A planta possui cerca de 500 substâncias, incluindo canabinoides, terpenos e flavonoides, que podem ser usadas em diversos tratamentos
Formulações com derivados da cannabis variam a depender da necessidade de cada paciente. Isso quer dizer que um produto indicado para autismo, por exemplo, não terá necessariamente os mesmos compostos que um usado para dor crônica.
Para um tratamento seguro, é imprescindível que a escolha dessa medicação seja feita por um profissional de saúde. Inclusive, tratar-se com cannabis no Brasil só é possível com prescrição.
Mas antes de chegarmos nessa parte, vamos entender o que tem nos produtos à base de cannabis.
Uma das características dessa planta é ter pelo menos 500 substâncias já conhecidas pela ciência. É comum dividi-las em três grupos: fitocanabinoides, terpenos e flavonoides.
Os fitocanabinoides foram descobertos na década de 1960 pelo cientista israelense Raphael Mechoulam. São substâncias psicoativas que podem fazer alterações no organismo. Os exemplos mais comuns são o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), conhecidos como fitocanabinoides maiores.
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Essa interação é possível porque o corpo também produz canabinoides, chamados endocanabinoides. Eles são responsáveis por regular a homeostase, ou seja, o restabelecimento do equilíbrio após situações que causem adversidades, como ferimentos ou doenças.
Já os terpenos são os componentes que criam o sabor e o cheiro característico da cannabis. Eles estão presentes em vários outros tipos de folhas, flores e frutos – e também podem proporcionar experiências medicinais.
Inclusive, os terpenos e a morfina (um tipo de opioide) têm potenciais similares de tratar dores crônicas, de acordo com um estudo publicado no International Association for the Study of Pain.
Esse grupo de substâncias é responsável sobretudo pela cor das cepas da cannabis, sobretudo das flores, com o objetivo de atrair polinizadores.
Além disso, os flavonóides têm um papel importante no aroma e no sabor da cannabis, pois compartilham funções sinérgicas com os terpenos.
Medicamentos com cannabis podem conter diferentes formulações, com todas as substâncias ou com apenas algumas delas.
No primeiro exemplo, os produtos são chamados de “full spectrum” (espectro completo). Estes contém níveis controlados de todos os canabinoides, incluindo o THC, que é o componente da cannabis associado à alta psicoatividade (uso adulto ou recreativo), e que também pode ser usado para fins medicinais.
O componente tem papel fundamental por promover o efeito entourage (ou comitiva). Entenda mais no vídeo abaixo.
Contudo, as quantidades são muito pequenas nos produtos medicinais, sendo praticamente incapazes de causar alterações na percepção.
Para ter uma ideia, os produtos importados dos Estados Unidos, por exemplo, seguem a legislação da FDA (órgão que cumpre papel semelhante à Anvisa). De acordo com a lei, as formulações devem ter no máximo 0,3% do componente.
No Brasil, os primeiros medicamentos aprovados pela Anvisa acompanham parcialmente essa regra. As opções disponíveis nas farmácias nacionais tem uma variação média de 0,2% a 0,3%.
Além disso, existem versões broad spectrum (espectro amplo) que combinam dois ou mais canabinoides, exceto o THC. Nestes casos, é possível encontrar produtos com CBD e CBG (canabigerol), por exemplo.
Leia mais: CBGA pode ser mais eficaz que o CBD em crises convulsivas, segundo estudo
E também há medicações com canabinoides isolados, que são dedicadas a casos específicos.
Ao pensar na cannabis medicinal, é comum pensar no óleo de cannabis, que é extraído da planta in natura.
Além disso, existem várias outras formulações possíveis, como gummies, pomadas, géis, cápsula e lubrificantes. Segundo o último anuário da Kaya Mind, empresa de dados sobre cannabis, já foram encontradas pelo menos 25 formas farmacêuticas no Brasil.
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Andrei Semensato
Jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Produz conteúdos sobre Política, Saúde e Ciência. Também possui textos publicados nos blogs da Cannect e Dr. Cannabis.
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