar que usa maconha seja para quem for.
Uilna Zélia é a única filha entre vários irmãos. Quando a mãe adoeceu, a neuropsicopedagoga ficou encarregada de cuidar da mãe, enquanto os demais irmãos davam um suporte. A dona Maria do Socorro sofreu dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e ficou em coma por três meses.
Segundo os médicos, ficaria em estado vegetativo, mas não foi isso o que aconteceu. “Esse diagnóstico eu nunca aceitei. Sempre corri atrás de muitas terapias, fiz muitos cursos, fui buscar conhecimento para tentar resgatar o máximo que eu conseguisse”, lembra a filha.
A aposentada até voltou a ficar consciente, mas não tinha qualidade de vida. As dores crônicas, espasmos e a depressão profunda, eram muito severas. Isso, sem contar que ainda tinha que lidar com outras comorbidades que já tinha, como diabetes, hipertensão e hipotiroidismo.
O número de pessoas com AVC têm aumentado tanto no Brasil quanto no mundo todo. Em nove anos, as internações cresceram quase 40% no Brasil. De 133 mil aumentaram para 185 mil, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Quando não mata, a doença pode deixar sequelas para o resto da vida, que podem ser graves ou incapacitantes. As mais frequentes são paralisias em partes do corpo, problemas na visão, na memória e na fala.
A espasticidade também pode afetar de 40% a 60% dos pacientes que têm um derrame. A condição provoca um estado constante de contração muscular principalmente nos braços e nas pernas, que associa a perda de mobilidade voluntária.
Segundo Uilna Zélia, esse era um problema presente na vida da mãe. A dona Maria do Socorro não dormia à noite por causa dos espasmos e os gritos eram ouvidos pelos vizinhos que constantemente batiam na porta para perguntar se estava acontecendo algo.
“Eu tinha que trabalhar e cuidar dela, a minha carga horária era 40 horas por semana, chegava em casa exausta e não dormia à noite. Já fiquei três dias sem dormir”, acrescenta a filha.
As coisas começaram a mudar em 2019, quando a neuropsicopedagoga começou a frequentar o curso de cannabis, que era realizado na Paróquia São Francisco de Assis, na zona leste de São Paulo, onde o famoso padre Ticão era um dos responsáveis.
O curso ficou famoso por ajudar várias famílias a entender um pouco mais sobre o tratamento com a cannabis. Infelizmente o Padre Ticão morreu no início de 2021 aos 68 anos.
Não demorou muito para que Uilna Zélia ouvisse os benefícios da cannabis bem como os relatos de pacientes e ficasse apaixonada pela terapia canábica.
Antes do curso, o padre Ticão costumava fazer rodas de conversa para que as pessoas pudessem compartilhar as suas histórias.
“Um belo dia o padre me viu chorando e me pediu para contar o que ela tinha e eu contei. Aí ele falou: ‘Você quer experimentar?’ E eu falei que nem sabia onde comprava. E ele falou: ‘Você quer ou não quer experimentar?’ Eu falei que gostaria e ele falou: ‘Então leva para a sua mãe e amanhã você me conta como é que foi’. O primeiro óleo da minha mãe foi pelas mãos do padre Ticão, isso eu nunca me esqueço”, lembra.
À princípio, a mãe não quis saber de tomar, disse que ia fazer mal. Uilna nem tinha dito que era cannabis, mas a mãe preferiu não apostar em mais uma medicação. Até então, a idosa já fazia o uso de 17 medicamentos controlados.
Demorou dois meses para que o extrato da planta fosse administrado pela dona Maria do Socorro. “Em abril ela teve uma crise severa de espasmos, a cuidadora ligou para mim por volta de 12h30 porque não tinha conseguido fazer a troca e nem se quer tirar ela da cama. Estava [a mãe] com as pernas muito duras e dizendo que o joelho estava doendo demais,”lembra.
Após um coquetel de injeções no pronto socorro, a própria aposentada perguntou do novo remédio. Foi apenas uma gota para que ambas pudessem dormir uma noite inteira após muito tempo.
A mãe ficou com receio de tomar o óleo sozinha, por isso, Uilna disse que tomaria com ela. Ambas acordaram no outro dia, quase uma hora da tarde. A filha acordou assustada com o feito, mas ainda tinha mais coisas para acontecer.
Antes, a dona Maria do Socorro não conseguia nem ficar sentada na cadeira de rodas sozinha. Era necessário amarrar os braços, as pernas e até a cabeça para mantê-la ereta. Ainda assim, por causa da rigidez, a cabeça sempre estava virada para o chão, mesmo pressionando para frente. Mas neste dia, parece que alguma coisa mudou.
Ao chamar a mãe no dia seguinte ao uso do óleo, Uilna percebeu que a voz da mãe estava calma e serena. “Chamei e perguntei se estava bem, ela falou que estava ótima. ‘Nossa tô me sentindo tão leve!’ Perguntei se estava com dor na nuca, pois tudo começava pela nuca: ‘Não, meu pescoço ta molinho”.
Quando a neuropsicopedagoga colocou a mãe na cadeira de rodas, ela virou o pescoço para trás e disse: “Meu Deus, estou vendo o teto da minha casa pela primeira vez depois de estar morando aqui há mais de oito anos!”
Ambas choraram com o ocorrido, mas foi um choro diferente do que estavam acostumadas. Foi um choro de alegria.
A cannabis tem se mostrado uma opção de tratamento que ajuda a relaxar os músculos. Em estudos que envolvem doenças que causam a condição, o fitofármaco serviu de aliado para combater a rigidez muscular, inflamação que contribui para danos nos nervos e claro, os espasmos.
Isso porque ela trabalha no Sistema Endocanabinoide, um sistema que funciona a nível celular e ajuda a equilibrar várias funções do nosso corpo. Este sistema também influencia o sistema nervoso central, por isso é tão eficaz em doenças neurológicas.
Hoje é possível encontrar relatos de pessoas que conseguiram controlar os espasmos através da cannabis. Um exemplo disso, é a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
A parlamentar teve um acidente de carro há 25 anos e ficou tetraplégica. Foi a cannabis medicinal que a ajudou na recuperação, e no seu bem estar hoje. A planta foi eficaz no controle dos espasmos musculares e na recuperação de alguns movimentos do pescoço.
Um estudo publicado em 2018 na revista The Lancet Neurology mostrou que o Mevatyl, remédio feito com a cannabis, pode ser de grande ajuda para doenças neuromotoras.
A pesquisa, realizada na Itália, mostrou que o medicamento pode servir até mesmo para organismos que são resistentes a remédios convencionais, controlando a dor e a espasticidade.
O remédio foi feito para tratar Esclerose Múltipla, e foi o primeiro medicamento à base da planta a ser autorizado no Brasil.
A dona Maria do Socorro foi melhorando de forma rápida e não demorou muito para virar uma pessoa totalmente diferente. Os seus espasmos diminuíram de forma progressiva, voltou a falar melhor, a ter uma postura, a sua cognição melhorou, as dores e a rigidez também sumiram.
“Se antes ela pedia pra morrer, hoje ela pede para viver, para fazer bolo de aniversário,ir para casa de amigos, fazer festa”, complementa.
Por outro lado, o receio de contar para os médicos e até para a família, eram enormes. Com a família toda evangélica, o medo de impedirem a continuação do tratamento era grande.
Até um dia ser descoberta. Nas suas férias, a neuropsicopedagoga viajou e deixou a mãe na casa de um dos irmãos, que teve uma emergência e precisou levá-la de volta para casa. Na época, Uilna Zélia estava cultivando clandestinamente, por isso, as flores estavam na cozinha por causa da luz que entrava pela janela.
“O telefone toca e o meu irmão diz que precisa levar a mãe e que estava chegando na minha casa” Lembra. Zélia estava na praia e iria demorar pelo menos, duas horas para voltar.
Quando a filha chegou, o irmão já estava em lá e perguntou se era verdade que ela estava dando maconha para a dona Maria do Socorro. Ela explicou a situação e esperava pelo pior, mas não foi o que aconteceu.
“Ele falou isso aquilo era coisa de Deus. Quando ele falou isso, nossa, eu renasci.” Lembra. O filho também havia percebido a melhora da mãe, pois ela estava diferente. Não se queixava mais, não chorava, cantava e até contava piadas.
Mas contar para os médicos também foi complicado. Ela demorou três meses para tomar coragem e contar para a equipe domiciliar sobre o uso do óleo, bem como a médica que acompanhava a mãe.
“Hoje a médica é minha amiga, mas na época ela quase me crucificou. Depois de bastante conversa , convites para ela conhecer o curso, ela começou a compreender e hoje me respeita muito, mas cheguei a ser ameaçada.”, recorda Uilna.
Hoje, até a filha faz uso da cannabis para tratar alguns bicos de papagaio e hérnias de disco que, apesar de incômodos, não atrapalham mais a sua vida.
‘Nem a Mega Sena acumulada não me traria tanta alegria quanto a paz que eu tenho hoje’
Hoje, a história -e até o prontuário – de dona Maria do Socorro viraram referência para os médicos.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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