THC: o que é e para que serve?
Foto: Envato
Um canabinoide que merece destaque por suas propriedades medicinais é o tetrahidrocanabinol (THC). A substância é conhecida por trazer os efeitos psicoativos da cannabis, e por isso, para usos terapêuticos sua quantidade deve ser bem baixa.
A concentração de THC em cepas de cannabis depende de diversos fatores: tipo e qualidade do solo, clima, tempo de plantio e colheita são alguns exemplos.
Este componente age no organismo como um neuromodulador dos receptores presentes no sistema endocanabinoide. Portanto, os efeitos do THC são sentidos diretamente pelo sistema nervoso central, e em seguida, percebidos pelas funções sensoriais de cada pessoa.
Também é importante destacar que “canabinoide” é um termo usado para descrever as substâncias que ativam os receptores do corpo. Segundo publicação da Secretaria de Saúde do Mato Grosso do Sul, essa palavra engloba os fitocanabinoides, que são encontrados na cannabis (como o THC); os endocanabinoides, presentes em todos os mamíferos; e os canabinoides sintéticos, substâncias que se ligam aos receptores.
Sendo assim, o tetrahidrocanabinol age no organismo assim como os outros componentes da planta.
Como temos propriedades que agem internamente de forma similar à cannabis, o uso medicinal dessa substância pode ser uma boa alternativa para tratar diversas patologias.
O THC é uma das substâncias que resultam da descarboxilação do ácido tetrahidrocanabinol (THCA).
Este componente foi descoberto em 1965, pelo pesquisador israelense Raphael Mechoulam, e chamado tecnicamente de Delta-9-tetrahidrocanabinol. A substância tem função anti-inflamatória, antidepressiva, anti-hipertensiva e também pode atuar como relaxante muscular. Também é uma opção para estimular o apetite.
Segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, “o THC tem representado uma revolução na geriatria, já que aumenta a produção de proteínas sinápticas e a velocidade neuronal”.
Evidências científicas também são promissoras para a saúde mental, sobretudo quando combinado com o canabidiol (CBD). Neste caso, o CBD consegue reduzir a ansiedade e melhorar o humor, enquanto o THC pode auxiliar no sono.
Pensando nas patologias que podem ser tratadas com este componente da cannabis, o leque de opções é extenso. Cabe ressaltar que o THC pode alterar a percepção e os sentidos, portanto, seu uso deve ser avaliado por um profissional de saúde.
Também é possível que alguns pacientes não reajam bem a essa substância, como crianças por exemplo.
Confira algumas condições de saúde que podem ser tratadas.
Autismo
A combinação de THC e CBD (proporção de 20 para 1) pode controlar os sinais de agitação e ansiedade causados pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA). A aplicação reduz a hiperatividade e pode ser uma boa opção para o sono.
De acordo com um estudo brasileiro, o extrato de cannabis pode ajudar pacientes com essa condição. Dos 20 pacientes com autismo que participaram da análise durante seis meses, melhoras significativas foram percebidas em 18. Segundo os pesquisadores, além da diminuição da agitação, também houve melhora na qualidade de vida e diminuição de outras medicações.
Doença de Alzheimer
Os sintomas da Doença de Alzheimer também podem diminuir com o uso do THC. Junto a outros componentes, o tetrahidrocanabinol pode eliminar a toxicidade da beta-amiloide, responsável pelo avanço da doença. E durante uma pesquisa de 2011, alguns pacientes receberam 1,5 gramas deTHC duas vezes ao dia, durante quatro dias. Houve melhora na mobilidade e não foram constatados efeitos colaterais após a aplicação.
Epilepsia
Segundo este estudo, o THC ajuda a melhorar significativamente as convulsões causadas pela epilepsia. Inclusive para tipos mais graves, como a síndrome de Lennox-Gastaut podem ter sua frequência diminuída, assim como a intensidade das crises epilépticas.
A cannabis medicinal conta com diversos estudos, a maioria ainda em fases iniciais. Porém, a prevalência das pesquisas está em doenças neurais e a epilepsia é um dos principais exemplos.
Fibromialgia
As doses de canabidiol e tetraidrocanabinol usadas por pacientes com fibromialgia costumam variar conforme a necessidade de cada um deles.
Contudo, os compostos ajudam a tratar a depressão e a qualidade do sono, uma vez que auxiliam na regulação da melatonina, que permite um descanso mais profundo. Assim, as dores sentidas pela síndrome podem ser controladas através do relaxamento dos músculos.
Obesidade
O THCV (tetrahidrocanabivarina) é um canabinoide que surge após um processo de descarboxilação com temperaturas mais elevadas que as da geração do THC. Trata-se de uma versão menos psicoativa.
Para fins medicinais, este componente pode ajudar no tratamento da Diabetes tipo 2, pois auxilia na diminuição dos níveis de insulina no organismo. Portanto, é possível ter esperança de que o THCV pode auxiliar na redução do peso.
Os produtos à base de cannabis podem ser divididos em três categorias: Espectro Completo (que possuem todos os canabinoides), Espectro Amplo (todos os componentes menos o THC) e as versões de CBD isolado.
Além disso, alguns produtos podem ter apenas THC.
A legislação brasileira se baseia nas normas da Food&Drug Administration, que tem papel semelhante à Anvisa. Quase todos os medicamentos e composições que chegam ao Brasil são importados e devem ter até 0,3% de tetrahidrocanabinol.
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Andrei Semensato
Jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Produz conteúdos sobre Política, Saúde e Ciência. Também possui textos publicados nos blogs da Cannect e Dr. Cannabis.
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