Considera uma epilepsia resistente a medicamentos, entenda o que é, quais os sintomas e como tratar com a cannabis medicinal
Nos últimos anos, algumas leis sobre a distribuição de cannabis medicinal foram aprovadas em vários estados do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, a distribuição passou a valer em junho, mas só para o tratamento de três condições: Síndrome de Dravet, Esclerose Tuberosa e Síndrome de Lennox Gastaut.
As condições foram escolhidas porque são as únicas com evidências consistentes e padronizadas para uma distribuição em massa para a população.
Isso não quer dizer que a cannabis não sirva para outras condições médicas, na verdade, há uma gama enorme de estudos que mostram os benefícios da cannabis para condições como ansiedade, TEA (Transtorno de Espectro Autista), Parkinson e Fibromialgia, por exemplo.
Contudo, segundo o médico e coordenador do Grupo de Trabalho que regulamenta a cannabis no SUS em São Paulo, o Dr. José Luiz Gomes do Amaral em uma sessão da Secretaria de Saúde, é preciso que os estudos sejam padronizados, mas a maioria são diferentes, com concentrações distintas e com pacientes que também não são iguais.
Já falamos aqui sobre o que é e como a cannabis pode ajudar no tratamento da Síndrome de Dravet e a Esclerose Tuberosa, mas você sabe o que é a Síndrome de Lennox Gastaut? Entenda.
Trata-se de um tipo raro de doença que provoca epilepsia refratária, ou seja, uma epilepsia que é resistente a medicamentos. Felizmente a condição tem poucos casos, com uma incidência de 1,9 a 2,1 a cada 100 mil crianças.
Por outro lado, é responsável por cerca de 6% a 7% dos casos de epilepsia intratável.
Infelizmente não há cura para a síndrome e a expectativa de vida é variável de criança para criança, mas não é incomum que cheguem à fase adulta com o CID G40.
As crises epilépticas costumam vir acompanhadas de disfunções cognitivas, atraso do desenvolvimento neurológico e psicomotor das crianças afetadas e pode ocorrer por algumas situações que provocam lesões cerebrais durante a gravidez ou depois do nascimento, como:
Entretanto, cerca de 30% a 35% dos casos de Síndrome de Lennox Gastaut não tem uma causa diagnosticada.
Os principais sintomas da Síndrome de Lennox Gastaut são as crises epilépticas generalizadas, incluindo tônicas, atônicas (principalmente noturnas), mioclônicas e ausências atípicas e quase sempre sem febre.
A síndrome pode aparecer nos primeiros anos pré-escolares e, ao que parece, os meninos são os mais afetados. Dois terços dos casos ainda ocorrem em crianças com condições cerebrais preexistentes e um terço pode ter um histórico de Síndrome de West.
Contudo, o diagnóstico não é feito apenas com o histórico clínico e identificação dos tipos de crise, mas também por exames de eletroencefalograma.A diferença entre outras síndromes que causam epilepsias resistentes está em um achado específico, chamado descargas do tipo ponta-onda generalizadas.
Além das crises epilépticas, as crianças iniciam sintomas de regressão de suas habilidades, como a fala, por exemplo. Alterações de humor, personalidade e comportamento também podem aparecer, junto com o retardo do desenvolvimento psicomotor e cognitivo.
Como dito antes, a síndrome é resistente a medicamentos. Dessa forma, uma das opções é a dieta cetogênica, que consiste na eliminação de quase todos os carboidratos e o consumo de alimentos ricos em gorduras e proteínas, o pode diminuir as convulsões.
Em alguns casos também é possível a intervenção cirúrgica. A chamada Calosotomia corta parcialmente ou totalmente o corpo caloso, uma estrutura que conecta os dois lados do cérebro, o que ameniza as crises.
Há ainda a opção da VNS ou Estimulação do Nervo Vago. Trata-se de um dispositivo implantado no peito e conectado ao nervo vago do pescoço. Isso permite o envio de impulsos elétricos ao cérebro, ajudando a frequência e a intensidade das crises.
A fisioterapia também pode ser útil para estimular os movimentos do paciente.
Como dito no começo do texto, há estudos consistentes e padronizados que evidenciam os benefícios da cannabis para o tratamento de epilepsia, sobretudo algumas síndromes como a que estamos abordando.
Isso porque a cannabis trabalha no organismo através do Sistema Endocanabinoide. Trata-se de um sistema que ajuda a restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio das funções do corpo.
Se uma pessoa está com dor, por exemplo, são enviados os chamados canabinoides que sinalizam que algo está errado e precisa ser corrigido. O CBD (canabidiol), por exemplo, também é um canabinoide que pode interagir no organismo da mesma forma que os nossos.
Os canabinoides da cannabis podem agir diretamente no Sistema Nervoso Central modulando as funções neurológicas, como o controle das descargas dos neurotransmissores, o que consequentemente pode reduzir tanto a intensidade das crises como a frequência delas.
Quem descobriu os efeitos da erva para epilepsia foi um brasileiro, o professor Elisaldo Carlini da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
A descoberta foi através de um estudo duplo-cego (onde nem o pesquisador e nem as pessoas estudadas sabem o que está sendo administrado).
No trabalho, o professor descobriu o potencial anticonvulsivante do CBD com resultados significativos. Ele foi feito com oito pacientes, quatro deles tiveram a suspensão completa das crises convulsivas e três uma redução significativa.
De acordo com uma revisão sistemática feita também no Brasil com a análise de mais de mil pacientes, a cannabis ajudou a diminuir tanto o número de crises quanto a intensidade no tratamento das síndromes de Dravet, Esclerose Tuberosa e claro, Lennox Gastaut.
Outro estudo feito pela Universidade da USP de Ribeirão Preto em pacientes adultos com Lennox Gastaut, o uso do CBD com os demais tratamentos ajudou a reduzir as convulsões totalmente, especialmente as crises focais com efeitos colaterais leves.
Em 2018, uma pesquisa envolvendo 30 centros clínicos e 225 pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut, testou os efeitos do canabidiol em doses diárias durante 14 semanas.
Os resultados foram uma redução significativa das crises convulsivas de pacientes com idades que variavam de 2 a 55 anos.
Em 2020, a USP de Ribeirão Preto também percebeu que o CBD impediu a progressão da epilepsia em ratos geneticamente modificados, além de bloquear novas crises.
No Brasil, a cannabis é aprovada apenas para fins medicinais e só pode ser comprada com receita. Atualmente, ela pode ser adquirida através de importações, nas farmácias e até por associações de pacientes.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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