Apesar de a cannabis ser usada há milhares de anos para o tratamento das mais variadas condições, os estudos científicos são recentes e precisam de mais investigações.
Até chegarmos ao século XXI, por exemplo, não existia uma base científica sólida que sustentasse o uso do canabidiol (CBD) para epilepsia.
Muito desse atraso nas pesquisas se deu pelo preconceito, resultado do proibicionismo. Contudo, mesmo agora que sabemos que a planta possui moléculas que ajudam no tratamento de doenças e condições, é preciso ter cautela.
Pelo menos é o que pensam a presidente e o vice-presidente da Associação Brasileira de Epilepsia(ABE) , Maria Alice Susemihl e o neurologista Lécio Figueira.
Para eles é preciso ter cuidado na hora de diferenciar tratamentos promissores e pesquisas de tratamentos médicos aprovados.
“Não são histórias comoventes e bem contadas que devem levar os médicos a recomendar tratamentos. A pandemia pela COVID-19 é o maior exemplo disso, com vários tratamentos recomendados como cloroquina e ivermectina, sem nenhuma comprovação científica, e com efeitos colaterais”, ressalta o Dr. Lécio Figueira.
“Qualquer tipo de tratamento necessita de evidências científicas. Estudos mostraram que o uso de canabidiol é efetivo como tratamento adjuvante para crianças com Síndrome de Dravet. Existem outras pesquisas clínicas em andamento. Vamos aguardar as descobertas.” Acrescenta a presidente.
Hoje no Brasil o canabidiol é usado como alternativa em último caso, quando nenhum outro tratamento funciona. Contudo o uso do produto tem aumentado nos últimos anos.
As importações, por exemplo, cresceram consideravelmente. Segundo a Coordenação de Controle e Comércio Internacional de Produtos Controlados (COCIC), os números aumentam a cada ano. Em 2020 foram 4.100 solicitações só até o mês de junho.
Autorizações judiciais para o autocultivo também tem se tornado destaque nos noticiários. Apesar de não haver números exatos, a estimativa é que haja mais de 200 habeas corpus concedidos a pacientes por todo o país.
Porém, com o aumento do consumo, também cresceram as fake news. A ideia de que o canabidiol pode ser a solução para tudo também não é verdade.
“Hoje podemos dizer que existem evidências científicas sólidas de que o canabidiol de alta pureza tem papel em ajudar no controle de crises em alguns casos, principalmente, de epilepsias graves na infância. (…) Outras indicações em epilepsia, principalmente em adultos, e outras condições neurológicas necessitam de mais evidências científicas.” Acrescenta o neurologista.
“Temos ainda que considerar que como tantos outros medicamentos anti crise o Canabidiol não funciona para todas as pessoas. Cada caso é um caso.” Acrescenta Maria Alice Susemihl.
A preocupação aumenta mais ainda com o mercado ilegal de óleo de cannabis. Sem uma legislação precisa e produtos inacessíveis para boa parte dos brasileiros, produtos artesanais, e por muitas vezes sem uma origem clara, acabam se tornando a opção mais barata.
Prática que se tornou bastante comum. Só na semana passada, por exemplo, a 2ª Vara Federal de Ponta Porã, um município do Rio Grande do Sul, prendeu uma dupla com duas garrafas do óleo de cannabis, que seriam vendidas para o uso medicinal.
“Facilitar o acesso aos pacientes é fundamental. Precisamos ter disponibilidade de preparações farmacêuticas, controladas e fiscalizadas, quanto a pureza e segurança, pois já foram documentados vários produtos que não continham quantidades suficientes ou mesmo presença da substância, outros com contaminantes.” Complementa Lécio Figueira.
O neurologista ainda acrescenta que mesmo que alguns anticonvulsivantes não deem certo, existem outros métodos além do canabidiol, como a dieta cetogênica, cirurgia para epilepsia ou uso de neuroestimuladores (por exemplo, o estimulador do nervo vago).
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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