Se a maconha não pode, como fica o tratamento de alguém que precisa da cannabis medicinal? Entenda
Se você pesquisar, provavelmente vai ver várias notícias sobre o uso da maconha e o aumento no risco de doenças cardíacas. E de fato, a maconha pode não ser uma boa opção para quem tem problemas do coração.
Mas o que fazer quando um paciente cardíaco recebe uma indicação para usar o CBD (canabidiol) para alguma outra condição?
Para entender sobre esse assunto, conversamos com o cardiologista Heder Leite que nos explicou melhor sobre o que pode e o que não pode.
De acordo com um estudo apresentado na reunião anual do American College of Cardiology de 2023, o uso diário de maconha pode aumentar o risco de desenvolvimento de DAC (Doença Arterial Coronariana).
Também chamada de aterosclerose, trata-se de uma condição causada pelo acúmulo de placas nas paredes das artérias que fornecem sangue ao coração.
Parece que os consumidores diários de maconha tinham 34% mais chances de serem diagnosticados com DAC do que aqueles que nunca haviam experimentado o consumo adulto da planta.
Isso porque o THC (tetrahidrocanabinol), principal substância que gera a “alta” da maconha, pode aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial em cada uso. A fumaça também pode ser tóxica, assim como a do cigarro, de acordo com o CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Estados Unidos.
O Dr. Heder Leite ainda complementa que a ilegalidade também é outro fator de risco. “Sendo uma substância de uso ilegal, é passível de efeitos indesejáveis e imprevisíveis devido à não uniformidade em sua produção”, acrescenta.
Mas isso não quer dizer que o THC é um vilão. Vários remédios levam a substância, que também pode ser efetiva no tratamento de dores e inflamações. O problema está na quantidade.
“Quando administrado em doses altas, pode desencadear arritmias cardíacas e dependendo da situação basal do paciente, esta condição pode ser até fatal.”, explica o médico.
A cannabis medicinal tem chamado atenção no Brasil e no mundo por causa da sua eficácia sem muitos efeitos colaterais.
Por causa da sua ação no Sistema Endocanabinoide, que está presente em quase todo o organismo, os medicamentos feitos com a planta podem ser usados para uma série de condições médicas, que vão desde ansiedade e depressão, a dores crônicas e Parkinson.
De acordo com o cardiologista, o CBD pode ser sim usado por pessoas com condições cardíacas, desde que estáveis e com o aval do seu médico. “Isso requer que o paciente tenha seus exames periódicos em dia que comprovem que a sua doença de base esteja controlada.” Acrescenta.
O médico ainda explica que isso não serve apenas para o uso do canabidiol, mas para qualquer medicação.
Por outro lado, acrescentar mais um remédio, mesmo que para o tratamento de outra condição, também pode trazer algumas ressalvas aos pacientes devido às interações medicamentosas.
O cardiologista explica que acrescentar o CBD pode interferir na ação de outras medicações que são usadas em pacientes com doenças cardíacas, aumentando os seus efeitos, o que consequentemente, aumenta também os efeitos colaterais.
No caso de hipertensão arterial controlada, por exemplo, em que o paciente utiliza uma ou até duas medicações hipertensivas, o canabidiol não irá causar efeitos indesejáveis.
Contudo, em casos mais complexos, como cardiopatias dilatadas com ou sem arritmias, devem ter o uso do CBD acompanhado de forma mais cautelosa.
A substância ainda pode aumentar o efeito das estatinas (usadas no tratamento do colesterol) e de anticoagulantes, como a varfarina.
Embora existam alguns estudos, o médico explica que não há nenhuma evidência sustentável de que o uso do canabidiol possa ajudar em alguma condição cardíaca. Embora possa trazer pequenos benefícios.
“Observa-se, na prática clínica, que, em alguns casos específicos, conseguimos reduzir a dose de determinadas drogas devido ao fato de o CBD potencializar o efeito dessas substâncias. Observamos essa situação nos casos de hipertensos leves, em parte pelo efeito sedativo do canabidiol, reduzindo sintomas de ansiedade, que é um componente significativo na gênese e na manutenção da hipertensão arterial.”, explica.
Contudo, o Dr. Heder acrescenta que ainda assim, não está indicado em substituição a nenhum tipo de tratamento já estabelecido para doenças cardíacas.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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