Roupas feitas de cânhamo são sem dúvidas mais sustentáveis, mas a burocracia em trazer os tecidos para o Brasil pode aumentar os custos de produção
Cada vez mais as marcas têm levado a sustentabilidade para as suas roupas, como a substituição do plástico por materiais biodegradáveis e a utilização de tecidos renováveis como o cânhamo.
Trata-se de uma subespécie da cannabis com menos de 0,3% de THC (tetrahidrocanabinol), substância que gera a famosa “alta” da maconha. O caule da planta tem sido uma opção para a fabricação de têxteis porque consome menos água e é três vezes mais resistente que o algodão.
Insumo que transformou-se em um diferencial em para alguns negócios, como a empresa Kaule, que utiliza não só o cânhamo como matéria-prima, mas também o bambu.
“São roupas duradouras, com mais de 10 anos de vida. Depois é possível plantá-la, pois a roupa vira compostagem, adubo, são tecidos cíclicos, tem um começo e um fim”, diz a idealizadora do projeto Amanda Medeiros.
Por outro lado, não é muito fácil empreender com o foco em tecidos de cânhamo no Brasil. Com o cultivo proibido, é necessário importar o tecido já pronto de países legalizados, como os Estados Unidos.
Mas como acontece em vários casos, há o famoso imposto sobre a importação, que pode chegar a 60% do valor total da compra. Isso sem contar com outras taxas, como ICMS, CONFINS, SISCOMEX, IPI e PIS, que podem aumentar ainda mais o valor pago no final.
Desde a pandemia de COVID-19, o governo até reduziu o valor de alguns desses impostos, chegando a zerar alguns deles. Mas parece que isso não ajudou muito.
De acordo com Medeiros, em uma pequena importação esporádica, a empresa foi taxada em R$3 mil reais ao trazer apenas 20 metros de tecido de cânhamo ao Brasil.
Segundo o advogado Gabriel Pietricovsky, isso acontece porque os têxteis de cânhamo não admitem redução temporária do imposto sobre importações, por isso, somando todas as taxas de importação, sem a redução de nenhuma delas, o valor da importação fica alto.
“Devido ao ‘efeito cascata’ dos impostos, onde um imposto é calculado com base no valor já incluindo outros impostos (como é o caso do ICMS), a carga tributária pode ser ainda maior do que a soma das alíquotas individuais desses impostos. Isso é o que frequentemente leva à percepção de que a carga tributária é alta.” Acrescenta o advogado.
Por causa de todas essas tributações, o valor final das peças de cânhamo não são tão acessíveis, o que diminui as chances de roupas mais sustentáveis no Brasil.
Por isso, de acordo com a idealizadora da Kaule, o melhor caminho seria o cultivo em solo nacional. Além de concentrar as transações apenas no país, o plantio também garante a geração de empregos e uma nova forma de insumo, uma vez que o uso do cânhamo também é útil na criação de bioplásticos e até biocombustíveis.
Desde 2015, um dos objetivos do Projeto de Lei 399/15 é justamente criar uma nova indústria com a planta, tanto para o uso farmacêutico quanto medicinal.
A proposta foi aprovada em uma comissão especial, mas voltou para a discussão em todo o plenário da câmara dos deputados e espera o presidente da casa, Arthur Lira (Progressistas), colocar em votação.
Enquanto a legislação não vem, a cannabis é aprovada apenas para fins medicinais e só pode ser comprada com receita.
Atualmente, ela pode ser adquirida através de importações, nas farmácias e até por associações de pacientes.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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