A afirmação de que o uso de maconha causa uma “ressaca” no dia seguinte que compromete a cognição e o desempenho de tarefas sensíveis à segurança não é sustentada pela literatura científica.
Isso foi o que descobriu uma equipe de pesquisadores australianos ao realizar uma revisão sistemática dos estudos científicos que investigaram os efeitos do THC (tetrahidrocanabinol) no “dia seguinte”.
Os cientistas da Iniciativa Lambert para a Terapia Canabinoide, da Universidade de Sydney, avaliaram 20 estudos publicados sobre o efeito que o THC deixa nos usuários mais de oito horas após o uso e encontraram poucas evidências de comprometimento.
“Um pequeno número de estudos de qualidade inferior observou efeitos negativos (ou seja, prejudiciais) do THC no dia seguinte na função cognitiva e em tarefas sensíveis à segurança. No entanto, estudos de alta qualidade e uma grande maioria de testes de desempenho não o fizeram”, escreveram os autores. “No geral, parece haver evidências científicas limitadas para apoiar a afirmação de que o uso de cannabis práejudica o desempenho no dia seguinte.”
Entre os 345 testes de desempenho administrados nos estudos, apenas 12 deles (3,5% do total) realizados em cinco artigos demonstraram deterioração significativa no dia seguinte após o uso de tetrahidrocanabinol.
No entanto, nenhum desses cinco estudos usou projetos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo e todos foram publicados há mais de 18 anos (quatro, há mais de 30 anos).
“Não podemos comentar sobre a magnitude desses efeitos porque eles não foram bem relatados”, disse a Dra. Danielle McCartney, principal autora da revisão. “Eles não pareciam estar associados a uma dose específica de THC, via de administração de THC ou tipo de avaliação.”
Os pesquisadores destacam que os efeitos do uso de álcool no dia seguinte também receberam alguma atenção científica.
Uma meta-análise recente mostrou que a “ressaca alcoólica” teve um efeito prejudicial pequeno a moderado no desempenho cognitivo (por exemplo, atenção sustentada, velocidade psicomotora, memória de curto/longo prazo).
“Os efeitos do uso de THC no ‘dia seguinte’ não puderam ser quantificados nesta revisão, pois os estudos muitas vezes falharam em relatar as informações necessárias para calcular uma estimativa de efeito”, escreveram. “No entanto, o pequeno número de efeitos significativos observados sugere que é improvável que uma ‘ressaca’ de tetrahidrocanabinol seja mais prejudicial do que uma ressaca de álcool, que geralmente é tolerada entre motoristas e indivíduos empregados em posições sensíveis à segurança.”
As leis sobre direção sob a influência de drogas e locais de trabalho com tarefas sensíveis à segurança são rígidas quanto aos efeitos do THC, mas carecem de testes de maconha que tenham a mesma assertividade de um bafômetro de álcool.
As concentrações de tetrahidrocanabinol no sangue e fluido oral ou na respiração são indicadores relativamente baixos ou inconsistentes de comprometimento induzido por cannabis.
“As pessoas estão sendo aconselhadas a não dirigir ou realizar outras tarefas sensíveis à segurança por 24 horas após o uso de cannabis. No entanto, encontramos poucas evidências para apoiar essa recomendação”, disse McCartney.
Os autores advertem em seu artigo que os formuladores de políticas devem ter em mente que a implementação de regulamentações muito conservadoras sobre o local de trabalho pode ter consequências graves, como rescisão do contrato por um teste de drogas positivo, e afetar a qualidade de vida das pessoas, que acabam se abstendo do uso de cannabis em seu tratamento de saúde por medo de um exame toxicológico no trabalho ou teste de drogas na estrada.
Em um esforço para entender melhor o entorpecimento por maconha e, em última instância, melhorar a legislação relacionada, pesquisadores apoiados pelo Instituto Nacional de Justiça dos EUA estudaram como doses específicas de cannabis e métodos de administração (oral ou vaporizada) afetam os níveis de tetrahidrocanabinol no corpo e como isso se correlaciona com o desempenho em testes de comprometimento.
Os resultados demonstraram que, embora o THC tenha demonstrado afetar áreas do cérebro que controlam o movimento, equilíbrio, coordenação, memória e julgamento, os níveis de tetrahidrocanabinol nos fluidos não eram indicadores confiáveis de entorpecimento por maconha para os participantes do estudo.
Para doses de THC vaporizadas acima de 5 mg, os efeitos cognitivos e psicomotores máximos foram observados de zero a duas horas após a administração e voltaram à linha de base após quatro horas.
Os participantes que fizeram uso oral de tetrahidrocanabinol apresentaram efeitos cognitivos e psicomotores uma hora após a administração e os efeitos de pico cerca de cinco horas após a administração. O funcionamento cognitivo e psicomotor dos indivíduos retornou à linha de base oito horas após a administração oral.
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Smoke Buddies
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