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Histórias Reais

Da espingarda ao motorzinho! Dentista prescritor conta como chegou até a cannabis



25/10/2022


Como o fracasso de um suicida canadense influenciou um dentista brasileiro ao tratamento odontológico com cannabis?

Fabio Luiz Novacki apresentando um trabalho acadêmico sobre Cannabis medicinal. Foto: Arquivo pessoal

No final dos anos 1990, em uma cidade de menos de 10 mil pessoas da província de Nova Escócia, no oeste do Canadá, um homem punha uma espingarda na boca como último recurso para aliviar seu sofrimento. A angústia era causada por uma terrível dor crônica de cabeça, sequela de um acidente de trabalho que quase tirou sua vida, fazendo com que um apito permanente ecoasse em sua cabeça, não o deixando dormir. 

Foi quando uma epifania o impediu de apertar o gatilho. O canadense Rick Simpson lembrou de uma reportagem em tom jocoso que ouviu no rádio 20 anos atrás. A matéria gozava de uma descoberta importante: o THC, um dos canabinoides encontrados na cannabis, poderia curar o câncer.

Esta “revelação” salvou a vida de Rick. Seus neurônios fizeram as sinapses e ele pensou: “Se quando fumo cannabis sinto pequenos alívios, talvez se eu concentrasse seus componentes num óleo e tomasse seria o baque necessário pra poder descansar apropriadamente.”

Dito e feito.

Rick Simpson encostou na parede a espingarda e começou a trabalhar no RSO, ou Rick Simpson Oil, um óleo medicinal caseiro à base de cannabis, rico em THC, usado para o tratamento de diversas doenças. 

Leia também: Você sabe qual a diferença entre o CBD e o THC?

Corta para 2022.

O dentista Fábio Luiz Novacki Barbosa, 27, atende casos de dor relacionados ao bruxismo, em Curitiba. O primeiro contato do dentista com a cannabis medicinal foi em 2012, depois de ser impactado pela história de Rick Simpson.

“Eu assisti o documentário sobre o Rick e os resultados que vi no filme não saíram da minha cabeça! Não tinha nenhuma experiência com a terapia, e sim, eu tinha minhas dúvidas se realmente funcionava.”

Apesar dos questionamentos, a curiosidade de Fábio superou o preconceito.

Formado em 2018, hoje é mestrando em periodontia e sua linha de pesquisa é relacionada aos canabinoides usados em terapias regenerativas.

No começo o dentista teve que enfrentar preconceitos na comunidade médica acadêmica.

“Quando comecei a me expor sobre o tema, houve muito tabu e deboche sobre eu tratar os meus pacientes com Cannabis. Fui chamado de Dr. Maconha e recebi algumas críticas sobre eu estar ‘chapando’ meus pacientes.”

Mas o conhecimento era o que protegia Fábio do raio recalcado de seus colegas.

“Meu escudo sempre foram os artigos científicos que já existiam. Eu debochava junto e esperava que o tempo respondesse às críticas.”

Hoje o conhecimento de Fábio se aprofunda a cada descoberta.

“O sistema endocanabinoide é um grande modulador do metabolismo ósseo, e surgiram vários questionamentos sobre a aplicabilidade dentro da minha área como cirurgião. Comecei a aplicar na minha prática em 2019 e percebi que realmente havia benefícios inquestionáveis em pacientes pós cirúrgicos.”

A pesquisa de mestrado de Fábio segue de vento em popa.

 

“Meus professores hoje me acham genial e super me apoiam! Estou criando linhas de pesquisas abrangendo outras  patologias tratáveis e incentivando colegas a pesquisarem outros temas, além de ajudá-los nas linhas pesquisas.”

Para o dentista, só a ciência é capaz de quebrar tabus oriundos da ignorância.

Consulte um médico 

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que poderá te orientar de forma específica e inclusive, indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar desde a achar um médico prescritor até o processo de importação do produto. Clique aqui.

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Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.