Você já ouviu falar do cânhamo? Ele é uma variedade da cannabis sativa que é muito utilizada na confecção de tecidos, cordas, papel e até na fabricação de materiais de construção civil.
As suas fibras são duas vezes mais fortes que as fibras orgânicas, o que faz o cânhamo ser útil até na produção da estrutura de carros.
Usado há milhares de anos por vários países, é uma das culturas agrícolas mais renováveis do planeta, pois pode ser produzida em solo de baixa qualidade e sem pesticidas.
Além da fibra, as suas sementes também são aproveitadas. Elas já foram usadas como combustível e atualmente são utilizadas em alimentos, suplementos alimentares e cosméticos.
Um fato curioso é que o cânhamo existe nos dois gêneros, macho e fêmea. Os produtores geralmente cultivam os dois juntos lado a lado ao ar livre para incentivar a polinização.
O cânhamo é da mesma espécie da maconha, por isso as duas são confundidas com frequência e erroneamente consideradas a mesma coisa. Elas podem ser parecidas, mas são geneticamente distintas e a suas finalidades com certeza também não são as mesmas.
Primeiro que não é possível fumar cânhamo, isso só deixará o indivíduo com dor de cabeça.
Uma das principais diferenças é que o teor de tetraidrocanabinol (THC) A principal substância que carrega os efeitos alucinógenos também está presente no cânhamo, mas em um teor bem baixo, de 0,3%.
Em compensação o cânhamo tem uma alta concentração de Canabidiol (CBD). Por isso, é muito utilizado para a fabricação de produtos farmacêuticos.
É importante ressaltar que óleo de cânhamo e óleo de CBD são coisas totalmente diferentes. O óleo de cânhamo é extraído das sementes do cânhamo, que nem possui canabidiol.
Já o óleo de CBD não pode ser retirado das sementes, ele geralmente é extraído da flor em processos que variam entre solventes, aplicação de calor, com o auxílio de azeite e entre muitos outros métodos.
Para entender melhor sobre o uso medicinal do CBD, veja aqui.
As sementes são pouco conhecidas no Brasil, mas muito utilizada lá fora principalmente em receitas veganas. Há quem prefira temperar a salada com óleo de cânhamo do que qualquer outro óleo do mercado, por exemplo.
O cânhamo pode ser uma ótima fonte de proteína vegetal e o bom é que combina com quase tudo: saladas, sopas, sumos, batidos, sobremesas e até leites vegetais.
As suas propriedades são semelhantes a linhaça ou chia. No entanto, o sabor é parecido com a noz. Tanto, que a semente também é conhecida como noz de cânhamo. Ela pode ser comida crua, processada para extrair o óleo ou moída em forma de farinha.
A semente da planta pode ir até na ração de animais. O complemento ajuda a manter a pelagem dos bichos mais macia e brilhante. Na Europa também é muito utilizada para alimentar as galinhas.
O cânhamo não possui glúten nem lactose. Também não há nenhuma reação conhecida contra as sementes, por isso, pessoas com alergias, por exemplo, podem consumir sem medo.
Sem contar que as fibras ajudam no emagrecimento, pois auxiliam na absorção de nutrientes e no bom funcionamento digestivo.
Mais especificamente, a semente possui 30% de gordura, mas é do tipo de gordura boa. Outros 25% é proteína, uma porcentagem considerada como um teor alto do nutriente.
Também é rica em potássio, ferro, ômega 3 e 6, magnésio e claro, em fibra! Cerca de quatro colheres de sementes de cânhamo contêm:
Além das propriedades extraídas do óleo de canabidiol, há muitos outros benefícios para a saúde nas sementes também. Que inclusive, já foram comprovados na prevenção de doenças cardíacas, osteoporose, colesterol, pressão alta, menopausa e até para sintomas de TPM.
Isso porque elas são ricas em antioxidantes, que combatem os radicais livres. Além do fortalecimento do sistema imunológico, devido ao CBD.
O óleo de cânhamo é muito popular no mundo ocidental, por conta das suas raízes históricas. No entanto, houve um aumento na procura nos últimos anos, principalmente na Europa e nos EUA, pois além dos nutrientes, também é bom para a saúde do coração e as funções cardiovasculares.
As sementes de cânhamo têm um alto teor de arginina, um aminoácido conhecido por dilatar os vasos sanguíneos para baixar a pressão e reduzir os riscos relacionados à pressão alta e doenças cardíacas.
Outro composto do cânhamo que está sendo estudado é o gama-linolénico, que aparentemente também tem ações anti-inflamatórias que podem beneficiar o coração.
Nutrição para o cérebro. Uma coisa interessante é que o óleo de cânhamo tem um elemento chamado docosahexaenóico (DHA), que é extremamente necessário para o cérebro e para as retinas dos olhos.
Recomendado também para grávidas, o óleo auxilia no desenvolvimento do cérebro de bebês ainda na gestação.
A TPM é um problema que pode ser resolvido como o cânhamo também. Estudos apontam uma melhora na dor, sensibilidade nos seios, depressão, irritabilidade, retenção de líquidos, e vários outros sintomas.
O cânhamo foi cotado até pela indústria dos cosméticos. Hoje não é difícil encontrar loções, cremes hidratantes e máscaras faciais de cânhamo. Isso porque ele contém ácidos graxos que ajudam a pele seca e rachada.
O próprio óleo de cânhamo é usado para evitar a desidratação, coceira, irritação e ajuda até no processo de envelhecimento.
No Brasil, o cultivo de qualquer espécie de cannabis ainda é ilegal e as discussões sobre a importação de sementes de cânhamo ainda são polêmicas.
Em 2020 dois casos que envolviam a importação de sementes foram discutidos amplamente pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Eles foram adiados por umas três vezes por causa de divergências.
No primeiro caso, o denunciado havia importado 31 sementes. A defesa até pediu a atipicidade do caso, que é reconhecida como importação de baixa quantidade e não configura como crime.
Já no segundo caso, o número de sementes foi ainda menor. O acusado foi denunciado por tráfico internacional, por importar 16 sementes da Holanda.
Os juízes da 3ª Seção do STJ decidiram por unanimidade a atipicidade das importações, por isso, não foram consideradas crime.
A decisão se alinhou ao entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que mesmo classificando a ação como contrabando, havia considerado os dois casos com o “princípio de insignificância”, pela baixa quantidade de sementes.
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Testes de carbono sugerem que a sua história começou há mais de 10 mil anos. Ele foi usado de formas diferentes por cada cultura. Romanos, africanos, indianos, gregos e chineses tiraram proveito da variação de cannabis sativa.
Até meados do século XIX a maconha e o cânhamo foram a primeira, a segunda ou a terceira medicina mais usada, em muitos países.
Os primeiros registros históricos do uso do cânhamo estão da Ásia, na fabricação de papel há 8.000 A.C, o que faz da China a maior produtora de cânhamo historicamente.
Os chineses usavam a planta também para fins medicinais, suas raízes eram destinadas a curar coágulos e infecções, enquanto o restante era usado para evitar a perda de cabelo e dores de estômago, o que já foi provado cientificamente que funciona.
Um fato interessante é que o cânhamo foi a primeira planta em vários países, a ser cultivada sem ser para a alimentação.
Depois da China, ela se espalhou para o Oriente Médio, Índia e Norte da África. Os citas, povo que viveu na região do Irã, deixavam o cânhamo no túmulo dos mortos como tributo.
A Índia também tem uma longa história com a cannabis. Conhecida como “bhang” é sagrada e está relacionada com o deus Shiva. Os antigos Hindus já adoravam espíritos de plantas e animais. Nem preciso dizer que a cannabis era uma destas plantas.
No antigo Egito, a cannabis pode ser encontrada em pergaminhos de 2.000 anos A.C. como remédio. Foi documentada pela primeira vez para tratar catarata e dor nos olhos. As mulheres egípcias também usavam para tratar a tristeza e o mau humor, o que sugere que fosse uma espécie de tratamento para TPM.
Outro fato curiosíssimo é que o pólen da cannabis foi encontrado em todas as múmias reais conhecidas, não só no Egito, mas também na China e Peru e México.
As cordas feitas com a fibra da planta, surgiram na Grécia lá pelo ano 200 A.C., que passou a ser importada para a Inglaterra pelos romanos cem anos depois.
Muito tempo depois, em 800 D.C. na Grã-Bretanha, o cânhamo ainda era cultivado para materiais da frota naval britânica.
Difundida pelos árabes há mais 1.000 anos, a planta foi um dos tradicionais cultivos da Península Ibérica.
Em 1.150, os muçulmanos construíram os primeiros moinhos de fiação de cânhamo na Espanha e por muitos anos, o cânhamo foi importante para a construção dos navios. Especificamente para a fabricação de cordas, velas e outros utensílios navais.
Os dias de glória do cânhamo começaram a ter fim a partir de 1925, nos Estados Unidos. A nação que usava o cânhamo até como combustível, começou a difundir a ideia da maconha e o cânhamo eram uma coisa só e ainda, que era perigoso.
O país continuamente afirmava vínculos da cannabis com comportamentos antissociais, loucura e violência. O que se espalhou para outros países, e leis anti-cannabis surgiram. Em 1937 os Estados Unidos tornaram ilegal a posse de cannabis, independentemente dos seus fins.
Muita gente ainda considera a ação dos Estados Unidos Irônica, uma vez que o cânhamo foi usado até como papel para que a constituição americana fosse escrita. O próprio Benjamin Franklin era dono de uma fábrica de cânhamo!
Para que o cânhamo se tornasse uma commodity, precisou-se de uma legislação. Foi então que a regra de o,3% a 1% de THC foi estipulada em 1946 pela Lei de Comercialização de Produtos Agriculturais dos EUA (AMA).
Foi onde perceberam que plantas cannabis com baixo teor de THC são ricas em CBD. Essa descoberta gerou vários cruzamentos genéticos para as que as plantas produzam mais CBD e resina, exclusivamente para remédios.
Apesar da proibição, o cânhamo teve uma exceção lá na década de 1940, quando foi útil na Primeira Guerra Mundial. Em 1942, o Departamento Agrícola dos Estados Unidos, deu a missão de plantar cannabis aos fazendeiros em uma campanha chamada “Hemp For Victory”, “Cânhamo pela vitória” em tradução livre.
O objetivo era servir de matéria prima, para a fabricação de uma variedade de produtos, desde paraquedas a solas de sapato.
Na década de 1950 o cânhamo era tido como commodity Rural nos EUA, e o Ministério da Agricultura apoiava o cultivo.
A desaprovação mundial finalmente apareceu lá na década de 1960, quando a ONU adotou a Convenção Única sobre Entorpecentes. O acordo exigiu a proibição da cannabis para qualquer fim.
O tratado foi adotado por todos os membros das Nações Unidas, o que fez a planta ser ilegal em grande parte do mundo. O acordo ficou conhecido como Tratado Internacional de Drogas em 1961.
No governo do presidente Nixon, em 1970, a cannabis foi enquadrada na Lei de Substâncias controladas e era considerada uma das drogas mais perigosas no país.
27 anos depois, a Projeto de Lei 1305 da Dakota do Norte abriu caminho para as pesquisas sobre o cânhamo e foi aí que ele voltou a ser produzido com o termo “cânhamo industrial”, mas deixando claro que ele seria utilizado na fabricação.
A legalização da cannabis está voltando aos poucos em vários países. Alguns são mais avançados, como os Estados Unidos, onde a maioria dos estados já permite lojas para o uso recreativo e medicinal, e lugares onde a evolução da legalização da planta anda a passos curtos, como o Brasil.
Desde a colonização até o século XX a maconha e o cânhamo eram cultivados legalmente no país, até mesmo pelo governo através da Real Feitoria de Cânhamo e outros programas governamentais, que tinham como objetivo a objetivo abastecer a indústria têxtil, exportando para o mundo todo.
O cânhamo era culturalmente usado como remédio. O óleo vegetal servia de alimento e matéria prima para combustível, lamparinas e diversas outras funções.
Mesmo depois da sua proibição em 1932 a planta era comercializada para fins medicinais e ainda, recomendada pelos médicos. A indústria no Brasil era tão forte, que o cânhamo chegou a ser considerado o principal produtor agrícola de cannabis, por um jornal da época.
Portugal instaurou no Brasil a Real Benfeitoria de Cânhamo em 1783 para fabricar a fibras e mandá-las para outros países. As fazendas se concentravam em vários estados do Brasil, como Pará, Amazonas, Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia.
Uma das grandes vantagens de cultivar a erva no Brasil era o clima tropical, onde as plantas se davam muito bem.
Influenciado pelos países que proibiram a cannabis, em 1921, a primeira lei de controle de drogas surgiu no Brasil. Ela penalizava apenas a venda de cocaína, ópio e derivados, mas em 1932 a cannabis indica foi incluída, e seis anos depois, o Ato Fiscal da Maconha, abrangeu a cannabis sativa também, exceto para o uso medicinal.
Mas, no dia 4 de novembro de 1964, no início da ditadura militar, a simples posse de cannabis foi classificada como crime.
O cânhamo é perfeitamente seguro, pois na plantação para óleos, por exemplo, não leva pesticidas, herbicidas e nem fertilizantes químicos. O cânhamo também se mostrou altamente rentável, uma vez que não tem a necessidade de um solo de ótima qualidade para crescer.
Segundo um relatório do Congressional Research Service publicado em 2015, atualmente mais 25 mil produtos usam o cânhamo como matéria prima em nove tipos de mercado diferentes: agricultura, têxteis, reciclagem, automotivo; móveis, alimentícia (bebidas e comidas), papéis, construção civil e cuidados pessoais/medicamentos.
O cânhamo industrial, também chamado de cannabis não psicoativa, é legalizado em trinta países, sendo que alguns deles nunca proibiram. A China é um exemplo, devido a sua longa história com a planta, é a maior produtora de cânhamo do mundo.
É difícil criar uma estimativa sobre a geração de lucro global, mas em 2013 a Associação das Indústrias de Cânhamo (Hemp Industries Association – HIA) afirmou que o setor produziu 581 milhões de dólares em produtos só nos Estados Unidos aquele ano. O número traz uma estimativa do tamanho do setor.
Recentemente, ele é muito usado como uma espécie de plástico biodegradável, além da fibra ser usada na fabricação de materiais de construção e isolamento térmico.
Em 2014 as restrições à produção e comercialização do cânhamo foram flexibilizadas com o Projeto de Lei Agrícola dos EUA de 2014 e também na Lei de Aprimoramento da Agricultura dos EUA de 2018 que define mais claramente as diferenças do cânhamo e da maconha.
Atualmente, a lei de vigilância sanitária do país é responsável pela supervisão dos produtos derivados do cânhamo de acordo com a Lei Federal de Alimentos, Drogas e Cosméticos dos EUA.
No Paraguai, depois da regulamentação da produção controlada em 2019, o cultivo foi atraído por diversos agricultores locais e até estrangeiros, principalmente da América do Sul. O Ministério da Agricultura do país visou beneficiar 25 mil famílias com o preço de e 10.000.000 de guaranis por hectare, com colheitas de cânhamo duas vezes por ano.
No Brasil, o uso da cannabis ainda é bastante limitado. Em 2015 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou por pressão a Resolução 335/15, que permitiu a importação de produtos derivados da planta exclusivamente para fins medicinais.
O número de pessoas que importam o óleo de CBD cresce a cada ano. Só nos dois primeiros dois anos da pandemia de COVID-19, mais de 33 mil pessoas começaram a importar.
A alta demanda fez a Anvisa criar força-tarefa e simplificar o processo de importação, como o aumento do tempo para renovoar a autorização de importação, por exemplo.
Em 2021 foi criada uma nova resolução 570/21. Agora, a análise do pedido de importação é mais simples e leva em consideração apenas a procedência. Produtos que são frequentes também têm já são aprovados automaticamente.
A agência também aprovou outra resolução no final de 2019, que permitiu a venda nas farmácias. A RDC 327/19 entrou em vigor em março de 2020 e possibilitou a compra nas drogarias apenas com a receita médica.
Contudo, cada produto precisa ser aprovado órgão. Até agora, a Anvisa já liberou a venda de 11 óleos de cannabis diferentes.
Atualmente há uma proposta para uma legislação mais abrangente. O projeto de lei 399/15 foi aprovado na Comissão Especial da Cannabis e já pode seguir para o Senado. Ele prevê o cultivo e a comercialização de produtos à base de cannabis tanto para uso medicinal quanto industrial.
É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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