Cannabis no tratamento de Colite Ulcerosa

Cannabis no tratamento de Colite Ulcerosa

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Nos últimos anos, o interesse pelo poder medicinal dos mais de 500 compostos encontrados na planta cannabis para tratar doenças inflamatórias relacionadas ao intestino, como a colite ulcerativa e a doença de Crohn, tem gerado mais e mais pesquisas médicas nessa área. 

Apesar dos estudos disponíveis, hoje em dia, mesmo depois de grandes avanços no controle do impacto das doenças intestinais, muitos pacientes continuam com sintomas fortes relacionados a essa condição. É nesse momento que entra o poder da cannabis para melhorar a qualidade de vida de quem sofre de doenças como a colite ulcerativa, por exemplo   

A eficácia da cannabis como um tratamento seguro para pacientes com colite ulcerosa é sem dúvidas promissora.

Pequenos estudos estão trazendo mais consciência de uma visão da cannabis como um medicamento alternativo, que pode substituir ou complementar procedimentos médicos ou outras prescrições.

No entanto, testes clínicos de longo prazo são necessários para uma aprovação clara no tratamento medicamentoso com cannabis para a colite. 

Sistema Endocanabinóide e seu papel no tratamento de Colite Ulcerosa

O Sistema Endocanabinóide (SEC) é um sistema que pode ser encontrado em todos os vertebrados que ajuda a manter a homeostase (equilíbrio) em todo o corpo.

Uma pesquisa com o foco em identificar e estudar o principal sistema neuromodulador está em sendo feita há mais de 25 anos. O SEC está relacionado aos receptores canabinóides, endocanabinóides e as enzimas que decompõem os endocanabinóides. 

Os endocanabinóides, são moléculas também conhecidas como canabinóides endógenos porque são produzidos dentro do corpo, principalmente  a anandamida (AEA) e 2-araquidonoilglicerol (2-AG). 

Esses compostos são produzidos pelo corpo quando um sistema fica desregulado. O SEC assume o controle e mantém os níveis equilibrados através do processo de sinalização entre os receptores canabinóides e os endocanabinóides. 

Os dois receptores mais abundantes e conhecidos são o CB1 e CB2. Apesar de serem encontrados em todo o corpo, os receptores CB1 estão mais concentrados no Sistema Nervoso Central, e os CB2 estão principalmente no sistema imunológico. 

Os endocanabinóides se conectam a esses receptores, assim enviam sinais ao SEC. Depois que esses receptores se conectam ao Sistema Endocanabinóide, as enzimas decompõem os canabinóides endógenos. 

Esse sistema também interage com os fitocanabinóides, que são canabinóides vegetais parecidos com os encontrados no corpo humano. 

Cerca de 144 canabinóides baseados em plantas de cannabis foram isolados pelos cientistas. Os pesquisadores têm muitos dos dados sobre os canabinóides mais conhecidos, o tetraidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), e a grande parte dos estudos estão relacionados ao uso da cannabis para tratamento da Colite Ulcerosa.

A maioria dos receptores canabinóides estão localizados em áreas importante para a colite ulcerativa, como o trato gastrointestinal, o cérebro, as células imunológicas e o sistema nervoso entérico. 

Um estudo de 2009 feito em camundongos com colite mostrou que a inflamação, que leva aos sintomas da colite ulcerosa, diminuiu quando os receptores CB1 e CB2 sinalizam o SEC no cólon ou reto. 

Inúmeros artigos de pesquisa que foram revisados mostram que o THC e o CBD reduzem a inflamação em pacientes exposto a diversas condições, incluindo muitas doenças gastrointestinais. 

Esses mesmos resultados também mostraram que a cannabis pode reduzir sintomas, como dor de estômago, náusea e diarreia. Além desses dois canabinóides famosos, muitos dos canabinóides e terpenos menos conhecidos da planta têm propriedades anti inflamatórias.

Cannabis e colite ulcerativa

Essa doença pode causar inflamação dolorosa na região do cólon ou reto. Diversos estudos clínicos feitos ao longo dos últimos anos mostraram evidências de que os tratamentos com a planta cannabis e isolados de CBD podem diminuir os sintomas associados e melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. 

Em 2018 foi feita uma revisão de estudos e ensaios clínicos feitos em camundongos. A maioria dos estudos envolveu o canabidiol em vez do tetrahidrocanabinol e outros canabinóides, isso aconteceu provavelmente porque o CBD é mais fácil de acessar legalmente por não causar efeitos intoxicantes.

Os especialista concluíram que a quantidade de revisões de qualidade levantou informações suficientes para justificar mais estudos clínicos em grande escala. 

No ano de 2017, a Inflammatory Bowel Disease Journal publicou uma revisão sobre os receptores CB1 e CB2, endocanabinóides e colite. Foi descoberto a manipulação  que o SEC tinha e o poder de reduzir a inflamação no cólon e no reto.

Este estudo também analisou o método de consumo de CBD e mostrou os resultados mais significativos, e os métodos orais não reduziram a inflamação.

Em 2018, os pesquisadores revisaram dois estudos com a participação de 92 pacientes adultos com colite ulcerativa ativa. O primeiro estudo tinha 60 participantes usando cápsulas de óleo de cannabis que continha até 4,7% de THC. Dos 60 participantes, 24% entraram em remissão clínica.

O segundo estudo ocorreu no período de 8 semanas, e os pacientes fumaram dois cigarros de cannabis com meio grama de flores em cada um. Esses participantes tiveram níveis baixos no índice de atividade da doença. 

Além desses estudos, existem pesquisas com pacientes que fornecem resultados anedóticos. Estes não são baseados na ciência e teste clínicos. Em vez disso, eles registraram as respostas dos usuários de cannabis com colite ulcerativa. 

Efeitos colaterais da cannabis

O uso da cannabis como medicamento  em conjunto com os cuidados de um médico é considerada segura. Os efeitos colaterais mais frequentes que os pacientes experimentam são leves em comparação com outros medicamentos. Entre esses efeitos podem haver:

  • Sonolência;
  • Fadiga, tontura;
  • Sensação de euforia;
  • Boca seca;
  • Paranóia;
  • Ansiedade;
  • Aumento do apetite;
  • Redução da atenção;
  • Dores de cabeça;
  • Náuseas.

Os efeitos colaterais podem variar dependendo da dosagem e dependendo do canabinóide. Por exemplo, um isolado de CBD, um extrato do óleo, não produz sensações extremos de euforia ou paranóia porque o canabidiol é um composto não intoxicante. 

Até hoje, não há registros de mortes relacionadas ao consumo direto de cannabis. 

Sem duvidas, podem ocorrer interações medicamentosas com tratamentos com canabinóides. Estudos mostram que os fitocanabinóides THC e CBD podem interferir com os pacientes que tomam varfarina, um medicamento que ajuda a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. 

Os compostos da planta podem interferir com quimioterapias específicas para câncer de mama e drogas antiepilépticas.

Antes de tomar qualquer decisão relacionada o uso da cannabis, o ideal é falar com seu médico. Como qualquer outro medicamento, sempre discuta os prós e contras do uso de cannabis medicinal antes de começar.

Referências 

  • cannigma

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