Foi necessário uma longa jornada para a descoberta deste sistema que é fundamental para o funcionamento humano
Dr. Mário Grieco e o Dr. Elisaldo Carlini
Em 1964, o cientista israelense Rafael Mechoulam tornou-se a primeira pessoa a identificar um canabinoide, o THC (tetrahidrocanabinol). O professor Mechoulam estudava plantas ativas e estava tentando identificar seu principal componente ativo. Essas plantas eram conhecidas por terem efeitos no sistema nervoso.
A descoberta do THC também levou à identificação do CBD (canabidiol), também com propriedades medicinais. O Professor Mechoulam, em suas pesquisas, testou o CBD em pacientes com epilepsia e observou que a administração diária de 200 mg de CBD eliminava as crises epilépticas nesses pacientes.
Em 1986, o Professor Mechoulam publicou a obra intitulada “Canabinoides como terapia”, na qual discutiu os diversos efeitos terapêuticos dos canabinoides em mamíferos. No entanto, ele ainda não tinha conhecimento detalhado sobre o mecanismo de ação dos canabinoides.
Na mesma época, o professor Allyn How Lett, pesquisador da Universidade de St. Louis, ao estudar o THC, descobriu receptores no corpo humano aos quais o THC se ligava. Ele chamou esses receptores de receptor canabinoide número 1 (CB1). Posteriormente, foi descoberto um segundo receptor canabinoide, o CB2.
A questão subsequente foi: por que o corpo humano possui receptores para produtos derivados de plantas? O Professor Mechoulam e sua equipe de pesquisadores acreditavam ter encontrado a resposta. O corpo humano produz canabinoides.
Esta hipótese levou, em 1992, à busca pelos endocanabinoides, isto é, aqueles produzidos pelo corpo humano. Após dois anos de pesquisas, foram descobertos os endocanabinoides que atuam nos receptores CB1 no cérebro.
Eles denominaram este canabinoide de anandamida, baseado na palavra em sânscrito “Ananda”, que significa Suprema Felicidade, e “amida”, um composto químico. Em 1995, o Professor Mechoulam e sua equipe descobriram o segundo canabinoide endógeno, o 2-AG.
O aspecto interessante desta história é que o THC foi a chave que revelou a existência de um sistema de mensagens até então desconhecido no corpo humano. Este sistema consiste em uma complexa rede de neurotransmissores que regula uma vasta gama de funções biológicas.
Descobriu isso também porque a Transmissão nas sinapses não se dá em apenas um sentido, mas também faz o caminho reverso, ou seja, o de ida e volta. Sem a cannabis o mundo médico provavelmente estaria no escuro a respeito deste importante sistema de mensagens.
No Brasil, em 1970, o professor Elisaldo Carlini da Universidade Federal de São Paulo foi pioneiro na descoberta da relação entre o canabidiol e a redução das convulsões.
Em 2013, o Dr. Sanjay Gupta apresentou em rede nacional de televisão nos Estados Unidos o caso de Charlotte Figi, portadora de epilepsia grave refratária aos medicamentos tradicionais, que teve uma recuperação significativa com o uso da cannabis sativa.
Dois anos depois, Anny Fischer, uma menina brasileira de 5 anos portadora da síndrome CDKLS, obteve sucesso no controle das crises epilépticas com o uso do canabidiol.
A descoberta do Sistema Endocanabinoide foi fundamental para a identificação de mais de 400 endocanabinoides que hoje, no Brasil, têm transformado a vida de mais de 1 milhão de pacientes.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Mario Grieco
Médico, especialista em medicina interna e medicina do trabalho, também é pesquisador de Cannabis Medicinal e Fellowship em Internal Medicine nos EUA, onde viveu por 20 anos, obteve a certificação ECFMG. Além do trabalho como pesquisador, é colaborador do ambulatório do hospital das clínicas na faculdade de medicina da USP e professor do curso de pós-graduação lato sensu em Cannabis Medicinal na Ânima-Inspirali. Foi presidente de seis empresas e atualmente é diretor da clínica Cannabis Care. Considerado um dos 20 líderes mais influentes da América Latina no campo de longevidade, recebeu vários prêmios nos Brasil e nos EUA e publicou seis livros, entre eles "Cannabis Medicinal Baseado em Fatos" e "Cannabis medicinal: fatos ou mitos?"
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