Curso gratuito sobre cannabis medicinal já ajudou mais de 4 mil pessoas e está com inscrições abertas

Curso gratuito sobre cannabis medicinal já ajudou mais de 4 mil pessoas e está com inscrições abertas

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

O curso que também é online, dura seis meses e conta com a participação de profissionais e engajados na causa de todo o país.

Na zona leste de São Paulo, mais especificamente na Paróquia São Francisco de Assis, é realizado um curso sobre cannabis medicinal, no pátio da igreja. O conteúdo vai do básico, desde mostrar as propriedades da planta, até o cultivo e extração, e tem mudado a vida de muitas pessoas.

Uma delas é a Andreia Rodrigues, de 43 anos. Ela tem duas filhas gêmeas que são especiais. A Isadora é autista, tem epilepsia e também tem apneia do sono; e a Isabela também sofre com epilepsia, que começou depois de uma paralisia cerebral por erro médico.

Ela começou a entender os benefícios da cannabis medicinal através do curso. Logo depois da primeira aula, naquela mesma noite, ela deu o óleo para as filhas, que dormiram em 15 minutos. E desde então nunca mais deixou faltar.

Desde abril do ano passado, mais de um ano depois do uso diário,, as crises convulsivas diminuíram consideravelmente. Hoje as meninas conseguem dormir tranquilas. “foi uma bênção que Deus deixou para nós” complementa Andreia.  

Como o curso começou

 Em parceira com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o pátio da paróquia foi sede de um projeto chamado Escola de Cidadania, que tinha aulas abertas sobre vários temas, com direito a convidados e esclarecimento de dúvidas.

Em uma sexta-feira, comum, entre os vários temas sobre saúde que costumavam trazer, decidiram falar sobre cannabis. Abordando questões políticas, medicinais e até o preconceito. A aula aberta se desdobrou em mais três encontros, que cada vez ficavam mais cheios.

Gabi Dainezi, coordenadora do projeto, lembra que no final da terceira palestra, alguém levantou a mão e sugeriu que os encontros se transformassem em um curso, pois ainda estavam interessados no tema. “Então o padre pediu para todos que concordavam levantassem a mão, e foi aí que começamos o curso”. Complementa.

O padre Ticão também é ativista há 11 anos pela cannabis medicinal. Ele é presidente do Movimento pela Regulamentação da Cannabis Medicinal, que discute a legalização na câmara.

Logo na primeira edição foram 300 inscrições, a segunda deu um salto para 700, a terceira passou de mil e na quarta, o número dobrou para mais de duas mil pessoas. Com a pandemia, o último curso teve que ser online, o que atraiu pessoas também de outros estados.

As inscrições para o próximo semestre estão abertas desde o começo da semana e vão até o dia 20 de julho. As aulas iniciam no começo de agosto. Ele conta com diversos profissionais da saúde, como médicos e farmacêuticos e também engajados na causa.

“Estamos juntos na luta, nos debates políticos e nos movimentos pela regulamentação, mas não somos uma associação.  Nós somos um movimento (…) nós somos pessoas ligadas a familiares que tem família, que tem pessoas com necessidades, que precisam da cannabis.” acrescenta Gabi.

Um aumento no interesse pela cannabis medicinal

Falar de cannabis no Brasil ainda é um tabu, mas que está sendo desconstruído. Em 2016, 60% dos brasileiros conhecia e aprovava os benefícios medicinais da planta, o número saltou para 75% no ano passado.

O crescimento pode estar relacionado a quantidade de pacientes utilizando a planta, que também aumentou. Só para tratar epilepsia refratária, são pelo menos, cinco mil pessoas utilizando óleo de CBD e THC. Só em 2018, foram mais de 4.200 solicitações para o cultivo.

Na última edição do curso, mais da metade dos inscritos se declararam militantes da causa, mesmo sem ter um parente ou ser paciente. Isso mostra uma maior compreensão e um interesse cada vez maior sobre a cannabis medicinal no Brasil.

A popularidade da cannabis tem crescido assim também como as pesquisas. A Universidade Pública de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto está no topo dos estudos sobre canabidiol (CBD), está à frente de países como Reino Unido e até Israel, país que descobriu o canabinoide. 

Também foi em parceria com a universidade que o primeiro produto brasileiro à base do CBD foi desenvolvido e autorizado no país.

A UNIFESP também faz pesquisas sobre a planta, embora de forma diferente. É através do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicos (Cebrid), que a universidade promove informações e descobertas sobre cannabis.

Em março, a instituição disponibilizou um curso online para profissionais da saúde, onde ajuda médicos a entender as propriedades medicinais da planta e também esclareceu a aplicação clínica dos óleos, como dosagens, efeitos colaterais e riscos.

Agora, a parceria da universidade com a paróquia do padre Ticão, também está alcançando pessoas de todas idades e de interesses diferentes. Na última edição do curso, 60% dos inscritos não eram profissionais da saúde.

O curso também fala de cultivo

A grade do curso varia de acordo com o perfil do público. Como também há uma porcentagem considerável de pacientes e familiares, aprender a cultivar cannabis para produzir CBD e THC também entra nas aulas. O curso pode até servir caso a pessoa queira solicitar o plantio.

Plantar cannabis é proibido no Brasil, por isso, é necessária uma autorização da justiça para poder cultivar. Entre uma série de requisitos, saber como manusear a planta e extrair o óleo é fundamental para a decisão do juiz.

Andreia, por exemplo, costuma comprar o óleo medicinal, mas com duas filhas que precisam do óleo e problemas com a logística por conta do coronavírus, ela decidiu tentar o salvo-conduto. Ela preencheu todos os requisitos, sabe plantar graças ao curso, e espera poder plantar legalmente.

Para se matricular ou saber mais sobre o curso, clique aqui.

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