Cannabis no tratamento da doença de Lyme 

Cannabis no tratamento da doença de Lyme 

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Sem dúvidas a cannabis pode ser considerada um avanço para o tratamento da doença de Lyme, transferida por carrapatos. Mas as pesquisas disponíveis hoje em dia ainda são muito limitadas para tirar conclusões precisas. 

Apesar de existir evidências sugerindo uma conexão entre a doença de Lyme e o Sistema Endocanabinóide, ainda não temos nenhuma pesquisa que investiga a fundo o uso de cannabis medicinal para o tratamento da condição.

Mesmo assim, foi demonstrado que a cannabis medicinal ajuda com muitos dos sintomas associados à doença de Lyme crônica, como dor, inflamação, ansiedade e depressão.

O que é Doença de Lyme?

A doença de Lyme é uma infecção bacteriana transmitida por carrapatos, muito comum na América do Norte e na Europa.

Essa doença recebeu esse nome por conta dos diversos casos que ocorreram em 1997 na cidade de Lyme, em Connecticut (EUA). Pelo fato de um dos principais sintomas ser inchaço e dor nas articulações, muitos achavam que era artrite. 

Porém, como os casos eram agudos os sintomas simplesmente desapareciam. A incógnita também era rodeada no fato de que  afetava apenas os adolescentes.

Com o passar do tempo os pacientes foram estudados e a doença de Lyme foi descoberta. Apesar disso, muitos acreditam que a condição seja muito mais antiga.

Causas da doença

Essa doença é causada por uma bactéria, a Borrelia burgdorferi, mas a transmissão ocorre através de picadas de carrapatos. São eles que carregam essas bactérias e que podem transmiti-las para os seres humanos.

Os carrapatos responsáveis são marrons e grudam na pele da vítima, onde podem permanecer por bastante tempo enquanto sugam o sangue. Os seus locais preferidos do corpo humano são axilas, couro cabeludo e região da virilha.

Para que a doença seja transmitida os carrapatos devem ficar na pele por 36 a 48 horas no mínimo. Quanto menor o carrapato, maiores são as chances de transmissão da doença de Lyme, pois eles são mais difíceis de achar e remover.

Sintomas mais comuns 

Os sinais e sintomas da doença de Lyme normalmente afetam mais de uma parte do corpo, principalmente pele, articulações e sistema nervoso. Esses sintomas variam de mais leves a mais graves, dependendo do tempo da picada. Os principais são:

  • Vermelhidão na região da picada ;
  • Gripe ;
  • Febre ;
  • Calafrios ;
  • Fadiga ;
  • Dor de cabeça ;
  • Dor no corpo ;
  • Dor nas articulações ;
  • Inflamação nos olhos ;
  • Inflamação no fígado ;
  • Problema de coração.

 Doença de Lyme em animais

Os primeiros casos surgiram em cachorros no ano de 1984. A partir daí se tornou uma zoonose, doença que pode ser transmitida tanto para os homens, como para os animais. 

A contaminação da doença por parte dos cães ocorre por um ciclo. O carrapato saudável pica um cachorro com a bactéria ”Borrelia burgdorferi”, se tornando um hospedeiro.. O animal se torna contaminado.

Os sintomas mais comuns da Doença de Lyme nos cães são: dores e inflamações articulares, ou seja, o animal vai evitar subir em locais altos, como camas e sofás, vai se recusar a sair de casa e ficar o tempo inteiro deitado com dores musculares graves, o que fará o cachorro mancar muito, ter  febre, vômito, inchaço nos glânglios linfáticos e até falta de apetite.


O animal começa a apresentar essas condições a partir de dois a cinco meses após a contaminação. Tudo pode aparecer de forma cíclica, ou seja, ele fica um tempo mancando e tem uma melhora, mas algum tempo depois o problema volta, por exemplo. 

Com o passar do tempo os sintomas vão piorando. Caso o animal não seja tratado ou não responda aos medicamentos passados pelo veterinário ele pode sofrer com paralisias e, mais tarde, com asfixia, chegando a morte.

Como a Cannabis funciona com a doença de Lyme

O Sistema Endocanabinóide (SEC), presente em todo o corpo humano e que é ativado tanto pelos canabinóides naturais quanto pelos produzidos pela planta cannabis, é responsável por manter a homeostase interna (equilíbrio do sistema). É composto por três partes:

  • Endocanabinóides: substâncias químicas naturais produzidas por nosso corpo;
  • Receptores canabinóides: CB1 e CB2 que são ativados por endocanabinóides;
  • Enzimas: que metabolizam e eliminam os canabinóides de nosso sistema.

Esse sistema modula muitas de nossas funções do corpo, como dor, humor, energia, sono, inflamação e resposta imunológica. Geralmente, isso funciona perfeitamente, com nossos endocanabinóides que ativam os receptores para manter tudo internamente equilibrado . 

Mas quando esse sistema está desequilibrado, pode levar a interrupções, que podem afetar as funções

Quando se trata do tratamento da doença de Lyme, não temos muitas evidências de que a doença pode causar alterações no Sistema Endocanabinoide.

No entanto, um  estudo sobre o perfil metabólico da doença, os pesquisadores descobriram que aqueles com doença de Lyme tinham níveis elevados de duas moléculas que interagem com o SEC. 

Uma dessas moléculas, a palmitoil etanolamida (PEA), que tem efeitos antiinflamatórios, não interage diretamente com CB1 ou CB2, mas aumenta a atividade da anandamida um dos principais endocanabinóides produzidos pelo corpo.

Também sabemos que o SEC tem uma grande influência sobre alguns dos sintomas associados à doença de Lyme, assim regulando a dor, suprimindo as respostas inflamatórias e controlando a depressão e a ansiedade.

Com isso, é possível que o uso de cannabis medicinal ajude no tratamento dos sintomas da doença de Lyme.

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Estudos médicos sobre cannabis e doença de Lyme

Embora haja algumas evidências de que o Sistema Endocanabinóide está relacionado à doença de Lyme, isso não significa que a cannabis pode ajudar a tratar totalmente a doença. Nenhum teste clínico  foi feito em pacientes com Lyme para avaliar se a cannabis medicinal pode ajudar a tratá-la.

Mesmo assim, aqueles que argumentam que a cannabis medicinal pode ajudar no tratamento dessa doença, apontam vários aspectos bem conhecidos da planta, como suas propriedades antibacterianas e capacidade de reduzir a dor, inflamação, ansiedade e depressão, como evidência de que pode ajudar. 

Os cinco principais canabinóides, THC, CBD, CBG, CBC e CBN, mostraram ser potentes contra uma variedade de cepas resistentes de MRSA, uma infecção bacteriana difícil de tratar. 

Embora nenhum teste tenha sido examinado para saber se algum desses canabinoides pode funcionar contra a infecção bacteriana na doença de Lyme, é algo importante para que haja futuras pesquisas.


A cannabis também funciona como um analgésico, especialmente para pacientes com dor crônica.

Uma revisão sistemática de 2017 sobre a planta revisou a pesquisa sobre a cannabis medicinal para vários tipos de dor crônica, incluindo neuropatia, que pode ocorrer na doença de Lyme.

Os autores disseram que existem evidências substanciais de que a planta usada medicinalmente é um tratamento eficaz para todos os tipos de dor crônica. 

O seu uso também ajudou alguns com depressão. Em outra revisão, os pesquisadores encontraram nove estudos sobre o uso de cannabis para a depressão e sete desses estudos mostraram que o uso da planta  levou a melhorias nos sintomas da condição. 

Ainda assim, considerando que essas evidências vêm de pesquisas sobre outras doenças, sem dúvidas são necessárias mais estudos para ver se esses benefícios da cannabis afetarão aqueles com a doença de Lyme da mesma forma que impactaram aqueles com outras doenças.

Contudo, há um bom motivo para os cientistas investigarem mais a fundo e verem se a cannabis medicinal pode ajudar. 

Referências

  • Cannigma
  • Minha vida

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