Para a administradora especializada em gestão pública, são os pequenos passos que levam a grandes objetivos, e para alcançá-los é preciso diálogo e dedicação
Com o triunfo da democracia sobre a antipolítica, a cannabis é um tema que deverá ocupar cada vez mais espaço nos debates políticos. Exemplo disso é a campanha eleitoral do “Zé Ganjinha” que, em setembro de 2022, circulou pelas ruas de São Paulo, espalhando a palavra da conscientização contra o preconceito.
Na ocasião, o Zé Ganjinha era o mascote da cannabis medicinal. Numa vestimenta de pelúcia verde e com a cabeça em formato de gota, o Zé Ganjinha era como o “primo canábico” do Zé Gotinha, defendido como “uma forma criativa de adentrar em um debate tão polarizado com humor e informação”.
O que pouca gente sabe é que quem estava por baixo da pele do Zé Ganja era Maisa Diniz, integrante do Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, a ministra do meio ambiente.
Maísa é uma das raras figuras políticas que ainda prezam pelo diálogo e pela conciliação, rejeitando a polarização e o extremismo. Especializada em gestão pública nos corredores da Fundação Getúlio Vargas, a administradora foi peça chave em projetos focados em impacto social, política institucional e novas estruturas democráticas.
Hoje, Maisa Diniz é conhecida por ser uma das articuladoras da Bancada da Cannabis no congresso, cuja campanha sob sua coordenação obteve êxito para 5 deputados comprometidos com a pauta.
Numa visita à redação da Cannalize. a candidata compartilhou sua visão sobre futuro, educação, saúde pública e, claro, cannabis. Leia abaixo!
Cannalize: Para promover o diálogo, construindo pontes sem polarizar, como você vislumbra o futuro da cannabis no Brasil?
Maisa Diniz: A gente vive num momento desafiador para a política, porque ela tem se focado cada vez mais no entretenimento, e por conta disso, mais polarizada. A gente tende a achar que a polarização é discordar, e não, polarização é a gente não conseguir conversar por causa das nossas divergências
Então quando a gente fala de cannabis ou maconha, precisamos garantir que estamos falando de algo que nos é comum, porque a cannabis é um remédio, que garante qualidade de vida para várias pessoas, e a comunidade científica dá esse respaldo.
É urgente que exista esta conversa, baseada em fatos e dados garantidos cientificamente, para que ela se torne uma ferramenta de diálogo que diminua a tensão que nos afasta e nos una num objetivo comum: a garantia de saúde melhor pra todo mundo e não só pra quem tem dinheiro
Você articulou a Bancada da Cannabis. Consegue vislumbrar o que vem por aí em termos de regulamentação e legalização?
Eu acho que essa é a pergunta do milhão né? Cada vez mais fica claro para mim como o Congresso Nacional opera. Não existe um interesse coletivo em trazer praticamente nenhuma pauta, e acaba sendo muito mais uma disputa de interesses das lideranças que estão lá dentro.
A pauta da cannabis é muito cara e muitas pessoas são avessas ao debate. Então, cada vez mais precisamos começar a construir pequenos passos, porque não vamos conseguir trazer essa mudança grande e estrutural de uma vez só.
Precisamos que a legislação garanta com facilidade que os cientistas estudem a cannabis nas universidades. Estes estudos vão dar respaldo a outras regulamentações que estarão por vir, tanto para a cannabis medicinal quanto para o cânhamo, que tem um potencial industrial incrível.
A dedicação para estes passos que parecem menores é que vai garantir a pavimentação do caminho do que está por vir.
Mesmo que o acesso ao uso terapêutico da cannabis seja oriundo de tradição histórica, este recurso ainda parece bastante segmentado no mundo. Você acha que o exemplo de inseri-la na saúde pública pode ser uma quebra de paradigma quanto a esta segregação no Brasil?
É essencial que os nossos médicos tenham conhecimento sobre o potencial da cannabis. As universidades pecam, perdem a oportunidade de colocar esse fármaco dentro da estrutura assim como tantos outros.
Essa restrição também promove essa desigualdade, onde as pessoas que tem menos recursos e não estão nos centros urbanos tem menos acesso, por isso precisamos usar cada vez mais a estrutura do SUS.
Não à toa eu sou a criadora do Zé Ganjinha, que é uma brincadeira, uma alusão informal, que tem uma raiz muito profunda, que indica que a cannabis medicinal precisa ser garantida pelo SUS, pra todo mundo, que é o lugar de ela nunca deveria ter saído. É uma erva que tem que ser tratada como o alecrim, a hortelã…
A trava que segura a discussão sobre a cannabis no Brasil ainda é o preconceito mas, para vencê-lo, só informação não basta. Pra você, como a educação preenche o espaço da ignorância e do obscurantismo e refuta argumentos tão arcaicos e ultrapassados?
A educação é uma coisa que não tem como a gente não falar. É uma saída de longo prazo, mas tem que acontecer de forma sistêmica e única.
Quando a gente fala de educação para profissionais de saúde, a gente precisa ganhar escala, não pode ficar restrito a profissionais que se interessam ou que vão ativamente atrás desta informação.
Isso tem que acontecer em larga escala para que todo mundo tenha conhecimento. É a partir daí que a ciência nos vai dar respaldo para acabar com a ignorância, acho que é isso…
Lucas Panoni
Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.
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