“Mente aguçada, mermão!”: Cannalize entrevista Marcelo D2

“Mente aguçada, mermão!”: Cannalize entrevista Marcelo D2

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Durante uma entrevista ao vivo no Instagram, Marcelo D2 deu aula de postura política, visão empreendedora, autonomia e conhecimento profundo do potencial terapêutico da cannabis

“Eu nem sei dizer como seria minha vida sem a cannabis”, disse Marcelo D2 em entrevista à Cannalize – Foto: Divulgação

A última quarta-feira (8) foi um dia memorável não apenas para a redação da Cannalize, mas principalmente para este intrépido repórter que vos fala. Coube a mim a honrosa tarefa de entrevistar  Marcelo D2, a lenda da música, do skate, da cultura urbana e óbvio, da cannabis.

Direto de um estúdio no Rio de Janeiro, onde o Planet Hemp gravava novas faixas para o lançamento de uma gravação de luxo do novo disco Jardineiros, Marcelo D2 dedicou uma hora inteira de seu dia a realizar o sonho profissional deste repórter canábico, cedendo uma entrevista ao vivo no Instagram para centenas de pessoas.

MANTENHA O RESPEITO

Introduzindo o papo só pra manter o rito, Marcelo D2 é o líder do Planet Hemp, que não apenas é uma banda de prestígio na música brasileira há 30 anos, mas também pioneira na discussão da pauta canábica sem tabus e preconceitos. Quem se arriscaria a imaginar os avanços da maconha no Brasil se o Planet Hemp nunca tivesse existido?

Não bastando a banda, a carreira solo de Marcelo D2 também é frutífera e, com criatividade, irreverência e talento, converge com diversas vertentes da música popular brasileira.

Agora, no auge da experiência de seus 55 anos de idade, D2 explora sua veia empreendedora. Desde 2020, o músico sustenta o marketplace Universo D2, uma loja online que reúne uma diversidade de produtos da temática canábica.

E não contente com a loja, sua caravana ainda foi mais longe. Em setembro de 2022, D2 firmou parceria com uma fabricante de óleos de cannabis com seu nome e em fevereiro de 2023, estreou uma marca de flores de CBD nos Estados Unidos.  

Por isso tamanho respeito e orgulho! Por estar diante desse verdadeiro arquiteto da música brasileira. D2 é formado pelas ruas, tem mestrado em consciência social e doutorado em malandragem e pós-doc em humildade.

Durante a live de cinquenta minutos, o jardineiro D2 deu aula de postura política, visão empreendedora, autonomia e conhecimento profundo do potencial terapêutico da cannabis, que é o cerne de todo o trabalho de quem carrega esta bandeira.

Nesta matéria especial, vamos relembrar os melhores momentos dessa experiência memorável. Segue o fio:

DERRUBAR A IGNORÂNCIA

Foto: Divulgação

Marcelo D2 acredita que, quando se trata de cannabis, a ignorância é a principal bandeira a derrubar. “Este lado terapêutico e medicinal é a ponta do iceberg pra acabar com o preconceito. Pra quem acredita na ciência, aquele papo de que maconha faz mal já foi por água abaixo.”

“Na minha cabeça é uma reviravolta, como num filme, quando o mocinho está perdendo a batalha mas num soco ele se reergue. estamos aqui falando de maconha terapêutica! ficaram o tempo todo falando que maconha faz mal, agora se prova que não faz”

Por isso, para ele, enxergar rivalidade entre CBD e THC é “falta de informação”.

Quem acha que o CBD é bom e o THC é mau está enganado. Não existe isso. A diferença entre remédio e veneno está na dose, no jeito que você usa. A falta da educação é o grande problema. O desconhecimento e a ignorância que nos deixam nesse lugar mais vulnerável.”

D2 percebe que no Brasil, muitas das vezes primeiro se consome pra depois descobrir no que vai dar, mas alerta: “saber a procedência é importante não só na cannabis, mas em qualquer coisa que se consome.”

“A ILEGALIDADE É FRUTO DA CULTURA DO MEDO”

Hoje em dia a ilegalidade ainda é o maior tabu que envolve a cannabis, pois envolve opiniões polêmicas da parte de quem está nas posições de poder.

O músico acredita que a ilegalidade tem um fundo moralista, escorado no que chamou de “cultura do medo”.

É sobre controlar… desde o racismo estrutural, de jogar nas costas dos mais pobres, das favelas… É mal  intencionado mesmo… Falta verdade das partes que estão falando.”

“Quando um deputado conservador fala que a maconha faz mal ele não tem a mínima consciência do que está falando, na verdade ele só está falando sobre as pautas dele. Além de desinformação tem muita maldade nisso. Tem a ver com racismo e controle de território.”

“Infelizmente a gente ainda tem muito da cultura do medo. O medo do comunismo, o medo das drogas, o medo do diabo, que o homem usa como suporte à religião… e essa política de medo ainda se usa muito. Mas a cannabis tem muito a contribuir e eu quero participar desta revolução.”

Leia também: “Mesmo legalizada, cannabis nunca perdeu o estigma de droga”, diz diretora da Expocannabis Uruguai

“RECREATIVO É TERAPÊUTICO” E O ACESSO FÁCIL AO MEDICINAL

Outra polêmica relacionada à cannabis é sobre a diferenciação da nomenclatura que classifica o uso. Há quem diferencie o “uso adulto” ou “recreativo” do “uso medicinal” apontando que um deve ser diferenciado do outro por ter pouco ou nenhum teor terapêutico. Mas o rapper contesta:

“É recente a percepção de que pode ser usado de maneira terapêutica, mas pra mim o recreativo também é terapêutico. o jeito que a maconha foi criminalizada fez a gente acreditar que é só pra ficar doidão, mas tem muito mais efeito terapêutico que o chopinho no final de tarde [legalizado e de uso banalizado].”

Discussões como esta são mais recentes, pois derivam da conquista do direito ao acesso legal e regularizado à cannabis como terapia de saúde. Assunto que D2 também tem uma opinião:

“Hoje o medicinal no Brasil está legalizado, e o caminho é muito mais fácil do que as pessoas imaginam. Se faz uma consulta, se obtém uma receita, e depois é só importar. A barreira é muito mais pelo preconceito de que devido  acessibilidade, o que a gente precisa é desmistificar isso mesmo.”

CBD COMO MEDICAMENTO: A TURNÊ DO PÉ QUEBRADO E O USO POR FAMILIARES

Ao mesmo tempo em que o artista é um formador de opinião sobre a cannabis, também não falta bom exemplo na família quanto ao uso terapêutico do canabidiol. D2 mencionou que o produto é utilizado por alguns parentes:

“Lá em casa, minha mãe usou canabidiol por um bom tempo porque ela tinha lúpus e isso ajudou muito ela a ter equilíbrio. Na minha família eu tenho um caso de uma sobrinha que tinha 20 convulsões por dia e encontrou tratamento e agora tem uma convulsão por semana.  isso melhora não apenas a vida da pessoa como da família inteira. é a ciência, a planta tá aí, o conhecimento precisa ser passado. existe muito a ser explorado”

Além da mãe e da sobrinha, ele próprio já usou o CBD como medicamento, quando quebrou o pé durante uma turnê europeia. D2 mencionou este momento:

“Numa ocasião na Europa, quebrei o pé e tinha uma turnê pra fazer. Um médico me indicou o CBD e por ali encontrei em tudo quanto é lugar. Eu usei durante toda a turnê e meu pé colou, não senti dor em nenhum momento da viagem e deu tudo certo com os shows.”

Leia também: Cannabis para o tratamento de Lúpus

O MERCADO: EXEMPLOS CALIFORNIANOS PARA O BRASIL

A alguns pode surgir a dúvida quanto ao motivo por trás de escolher os Estados Unidos como sede de uma marca de produtos. Como nunca perdeu a visão de comerciante dos tempos áureos em Madureira, D2 explicou seu intuito de definir a Califórnia como berço de sua marca de produtos canábicos:

“Eu vi potencial no mercado americano porque por lá está muito avançado. Acho que temos um bom espelho lá.”

“Eu falo muito da Califórnia porque é lá que eu conheço, tenho amigos, família, vou pra lá desde 1997 e calhou de eu estar lá vendo essa mudança e esse avanço.”

“Por exemplo, na Califa, se você entrasse numa farmácia, tinha um cantinho das prateleiras pra cannabis, e de repente ela já não estava mais num cantinho, mas num corredor inteiro… xampu, suplemento alimentar etc.”

Enxergar este universo por este prisma deixa D2 otimista sobre o mercado brasileiro:

“Aqui no Brasil a gente pode enxergar por dois prismas: do copo meio vazio ou do copo meio cheio… eu era cético, mas agora essa visão mudou. Nunca pensei que estaria fumando maconha legalizada na rua, ao lado de um policial, em plena nova york.  Então eu tenho uma visão mais otimista, senão não estaria neste mercado”

LEGALIZE JÁ?

Otimismo este que D2 não esconde quando o assunto é legalização.

“A verdade sempre virá. O papo não é mais ‘se’ vai legalizar, mas ‘quando’ vai legalizar. Porque não tem jeito, estamos evoluindo nossa consciência e não tem pra onde correr com esse assunto. o Brasil tem tanta riqueza, é tão diverso, e tão amplo e com um solo tão fértil, que a cannabis qiando entrar nesse lugar [crescerá muito].”

POSTURA DE VERDADE

Marcelo D2 reconhece a responsabilidade de ser um formador de opinião: “Tenho que passar a visão de educação, porque eu tenho voz pra ensinar e passar conhecimento.” – Foto: Divulgação

Marcelo D2 defende com bravura seus pontos de vista valendo-se de sua vivência. Ele diz que sua “postura verdadeira”, incentivada por Bezerra da Silva, é o que o garante seu respeito ao entrar e sair dos mais variados meios, desde a grande mídia, até os porões do underground.

“Minha postura vem da verdade. Eu tento ser de verdade. Fui criado no subúrbio do Rio de Janeiro, essa é a minha trajetória. Fui criado com culturas do samba ao hardcore, do metal ao pagode, e isso me ajudou muito a ter postura pra chegar em todo lugar.

“Eu tenho muito respeito as pessoas, carrego isso comigo, de falar olhando no olho. Quando eu comecei a fazer samba, conversei com o Bezerra da Silva e ele me disse que em qualquer lugar que eu chegasse com respeito seria bom. Foi isso que me abriu as portas nesses trinta anos de carreira.”

“A cannabis faz parte da minha vida. depois dela eu virei o Marcelo D2. Parece que jogaram no meu colo uma responsa. Como usuário eu nem sei dizer como seria minha vida sem a cannabis.”

“Sou um funcionário da minha música. Não me coloco acima do que eu sou. Tento ser um cara simples. Não necessito de tapinha das costas, não preciso de bajulação, tento ser mais verdadeiro com todo mundo, mas falo que não preciso que me digam que sou foda, eu sei que sou foda.”

Consulte um médico 

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas. Clique aqui.

Tags:

Artigos relacionados

Relacionadas