Foram apenas duas semanas para que os resultados do tratamento começassem a aparecer
Imagina você esquecer tudo sobre a sua vida aos poucos. De repente já não se lembra mais da sua casa, da sua família e começa até perder a noção de tempo e espaço. Morador de Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro, essa era a vida do seu Ivan, 80 diagnosticado com Alzheimer.
De acordo com a filha, Bruna Athaide, o diagnóstico veio em setembro do ano passado, mas a família já desconfiava da sua condição. O seu Ivan levantava no meio da noite para ir para a sua loja, que tinha no centro da cidade. Também passou a falar sozinho e não dormia quase nada.
Mas parece que desde janeiro deste ano, as coisas começaram a mudar. De repente o aposentado já passou a dormir a noite inteira, estava mais calmo e passou até a se lembrar de coisas que tinha se esquecido.
E parte dessa melhora veio de um único remédio: a cannabis.
No começo, Bruna Athaide não esperava que o pai tivesse Alzheimer. A princípio, a bióloga pensou que o esquecimento era consequência da idade, mas o problema é que outros sintomas também passaram a acontecer.
O seu Ivan não parava quieto, sequer se concentrava na televisão ou algum outro tipo de passatempo. Começou a ver coisas, ter alucinações e não reconhecia a própria casa em que morou a vida toda.
Por isso, o diagnóstico no ano passado foi certeiro. Além de ressonâncias e tomografias, o idoso também fez um teste neuropsicológico para não ter dúvidas de que era Alzheimer.
A condição é a doença neurodegenerativa mais comum dentre as demências e pode danificar as funções cerebrais, como perda de memória e linguagem. Mas ainda não se sabe o que provoca essa deterioração.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com demência em todo o mundo. E a estimativa é de que 152 milhões de pessoas serão afetadas até 2050.
Infelizmente, a doença não tem cura e o tratamento medicamentoso serve apenas para retardar os sintomas. Há até remédios em fase experimental que sugerem controlar a doença, mas nada muito concreto.
Antes da cannabis, o seu Ivan tomava algumas medicações para acalmá-lo das alucinações e para conseguir dormir, mas parece que isso não ajudava muito.
Ao ver o uso da cannabis para Alzheimer em grupos que participava, Bruna resolveu conversar com a médica responsável pelo seu pai. Com a prescrição em mãos, a filha não pensou duas vezes.
Não precisou nem de um mês para a família perceber a melhora. Em duas semanas, o idoso já tinha um outro comportamento.
“Só depois da cannabis que a gente foi ter noites de sono inteiras. Hoje ele dorme seis da noite e vai até o outro dia, dorme bem. Também acalmou. A gente consegue ver que ele está muito mais calmo, mais tranquilo, graças a Deus.” comenta.
Bruna conta que antes, o pai já não reconhecia mais a casa em que morava, por isso, queria ir embora a qualquer custo. Brigava, batia o pé e ficava parado no portão até tarde querendo sair.
Segundo a bióloga, hoje ele já senta e espera para passear de carro no fim de tarde, principalmente para buscar a sua neta, filha de Bruna.
“Tem dias que ela consegue brincar com ele, mas até pouco tempo ele não estava lembrando mais dela. Mas agora ele tá. Tanto que ele até fala: ‘vamos buscar a florzinha?’’, lembra a filha.
Atualmente, já há pesquisas que mostram os benefícios da cannabis para a condição, como um estudo realizado em 2016 pelo Centro de Saúde Mental da Universidade de Tel-Aviv, em Israel.
Os pesquisadores mostraram que o óleo de cannabis é uma opção segura e promissora para o tratamento de demências, auxiliando na diminuição de seus sintomas.
Considerando as importantes alterações comportamentais decorrentes da doença, os compostos da cannabis poderiam auxiliar na diminuição da ansiedade, agressividade e depressão entre os pacientes, resultando em uma melhora na qualidade de vida dos mesmos.
Apesar dos efeitos benéficos, o tratamento com cannabis medicinal não é barato. Cada seringa para o seu Ivan, custa mais de 200,00 ao mês. Dinheiro que é suprido pela família todos os meses, mas que aperta as contas também.
Por isso, Bruna pretende entrar com uma ação pela Defensoria Pública para que o estado possa custear o óleo de cannabis.
Processo que é praticamente igual às ações de fornecimento de medicamentos pelo governo de modo geral.
Leia também: O SUS é obrigado a pagar o meu tratamento com cannabis?
Medida que ficou ainda mais fácil depois do entendimento do Superior Tribunal Federal (STF) em março de 2020.
Pela maioria dos votos, o STF destacou que é constitucional o fornecimento pelo estado, em caráter excepcional, de medicamentos de alto custo que não constam na lista do SUS.
Por outro lado, você tem que praticamente provar que a cannabis é a única solução para o seu caso.
“Já devia fazer parte do SUS, pois as pessoas estão cada vez mais aderindo, mas não tem condições de manter a medicação. (…) Quantos autistas poderiam estar usando, quantas pessoas por aí poderiam usar para uma série de doenças, mas não usam porque não tem condição”, conclui.
Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar desde achar um prescritor até o processo de compra do produto.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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