A polêmica proibição de snacks por conter sementes de cânhamo

A polêmica proibição de snacks por conter sementes de cânhamo

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

“Cânhamo é cannabis”, diz a agência antidrogas de Singapura para justificar a medida

O Departamento Central de Narcóticos (Central Narcotics Bureau) de Singapura está empenhado em sua cruzada  contra a cannabis e ordenou a retirada de comercialização de um lanche que contém sementes de cânhamo entre seus ingredientes.

A agência antidrogas singapurense diz que contatou a empresa que importou o Piranha Power Pack Nuts e solicitou que o alimento fosse retirado das máquinas de venda automática.

O produto é um snack de nozes, grãos e ervas contendo soja e farinha de sementes de cânhamo. A descrição no site da empresa também ressalta as propriedades nutricionais do alimento como boa fonte de ômega-3 e proteínas.

“O nome botânico da planta do cânhamo é Cannabis sativa. Em outras palavras, cânhamo é cannabis”, disse a agência em um comunicado. “Isso significa que todas as proteínas, fibras, sementes, óleos etc. derivados da planta do cânhamo são derivados da planta Cannabis sativa.”

Tolerância zero

A cannabis e seus derivados estão listados como substâncias controladas na mais rígida classificação da desatualizada lei de drogas de Singapura, promulgada em 1973. “Singapura adota uma política estrita de tolerância zero em relação a drogas controladas”, observa o CNB.

O país tem uma das leis de drogas mais rígidas do mundo. A posse ou consumo de cannabis pode resultar em até 10 anos de prisão, além de uma possível multa de US$ 20.000 (mais de R$100.000).

O comércio, importação ou exportação de 330 g a 500 g pode resultar em prisão perpétua — o tráfico de mais de 500 g resulta em pena de morte.

A regra é jogar fora

“Quaisquer produtos derivados da planta Cannabis sativa ou de suas sementes podem conter drogas controladas como o THC, apesar dos rótulos dos produtos indicarem o contrário”, alerta erroneamente a agência, que contesta todas as evidências científicas sobre as propriedades terapêuticas da maconha.

O CNB ainda diz que “quem comprou o lanche ‘Piranha Power Pack Nuts’ não deve consumi-lo, devendo descartá-lo” e insta o público a contatá-lo para “aconselhamento ou assistência se encontrar outros produtos alimentícios ou substâncias suspeitas de conter drogas controladas”.

Outros países dizem o contrário

Enquanto a cidade-estado do sudeste asiático insiste em promover a anticiência e manter uma lei de drogas desatualizada há quase 50 anos, o cânhamo vem sendo reconhecido por órgãos internacionais como uma cultura benéfica para a saúde e a economia.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicou recentemente um relatório onde reconhece que a cannabis é uma cultura versátil e polivalente e, “tendo em vista que suas raízes, flores e frutos, caules e folhas têm diversos usos medicinais, industriais e nutricionais, sua exploração pode gerar importantes benefícios agrícolas”.

Na Austrália, a Universidade de Southern Cross está conduzindo um projeto de pesquisa para desenvolver a indústria alimentícia de sementes de cânhamo do país.

O conhecimento produzido pela pesquisa estabelecerá as bases para a criação direcionada e as melhores práticas de gerenciamento para o benefício dos agricultores, da indústria do cânhamo e dos consumidores preocupados com a saúde, diz um comunicado da universidade.

“O cânhamo tem um enorme potencial como alimento e planta medicinal. As sementes são uma rica fonte de ácidos graxos essenciais ômega-6 e ômega-3 com benefícios para a saúde semelhantes aos do óleo de peixe, exceto que são veganos à base de plantas e não apresentam problemas de odor e preocupações éticas associadas a produtos de origem animal”, disse o professor Tobias Kretzschmar, que está à frente do estudo.

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