Morre Elisaldo Carlini, médico pioneiro em defender a maconha medicinal 

Morre Elisaldo Carlini, médico pioneiro em defender a maconha medicinal 

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O professor, que era fascinado por plantas, é conhecido internacionalmente por suas pesquisas e descobertas, principalmente sobre a cannabis e as suas propriedades anticonvulsivas. Saiba quem ele era

Morreu ontem (16 de setembro de 2020) aos 90 anos, o Professor da Universidade Federal de São Paulo, e também considerado pai da cannabis no Brasil, o Dr. Elisaldo Carlini. 

Foi ele quem descobriu as propriedades do canabidiol (CBD) no tratamento de convulsões como a epilepsia de difícil controle, e por 40 anos defendeu a cannabis medicinal aqui.

O professor, que dedicou a vida em pesquisas sobre os efeitos da cannabis e outras plantas, sofria com um câncer já em estado avançado, ele estava internado na UTI do hospital Albert Einstein na capital de São Paulo.

História

Elisaldo Carlini nasceu em Ribeirão Preto em 1930. Aos 22 anos, ingressou no curso de medicina na Escola Paulista de Medicina (EPM- Unifesp) em 1956. 

Depois, tornou-se professor do departamento de Farmacologia, além de fundar o departamento de Psicobiologia.

Mas o doutor se destacou mesmo depois que fundou o Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Foi daí que ele tornou-se um dos maiores especialistas sobre drogas e entorpecentes não só do Brasil, mas também do mundo.

O médico trabalhou ao lado de grandes nomes do mundo canábico, como o químico israelense Raphael Mecholaum, considerado patrono da cannabis medicinal. 

Suas descobertas sobre os efeitos anticonvulsivos do canabidiol na década de 1980 foram consideradas um marco na história, além de ajudar a disseminar as propriedades da cannabis.

Já ocupou o cargo de presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 1995 e 1997, quando era membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas. 

Nessa época, ele organizou os primeiros eventos sobre cannabis e até tentou criar a “Anvisa da Cannabis”, mas o projeto não foi aprovado.

Últimos acontecimentos na vida do professor

Em 2018, aos 88 anos, passou um episódio constrangedor. Ele foi intimado pela polícia a prestar depoimento por suspeita de apologia às drogas. O processo aconteceu por causa de um simpósio organizado pelo professor na Unifesp um ano antes, chamado “Maconha: outros saberes”.

Ele teve que entregar cópias da gravação do simpósio para a investigação.

No ano passado, mesmo com a doença avançada, o médico compareceu às audiências da Comissão Especial de Cannabis da Câmara dos Deputados e também falou sobre o Projeto de Lei 399/2015, que entre as principais propostas, visa o plantio no Brasil.

Existe até uma campanha para que a lei seja batizada com o nome do médico, caso seja aprovada.

Elisaldo Carlini também participou dos cursos feitos em uma paróquia da zona leste de São Paulo sobre cannabis medicinal. Liderados pelo padre Ticão, o curso já ajudou mais de 4 mil pessoas a conhecer e cultivar a cannabis para fins medicinais.

Honrarias

O professor foi citado cerca de 12 mil vezes em pesquisas científicas nacionais e internacionais e recebeu duas condecorações da Presidência da República pelo trabalho como pesquisador.

No ano passado, também foi selecionado como pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

As suas contribuições também foram destacadas pelo New York Times em julho de 2020.

Elisaldo Carlini deixou seis filhos e seis netos, além do seu legado.

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