A cannabis foi o único tratamento que efetivamente deu certo e não causou efeitos colaterais. Mas a maior dificuldade foi achar quem prescrevesse
O servidor público Erick Aguiar, de 42 anos, passou a ter insônia há alguns anos. Além da falta de sono, ele também sentia o peito apertar e suas noites eram intermináveis. Passou a tomar uma série de remédios, mas a sua situação não melhorou.
Aguiar também temia pelos efeitos colaterais. Embora os remédios para dormir possam ajudar de alguma forma, também podem desencadear uma série de reações adversas, como lentidão, tontura, dificuldade de concentração e muito mais.
Foi preciso mais de um ano nessa agonia para que um amigo com ansiedade falasse sobre o tratamento com a cannabis. Sem receio ou preconceitos sobre o assunto, ele não pensou duas vezes em tentar o tratamento.
E os resultados vieram de forma rápida. “ Eu tomei e realmente melhorou muito nesse ponto, até mais durante o dia do que a noite (…) a dor no peito também sumiu completamente”, disse.
Hoje, o servidor público usa cerca de 30 gotas de CBD (canabidiol) todos os dias e não tem nenhum efeito colateral. “Na verdade, só tenho efeitos positivos”, comenta.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 11 milhões de brasileiros utilizam algum tipo de medicação para conseguir dormir. Para se ter uma ideia, só entre janeiro e setembro de 2023, as farmácias compraram mais de 90 milhões de caixas de remédios contra a insônia.
A quantidade de remédios revelada pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos, ainda mostrou que o Zolpidem é o mais famoso deles. Contudo, estudos mostram que o remédio pode trazer problemas a curto e a longo prazo.
De acordo com um estudo desenvolvido pelo American Journal of Public Health em 2015, o remédio pode trazer duas vezes mais chances de alguém se envolver em um acidente de carro. Parece que ele afeta a concentração de forma semelhante ao álcool.
Não é incomum que remédios para dormir como o Zolpidem também cause sonolência, dependência, sonambulismo e até alterações na memória.
Em 2021, quando o servidor público pensou em tentar a cannabis medicinal, a dificuldade maior foi encontrar um profissional que prescrevesse. Aguiar precisou passar por três médicos para poder encontrar um tratamento ideal.
“Não é todo mundo que prescreve, os médicos morrem de medo (…) eu tive que passar por uns três médicos, o primeiro deles me passava uma dosagem tão pequena que não dava para nada”, complementa.
O servidor público começou a utilizar o óleo de uma associação, a forma mais acessível que conseguiu achar para obter o produto na época.
Embora a cannabis seja usada por mais de 400 mil pacientes hoje, a comercialização é relativamente recente. Para se ter uma ideia, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só permitiu a venda nas farmácias no final de 2019.
Contudo, os primeiros produtos não saíam por menos de R$2 mil. “Na época que eu comecei, era impossível, inviável financeiramente falando”, disse Aguiar.
Com o número de pacientes aumentando e a flexibilização da Anvisa para a importação dos produtos, mais marcas passaram a investir no setor no Brasil, o que facilitou ainda mais o uso.
O valor começou a diminuir. De quase R$400, o servidor público paga hoje em dia cerca de R$300 ao mês para trazer de fora. “Não dá para dizer que é barato, mas deixou de ser inacessível”, completa.
Por outro lado, o remédio passou a ser indispensável. Se Aguiar deixar de tomar a cannabis por um tempo, os sintomas voltam a acontecer.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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