Ouvi a frase que intitula essa coluna na última audiência pública que realizamos sobre Cânhamo Industrial e, olhando o resultado do relatório da ONU “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022”, ela faz ainda mais sentido.
Enquanto o mundo atravessa as crises sanitária e econômica, a fome cresceu no Brasil. São 61,3 milhões de pessoas vivendo sob insegurança alimentar. Mais de 15 milhões passam fome. O que isso tem a ver com cânhamo?
Subespécie da Cannabis Sativa, assim como a maconha, o cânhamo tem uma composição química diferente: baixíssimo teor da substância psicoativa chamada THC (tetrahidrocanabinol).
A planta, sem valor como droga recreativa, tem um enorme potencial comercial e industrial para as mais diversas indústrias, como a automotiva, de cuidado animal, de insumos agrícolas, mobiliário, têxtil, alimentação, de insumos farmacêuticos e cuidados pessoais. Mas é do setor alimentício que quero falar aqui.
Nosso país já é um grande consumidor de proteína vegetal, existe não só espaço como também a urgência de tratar o cânhamo como um caminho para a alimentação dos brasileiros, removendo a questão do limbo regulatório na qual se encontra.
A partir do grão da semente de cânhamo é possível produzir pão, granola, leite vegetal, proteína em pó e carne vegetal. Em relatório da consultoria Kaya Mind lemos que são mais de 680 produtos alimentícios derivados da semente e do grão de cânhamo.
Os estudos mais recentes sobre o potencial nutritivo das sementes apontam que se trata de um superalimento, com uma composição rica em proteínas e em gorduras saudáveis, incluindo ácidos graxos (ômega-3 e ômega-6).
Estamos falando então de um alimento capaz de reduzir doenças cardiovasculares, câncer, artrite reumatoide, hipertensão, doenças autoimunes.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o cânhamo tem quase seis vezes mais proteína que a ervilha e três vezes mais cálcio.
É impossível olhar para esse potencial, contrastar com a realidade de um país em que mais de 60 milhões estão em situação de insegurança alimentar — não possuir acesso a alimentos saudáveis e que satisfaçam as necessidades dietéticas — e não achar absurda a inércia regulatória do país, que impede o acesso da população a um alimento.
Entender que a falta de uma regulamentação adequada nos empurra para uma perda ambiental, social e econômica (quantos empreendedores estão deixando de gerar emprego por não poderem tocar seus projetos no setor aqui?) É o primeiro passo para acelerar a discussão imperativa sobre o câmbio no Brasil.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Sérgio Victor
Sérgio Victor é deputado estadual pelo Novo, economista e administrador pela Bellarmine University, tem Master em Marketing pela ESPM-SP e é empreendedor. Coordena a Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial na Assembleia Legislativa de São Paulo e é co-autor do PL 1.180/2019, que insitui uma política pública estadual de distribuição de produtos à base de cannabis pelo SUS.
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