Para a especialista em mídia e direito do entreternimento, a reportagem do Fantástico têm um peso muito maior que a desinformação
A polêmica reportagem no fantástico sobre o Ice
No último final de semana (30), o Fantástico exibiu uma reportagem que causou polêmica nas redes sociais. A matéria chamava atenção para o “Ice”, apresentado como uma “droga nova” feita de cannabis.
A reportagem afirmou que o “Ice” seria uma substância “mais potente, mais viciante e mais nociva que a maconha tradicional, chegando a uma potência 50 vezes maior”. Mas será que é isso mesmo?
Na verdade, o Ice nada mais é do que uma forma de extração da cannabis, mais natural e livre de solventes. Feita apenas com água e gelo, a técnica consiste na extração dos tricomas — estruturas da planta que contêm uma concentração maior de THC (tetrahidrocanabinol).
O método nada sintético de extração concentrada, foi criado nos anos 1980 por Mila Jansen, que se tornou referência no universo canábico como a “Rainha do Haxixe”.
Mas, ainda assim, não é algo recente. Há pelo menos dois mil anos, povos do Oriente Médio e da Ásia utilizam o haxixe — também conhecido como hash. Um pouco diferente da maconha, produzida com as flores secas da planta, o haxixe é feito a partir da extração dos tricomas, uma fina cobertura branca que lembra pelos.
Consequentemente, o haxixe tende a ser mais “forte” que a maconha, pois concentra mais THC. Por outro lado, pode ser utilizado em casos de dores severas, espasticidades e até epilepsia.
Contudo, a matéria veiculada na Globo criou uma espécie de terror em torno do “Ice”, equiparando-o a substâncias muito mais viciantes.
Segundo a advogada Julaina Sasso, especialista em mídia e direito do entretenimento, mais do que noticiar, a imprensa precisa exercer responsabilidade social ao abordar temas como esse.
“A imprensa tem o papel de apurar, levantar elementos, conversar com especialistas e buscar informações. Ela não pode simplesmente divulgar uma matéria sensacionalista afirmando coisas que não são verdadeiras”, ressalta. “É preciso trazer contrapontos.”
Sasso complementa que o pânico gerado pela reportagem impacta especialmente a parte da sociedade fora da bolha canábica, que ainda é leiga sobre o assunto.
“Nesse ponto, eles não foram éticos. A responsabilidade que a mídia tem como veículo de informação em uma rede aberta, que atinge a todos, é ainda maior do que a das bolhas algorítmicas nas redes sociais”, acrescenta.
Estudiosa do soft power — a capacidade de persuasão das pessoas por meio da cultura — Sasso explica que músicas, filmes, roupas e a opinião de influenciadores são formas de moldar a opinião pública. Isso, por sua vez, influencia o poder legislativo.
Assim, a advogada reforça que a imprensa também exerce um papel essencial na construção (ou desconstrução) da imagem da cannabis. Por muitos anos, a imprensa noticiou a planta de forma negativa. Somente nos últimos tempos essa percepção começou a mudar, especialmente por conta do uso medicinal.
“A imprensa também tem uma função cultural, de implementar ideias na mente das pessoas. É o poder brando, que vai convencendo a sociedade do que é bom ou ruim para ela. Por isso, precisamos de uma imprensa comprometida”, finaliza.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
Inscreva-se grátis na nossa Newsletter!
Lei sobre cannabis medicinal em Alagoas é regulamentada
Cápsula espacial com cannabis cai no mar após falha
Cannabis em SC: regulamentação ignora associações
USA Hemp inaugura sede em Goiânia mirando o futuro
Começa o mutirão para revisar prisões por porte de maconha
DF pode ganhar centro de tratamento com cannabis
Copyright 2019/2023 Cannalize – Todos os direitos reservados
Solicitação de remoção de imagem
Termos e Condições de Uso