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Associação médica publica consenso sobre anestesia em usuários de cannabis 



17/05/2025


Com base em uma revisão bibliográfica, a associação chegou a conclusão de que a cannabis pode influenciar a anestesia de pacientes que utilizam a cannabis

Associação médica publica consenso sobre anestesia em usuários de cannabis 

Associação médica publica consenso sobre anestesia em usuários de cannabis

Recentemente, a AMBCANN (Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia) lançou um consenso sobre o manejo anestésico perioperatório de pacientes que utilizam cannabis. 

Desenvolvido pelos médicos anestesiologistas Renato Muniz Giaccio, Mauro Rodrigues Araújo e a acadêmica de medicina Luiza Lamartine Nogueira Araújo, o documento tem como objetivo orientar outros profissionais de saúde sobre como conduzir casos envolvendo pacientes que fazem uso de cannabis, seja de forma medicinal ou recreativa. 

A revisão bibliográfica foi realizada com base em fontes como PubMed, Cannakeys, Google Scholar e nas diretrizes da American Society of Regional Anesthesia and Pain Medicine (ASRA-PM). 

Como a cannabis pode afetar a anestesia? 

O Dr. Renato Giaccio, que já anestesiou mais de cinco mil pacientes, explica que o número de pacientes usuários de cannabis tem aumentado significativamente, tanto para fins terapêuticos quanto recreativos. 

Contudo, diversos estudos indicam que a cannabis pode interferir nos efeitos dos anestésicos — aumentando a resistência aos fármacos, prolongando a sedação e até intensificando a dor no pós-operatório. 

Até então, a literatura brasileira carecia de diretrizes específicas sobre como lidar com esses casos, o que deixava muitos profissionais sem norte. 

“A conclusão que chegamos com esse consenso é que a literatura é muito divergente, e isso ocorre, a meu ver, porque as formas de administração da cannabis são diversas — via oral, nasal e inalada”, afirma o anestesista. 

Complicações associadas ao THC 

O documento destaca os riscos relacionados ao THC (tetrahidrocanabinol), principal composto psicoativo da maconha. Apesar de amplamente utilizado na medicina, o THC pode representar desafios à prática anestésica, como a resistência à sedação ou sedação prolongada. 

“Isso ocorre porque o THC prolonga o efeito de algumas drogas, como a cetamina, mas antagoniza outras, como o propofol. Vejo isso com frequência também com o midazolam. Precisamos, portanto, de doses maiores de propofol e midazolam para induzir o sono e a hipnose”, explica o Dr. Giaccio. 

Outro efeito possível é a hiperalgesia pós-operatória, ou seja, uma resposta exacerbada à dor após o procedimento. Embora o THC seja conhecido por seu potencial analgésico, seu uso excessivo pode dessensibilizar os receptores canabinoides CB1 e CB2, que modulam a dor. 

Leia também: Receptores Canabinoides: O que é CB1 e CB2? 

“Sabemos que esses receptores têm influência na modulação da dor. Sua internalização, causada pelo uso excessivo de canabinoides, pode ser uma das causas da hiperalgesia”, comenta o médico. 

A hiperalgesia pós-operatória não é exclusiva do THC. O CBD (canabidiol) e outros canabinoides também podem causar esse efeito, o que gera preocupações entre os profissionais da saúde. 

Impactos do uso fumado 

A forma fumada da cannabis também foi abordada na revisão. Assim como o tabaco, o uso crônico pode causar irritação das vias aéreas, aumentando o risco de complicações respiratórias durante a anestesia. 

“O uso inalado crônico aumenta o risco de complicações intraoperatórias porque promove hiperreatividade das vias aéreas, tornando-as mais propensas à obstrução”, afirma o Dr. Giaccio. 

Outro ponto de atenção são os efeitos cardiovasculares. O uso fumado crônico e em doses elevadas pode provocar bradicardia e hipotensão, enquanto o uso agudo em doses baixas pode causar taquicardia e hipertensão — principalmente nas primeiras horas após o consumo. 

“Portanto, não é recomendável realizar qualquer procedimento cirúrgico nesse período, devido ao aumento do risco de arritmia e infarto”, alerta o médico. 

Suspender ou não o uso? 

O consenso da AMBCANN aponta que ainda há divergências nos estudos sobre a necessidade de suspender o uso de cannabis antes de uma cirurgia. Algumas recomendações mais conservadoras sugerem suspensão de até uma semana antes, enquanto outras indicam um período de 72 horas. Mais estudos são necessários para consolidar uma orientação definitiva. 

Nesta primeira edição do documento, os anestesistas optaram por seguir as diretrizes da Associação Americana de Anestesia Regional e Dor. 

“Qualquer decisão de cancelar ou adiar uma cirurgia eletiva ou procedimento médico em um paciente usuário de cannabis deve considerar possíveis comorbidades cardiorrespiratórias subjacentes”, conclui o Dr. Giaccio. 

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Tainara Cavalcante

Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.