Você pode substituir a morfina pela Cannabis 

Você pode substituir a morfina pela Cannabis 

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Centenas de milhões de pessoas necessitam utilizar morfina ou outros fármacos semelhantes ao redor do mundo anualmente para tratar suas dores. Estes medicamentos são muito eficazes para tratar a dor moderada e intensa, porém, apresentam diversos efeitos colaterais graves e também podem levar à dependência ou adicção (vício).

 A Cananbis e seus derivados têm se mostrado ótimos substitutos para os opioides em muitos casos de pacientes que necessitam tratar suas dores crônicas. A dor é o sintoma que mais leva as pessoas a buscarem atendimento médico ou fisioterapêutico. 

Num primeiro momento, a dor, do ponto de vista biológico é um fenômeno bom, pois ela nos avisa que algo está errado com nosso corpo. Pode ser uma dor porque algum órgão ou tecido está com algum problema ou lesão e isso nos desperta a investigar este fato. 

Por outro lado, a dor é um rápido aviso quando a gente toca a mão numa panela quente para nos avisar que se seguirmos aí poderemos queimar nossa pele. No entanto, em muitas situações a dor deixa de ser um aviso e se torna ela própria o nosso problema. Ela se perpetua, se cronifica, e passamos a tratá-la de forma farmacológica ou não-farmacológica.

Em termos de farmacoterapia a dor leve e moderada pode ser tratada por AINES – anti-inflamatórios não-esteroidais – como aspirina, paracetamol, ibuprofeno e outros. Quando a dor é de moderada a intensa começamos a associar opioides fracos (codeína, tramadol), antidepressivos, anticonvulsivantes e opioides fortes. 

No topo do ranking da potência analgésica estão os opioides fortes, como a morfina, oxicodona e fentanil. Puxa, mas os opioides então são ótimos analgésicos? Sim, são excelentes analgésicos. Ou seja, são muito eficazes na redução da dor. 

Todavia, a avaliação de um medicamento não se dá apenas pela sua eficácia, mas também pelo seu perfil de baixos efeitos colaterais. Desta forma, os opioides – derivados da planta Papaver somniferum, conhecida como Papoula – embora sejam bons analgésicos, apresentam uma série de efeitos adversos como constipação intensa, euforia, disforia, náusea, sedação, hipotensão, depressão cardio-respiratória, dependência e outros. 

Ou seja, imagine o quão é afetada a qualidade de vida de um paciente que possui dor crônica tomando um medicamento e tendo em maior ou menor grau alguns ou vários destes efeitos adversos diariamente. 

Além disso, os opioides induzem uma tolerância muito rápida ao organismo, isto quer dizer que o paciente periodicamente necessita aumentar a dosagem do medicamento para alcançar o mesmo efeito desejado. 

O leitor então já deverá concluir que os riscos de efeitos adversos que já não eram baixos, cada vez serão mais frequentes com o aumento da dose. Para complicar a situação, os efeitos de euforia, disforia – e bem estar – que os opioides causam estão diretamente relacionados à liberação do neurotransmissor do prazer, a dopamina, e a ativação do famoso sistema de recompensa. 

Assim, os opioides são também drogas altamente prazerosas. A heroína também pertence a este grupo, e desta forma, com alto poder de adicção. Não à toa, a dependência a opioides já é considerada uma epidemia nos EUA e em vários outros países do hemisfério norte. 

Cinquenta mil pessoas morreram nos EUA em 2019 por overdose de opioides, ocasionado pela depressão cardio-respiratória facilmente induzida por estes medicamentos. Aí então, surge, ou ressurge, a Cannabis. 

De forma popular há milênios e de forma científica, há quase dois séculos, sabemos que a Cannabis e seus derivados, principalmente o THC, podem ser bons analgésicos. A Cannabis de forma geral não tem a alta eficácia analgésica dos opioides, porém em muitos casos ela pode apresentar efeitos próximos aos derivados da Papoula. 

Dezenas de estudos recentes têm demonstrado que os canabinoides podem substituir ou reduzir o uso da morfina e de seus congêneres com eficácia, permitindo um bom controle da dor e o mais importante, sem esse pacote de efeitos adversos trazido pela morfina e seus colegas. 

Pois, em relação à segurança, sabemos que é virtualmente impossível que a Cannabis induza overdose ou leve alguém a óbito. Sua grande vantagem em relação aos opioides. 

Ainda, canabinoides apresentam um ganho de qualidade de vida muito interessante, pois melhoram humor, disposição, sono, bem-estar e qualidade de vida em geral. Tudo que um paciente com dor crônica necessita. 

Ademais, há estudos que mostram que os canabinoides além de reduzir a sensibilidade à dor, também modificam a interpretação da dor. Em outras palavras, a dor não é uma experiência puramente sensorial, ou exata. Por exemplo, se você colocar sua mão numa chapa a 70 graus celsius todos os dias, nem todo dia você sentirá a mesma intensidade de dor. 

Esta intensidade ou interpretação da sua dor sofrerá influências do seu estado de humor, do teu ânimo e da sua emocionalidade daquele dia. A Cannabis também ajuda nisso, ou seja, ela facilita a dissociação em nosso cérebro de estímulos dolorosos à sensações desagradáveis, nos tornando mais tolerantes à dor. 

Um dado super interessante em meio à epidemia de opioides que ocorre nos EUA, é a de que estados que legalizaram o uso adulto da Cannabis – maconha fumada sem necessidade de receita – apresentaram redução da taxa de mortes induzidas por opioides.

 Claro, este não é um dado experimental de um ensaio clínico, no entanto, é um baita dado da vida real com forte embasamento “causal” definido pelos pesquisadores, que reforça o quanto a Cannabis pode tratar a dor, mesmo pela via fumada. 

Este fenômeno pode ser meramente um acaso que ocorreu porque muitos pacientes com dor crônica também são usuários de maconha, ou pode ser algo muito consciente e buscado pelos pacientes. 

Neste caso, pacientes que sofrem de dor já sabem e sentem muito antes da lenta legislação médica avançar que o uso de Cannabis melhora sua qualidade de vida, trata sua dor e reduz a possibilidade de overdose e dependência causada pelos opioides. 

Ainda necessitamos de mais estudos para elucidação de como podemos utilizar a Cannabis em protocolos assertivos para esta substituição com segurança e eficácia, mas já está muito claro que a Cannabis cada vez mais substituirá a morfina e outros opioides para tratamento da dor crônica devido às suas inúmeras vantagens em relação aos derivados da Papoula

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