O tratamento com cannabis não é apenas uma medicação para melhorar uma doença em momentos esporádicos. É uma mudança de vida a longo prazo e que pode atender diferentes tipos de pessoas, pensando na melhora da qualidade de vida combinada à boa alimentação e prática de exercícios físicos, por exemplo. Por isso, terapia canabinoide é uma abordagem completa, que pode tratar uma ou mais patologias com medicamentos naturais e menos efeitos colaterais.
De acordo com o último anuário da Kaya Mind, empresa brasileira especializada em dados sobre a cannabis, cerca de 187 mil pessoas já fazem o tratamento com a planta. Este resultado é referente aos dados coletados em 2022. Certamente o número é maior, tendo em vista que, segundo a Anvisa, a importação dos produtos cresceu 93% entre junho de 2021 e junho de 2022. No total, as importações saltaram de 58 mil para mais de 112 mil.
Mas por que esse tratamento vem se popularizando nos países que já permitiram o uso medicinal da planta? Em entrevista ao G1, a psiquiatra e presidente da Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia (AMBCANN), Dra. Ana Gabriela Hounie, afirmou que a terapêutica tem amplo espectro de utilização em patologias neurodegenerativas, como demências, Doença de Parkinson, esclerose múltipla e outras. Ela também explica que embora os estudos ainda sejam poucos, “as famílias testemunham as mudanças dos pacientes.”
A cannabis tem mais de 500 compostos químicos que, combinados, podem exercer diferentes efeitos no organismo. Para usos medicinais, o mais estudado deles é o canabidiol (CBD), por suas propriedades terapêuticas, anti-inflamatórias, ansiolíticas e relaxantes. O tetrahidrocanabinol (THC), que é famoso pelos efeitos psicoativos da planta, também pode trazer benefícios para algumas condições de saúde, se aplicado em quantidades baixas. Além deles, outras substâncias podem ser usadas, como o canabinol (CBN) e o canabigerol (CBG). Combinar todos os componentes causa o chamado efeito entourage, que potencializa a intensidade do tratamento.
O canabidiol possui ação analgésica, antioxidante, ansiolítica e até mesmo antidepressiva, podendo ser uma solução para substituir alguns fármacos convencionais que causam efeitos colaterais adversos, como a dependência. Além disso, ele é um bom estimulante ósseo e tem efeito imunomodulatório, ou seja, acelera a resposta do organismo para combater vírus, bactérias e doenças em geral. Dessa forma, hoje ele é sem dúvidas o componente da planta mais usado para fins medicinais.
Já o THC vem sendo descoberto como outra solução para tratar algumas condições de saúde, geralmente acompanhando outros canabinoides. Trata-se de um relaxante muscular que também possui propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Combinado com o canabidiol, pode ter papel fundamental para regular a dopamina, substância responsável pelas emoções e pelo humor – e também é uma opção para estimular a fome.
É importante ressaltar que o THC em excesso traz os efeitos psicoativos da cannabis, e suas formulações terapêuticas possuem dosagens baixas. Geralmente os produtos que chegam ao Brasil possuem até 0,3% da substância em sua composição, medida que é permitida pela Food and Drug Administration (FDA), semelhante à Anvisa dos Estados Unidos.
Uma peça-chave para entender as interações da terapia canabinoide é o Sistema Endocanabinoide. De acordo com a médica e especialista em cannabis medicinal, Dra. Paula Dall’Stella, é possível explicá-lo pensando na estrutura da palavra. ‘Endo’ significa “produzido dentro de algo”, no caso de um organismo; enquanto canabinoides são os componentes que fazem esse sistema funcionar. Em linhas gerais “é como se esse sistema fosse uma comunicação entre o cérebro e o corpo humano”, explica a médica.
É comum ouvir que “temos cannabis dentro de nós”, porque o organismo humano tem propriedades que podem ser encontradas de forma similar na planta. O cérebro tem receptores que levam as informações para o restante do corpo. Os mais comuns são CB1 e CB2, responsáveis pela sensação de fome, de ansiedade e do humor, por exemplo.
O CB1 realiza a absorção dos canabinoides para todo o corpo, influenciando no apetite, na memória e na percepção das emoções. Normalmente esse receptor já faz isso, uma vez que ele está dentro do corpo humano, mas quando uma pessoa ingere produtos à base de cannabis, o processo é acelerado. Enquanto isso, o CB2 age diretamente nos sistemas nervoso central e imunológico, podendo identificar incômodos no corpo, como ferimentos e doenças. Assim, os canabinoides também estimulam a resposta do organismo para se “autoproteger”.
Para fornecer esse suporte existem ainda os endocanabinoides, também chamados de canabinoides endógenos. Estes são responsáveis por alertar os receptores quando algo está fora do controle, e consequentemente, ativar a função destes receptores. As respostas imunológicas geradas pelo Sistema Endocanabinoide são uma serventia para tratar diversas patologias.
Em abril de 2023, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou uma Nota Técnica que aborda as evidências científicas já registradas sobre tratamentos com derivados de cannabis. Segundo os pesquisadores da instituição, as pesquisas apresentam diferentes níveis de evidência, ou seja, para algumas condições de saúde há mais bases científicas do que outras.
Também destacam que alguns resultados são conclusivos e apontam a eficácia dos canabinoides na redução de sintomas, bem como na melhora do quadro de saúde para dores crônicas, espasticidade, transtornos neuropsiquiátricos, vômitos e perda de apetite ligados ao tratamento com quimioterapia. A Fiocruz afirma que mais estudos devem ser feitos no Brasil e no mundo para comprovar que o tratamento com cannabis é eficaz e seguro.
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