Afinal, é de boa usar cannabis na gestação?

Afinal, é de boa usar cannabis na gestação?

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Faltam estudos que atestem com segurança, mas uma farmacêutica pós graduada em cannabis e homeopatia dá palestra defendendo uso responsável

Uma das maiores crenças do senso comum é a de que mulheres grávidas não podem fumar maconha porque isso pode atrapalhar a gravidez. Estudos indicam que o uso recorrente de cannabis pode acarretar em problemas na formação do feto, possibilidade de aborto e outras complicações. 

No entanto, a farmacêutica Renata Monteiro, diretora do Instituto Jurema, defende o contrário. 

Em sua palestra na II CICMED (Conferência Internacional de Cannabis Medicinal), que aconteceu nos dias 4 e 5 de agosto em São Paulo, a farmacêutica defende que a terapia canábica é uma prática ancestral, que usa a planta desde a gestação até a hora do parto. 

Pós-graduada em Cannabis medicinal, Homeopatia e Cosmetologia, Renata presta consultoria em terapias ancestrais, psicodélicas e práticas complementares.

Segundo a farmacêutica, a maioria dos estudos que não recomendam o uso da cannabis durante a gravidez tem interferências de outras substâncias. 

“Na verdade, são feitos com mulheres que também usam o álcool, o cigarro, o crack, a cocaína. São poucos os estudos feitos com mulheres que utilizam só a cannabis.” 

Para seu argumento, Renata recorre a uma pesquisa etnográfica feita na Jamaica, com mulheres habitantes de uma comunidade rural que só usavam a cannabis e nenhum outro tipo de substância. O estudo mostrou que as mães que utilizavam a cannabis durante a gestação não tiveram filhos com baixo peso e má formação. 

“Elas só usavam cannabis e tinham uma alimentação saudável e, ao contrário do que se esperava, tiveram crianças mais ativas, mais saudáveis, mais atentas que as outras crianças.” 

Para a profissional, a má formação e o baixo peso estão associados a outros fatores, mostrando a cannabis como uma substância segura.

Sistema reprodutivo feminino tem muitos receptores endocanabinoides

Para Renata Monteiro, a segurança se justifica em dois velhos conhecidos da medicina canábica: o sistema endocanabinoide e a anandamida, um neurotransmissor responsável pela sensação de felicidade.

“O sistema endocanabinoide tem receptores pelo corpo inteiro, inclusive na região ginecológica, desde a vulva, do útero, da vagina… Estes receptores estão completamente ligados à produção embrionária, ou seja, desde a produção do embrião”, alega a farmacêutica.

Já a anandamida está ligada aos primeiros estágios da gestação, que Renata chama de  “percurso do embrião até o útero”, pois o neurotransmissor facilita o recebimento do embrião pelo órgão. No entanto, Renata lembra que a produção de anandamida é reduzida assim que o embrião se aloca, e só será importante novamente nos momentos finais da gestação.

 “Quando vai chegando no final da gestação, a mulher tem uma produção muito maior de anandamida, e por isso que é boa a utilização [da cannabis] na hora do parto, porque vai ajudar nas contrações.”

Mas em palestra, Renata pondera, recomendando a reposição de canabinoides no organismo apenas caso haja deficiência no sistema endocanabinoide da mulher. “Não tem porque utilizar se não tiver problemas de saúde”.

Endocanabinoides já estão naturalmente presentes no leite materno

Desde que o sistema endocanabinoide foi descoberto, sabe-se que ele está presente em todos os mamíferos. Só não se sabe ao certo se esta presença tem um motivo ou se é apenas coincidência.

O fato é que o leite materno possui endocanabinoides e, segundo Renata, “a primeira coisa que o bebê faz ao se alimentar da mãe é estimular seu próprio sistema endocanabinoide”.

Além disso, a conexão entre mamãe e bebê através da amamentação ajuda no desenvolvimento biológico do bebê. Além de estimular a apetite, os endocanabinoides passados de mãe para filho podem proteger os neurônios do cérebro que está se formando.

No entanto, a AAP (Associação Americana de Pediatria) orienta que mulheres grávidas ou em período de amamentação não devem consumir maconha, pois traços do THC podem aparecer no leite.

Outro estudo diz que o leite materno de usuários de maconha não prejudica a saúde a curto prazo de bebês prematuros, mas os efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos.

“Por esse motivo, continuamos a recomendar fortemente que as mulheres evitem o uso de maconha durante a gravidez e enquanto amamentam seus bebês. Nosso estudo, no entanto, forneceu algumas notícias tranquilizadoras em termos de efeitos de curto prazo na saúde. Isso definitivamente indica que mais pesquisas são necessárias nessa área para ajudar a fornecer mais orientações às mulheres e aos médicos” diz Natalie L. Davis, ​​autora do artigo e professora associada de pediatria na Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos EUA.

Consulte um profissional

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

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