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A luz no fim do túnel das síndromes crônicas A luz no fim do túnel das síndromes crônicas

Como a cannabis transformou minha relação com a fibromialgia.

A luz no fim do túnel das síndromes crônicas

A luz no fim do túnel das síndromes crônicas
Foto: Arquivo Pessoal

Acordo “meio esquisita”. O corpo parece mais dolorido do que o normal, mas penso que tem a ver com aquela caminhada de ontem.  A disposição não está das melhores, mas interpreto como um sintoma pós menstrual.

O humor também parece um tanto instável… mas pode ser por causa da dor e da falta de disposição.

Demoro a reconhecer, mas eventualmente percebo que tem uma pequena crise se instalando. Crise, na fibromialgia, é o nome que damos a períodos em que os sintomas crônicos se tornam mais intensos.

A crise de fibromialgia

A mais temida, a mais detestada. Se ter uma síndrome crônica já é ruim o suficiente em dias comuns, nem queira imaginar o que é passar dias inteiros em crise.

Essa piora repentina dos sintomas pode durar horas, dias, semanas e até meses. Não tem como saber quando vai acontecer, com qual intensidade vai acontecer, nem quanto tempo vai durar. Ah, e não existe remédio para ela.

Pelo menos eu achava que não, até entender mais profundamente o papel da cannabis no meu tratamento.

Dias de luta, dias de nem tanta glória

Existem centenas de síndromes crônicas, e a maioria delas tem algo em comum: o desafio em gerenciar sintomas.

Afinal, ter uma doença não é nem um pouco simples, mas ter uma doença que são várias em uma é praticamente uma pós-graduação em si mesmo.

Por aqui, acordar sentindo a crise chegando já era a certeza de uma fase muito conturbada pela frente, acompanhada da dúvida de “por quanto tempo vou ficar assim”.

Quais compromissos vou ter que remarcar? 

Vou conseguir trabalhar? Vou conseguir cuidar de quem precisa de mim?

Esse é o máximo que o desconforto vai chegar, ou ainda vai piorar?

Vou precisar ir para o hospital?

Ao longo dos anos, fui sendo obrigada a aceitar os meus limites, reconhecer minha impotência e abraçar o ritmo da vida alinhado com o ritmo imposto pela fibromialgia. Ainda faço isso, dia após dia.

Mas, recentemente, entendi que não preciso passar por isso sozinha. Não preciso ter “mais força de vontade” para aguentar as dificuldades do meu corpo. Eu posso ter ajuda.

Mas funciona para tudo?

Quando comecei meu tratamento com cannabis, tinha a visão superficial de que iria ter alívio da dor e minimamente conseguir mais qualidade de vida.

O que eu descobri foi que ela podia me proporcionar muito mais. Ela podia me devolver a saúde. Me trazer esperança. Conforto. Segurança. Companhia nos piores dias.

E essas coisas nenhum outro tratamento tinha feito por mim.

O potencial da cannabis de atuar em múltiplos sintomas e, assim, ser eficaz na fibromialgia e em outras síndromes crônicas, acontece graças à sua capacidade de atuar em múltiplos sistemas do nosso organismo.

E isso acontece porque todos nós temos algo chamado “sistema endocanabinoide”.

De forma resumida, receptores do sistema endocanabinoide estão espalhados por todo o nosso corpo e se ligam aos diversos compostos encontrados na planta, como o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), causando efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, reguladores.

Esperança para os dias difíceis

Não foi simples encontrar minha dose ideal, entender qual canabinoide poderia me auxiliar para cada sintoma, e quais as vias de administração que mais funcionam para mim: oral, tópica, inalatória.

O processo exige paciência, e quer saber? Valeu a pena.

Hoje, posso dizer que tenho um ótimo tratamento, que não só ameniza sintomas, mas também restaura o funcionamento do meu organismo, que cuida não só do meu corpo, mas também da minha saúde mental.

Um tratamento que não me maltrata, que me dá autonomia e até me devolve algum senso de controle sobre minha saúde. Um tratamento que me possibilita agir quando entro em crise.

Só quem tem uma condição crônica sabe o quão precioso é encontrar algo assim.

Por isso estou aqui. Porque, no futuro, quero fazer parte do grupo que contribuiu para que a informação chegasse ao maior número de pessoas possível, que ajudou a quebrar os tabus e tornar o tratamento mais acessível a todos.

E você, embarca comigo nessa? Espero você no próximo artigo. Até lá!

Sobre as nossas colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

https://cannalize.com.br/a-luz-no-fim-do-tunel-das-sindromes-cronicas/ Dor crônica e canabinoides: como foi o evento do CREMERJ

Aulas sobre o tratamento para quatro tipos de síndromes crônicas reuniram evidências científicas e comparações com outros medicamentos

Dor crônica e canabinoides: como foi o evento do CREMERJ

Dor crônica e canabinoides: como foi o evento do CREMERJ
Foto: Reprodução

O CREMERJ (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) realizou ontem (24) o evento ‘Dor crônica e o uso de canabinoides’. Foi a primeira vez que o Conselho organizou um debate sobre as aplicações da cannabis como recurso terapêutico.

“São dois temas que chamam a atenção: dor crônica, cujo debate está felizmente aumentando, e canabinoides, substâncias que estão sendo pesquisadas apropriadamente para essas condições de saúde”, destacou o conselheiro do CREMERJ, Ronaldo Vinagre, na abertura do evento. 

De acordo com o conselheiro, os medicamentos usados para tratar as dores crônicas são costumeiramente criticados. Por isso, o assunto é muito complexo entre os médicos. 

Vinagre explica que a ideia de realizar o evento no Conselho veio do interesse pelo potencial terapêutico dos canabinoides – sobretudo pelos estudos.

“Uma coisa que precisa estar clara é que nossa interpretação é meramente científica. Estamos pensando no conhecimento e no benefício que podemos oferecer aos pacientes”, afirmou. 

Cannabis para dores oncológicas

O médico anestesiologista Carlos de Barros abriu os trabalhos falando sobre os benefícios da cannabis para as dores oncológicas. Ele citou os efeitos adversos dos opioides e a crise sanitária que acontece nos Estados Unidos em decorrência destes medicamentos. 

Em resposta a essa realidade, Barros trouxe uma pesquisa sobre os locais onde a cannabis medicinal. Segundo ele, houve uma redução de 25% dos óbitos por overdose e diminuição do uso de opioides. 

Se um paciente utiliza opioides para tratar as dores do câncer, ele não abandonará a medicação por completo. Porém a dosagem poderá diminuir com a cannabis – que é coadjuvante”, destaca o médico. 

Leia mais: Cannabis é igualmente eficaz contra dor que os opioides, segundo estudo

Cannabis para dores neuropáticas e nociceptivas

Sequencialmente, a neurologista Camila Pupe destacou que 5% da população tem diagnóstico de dor neuropática. Deste grupo: pelo menos 30% dos casos são refratários (de difícil controle com medicações convencionais).

“Estes pacientes merecem uma tratativa com canabinoides pelo baixo risco de efeitos colaterais. É preciso atuar em várias linhas de tratamento, com psicólogos, nutricionista e fisioterapeutas, para uma mudança de vida completa”, esclarece Pupe. 

Leia mais: CBD pode ajudar dores neuropáticas, segundo estudo brasileiro

Em seu painel sobre tratamento para dores nociceptivas, o médico do trabalho Alexandre Cardoso defendeu que o canabidiol isolado não é capaz de diminuir as dores. “Não há tratamento para dor sem THC [tetrahidrocanabinol]”.

Quer entender como a terapia canabinoide vai ajudar na sua saúde? Clique aqui e fale com um especialista!

https://cannalize.com.br/dor-cronica-e-canabinoides-como-foi-o-evento-do-cremerj/ CBD pode ajudar dores neuropáticas, segundo estudo CBD pode ajudar dores neuropáticas, segundo estudo brasileiro

Além das dores neuropáticas, a pesquisa ainda mostrou que o canabidiol pode servir de tratamento para depressão e problemas cognitivos

CBD pode ajudar dores neuropáticas, segundo estudo brasileiro

CBD pode ajudar dores neuropáticas, segundo estudo brasileiro
Foto: Envatoelements

De acordo com um estudo brasileiro recém-publicado na a Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry, o CBD (canabidiol) tem a capacidade de produzir melhorias funcionais e moleculares no cérebro de roedores. 

Desenvolvido na USP de Ribeirão Preto em conjunto com a Universidade da Campânia Luigi Vanvitelli, na Itália, a pesquisa foi coordenada pelo professor, coordenador do Centro Multiusuário de Neuroeletrofisiologia e do Laboratório de Neurociências de Dor & Emoções, Renato Leonardo de Freitas. 

Feita em ratos com dor neuropática e de outras condições, como depressão e perda cognitiva, a ideia foi investigar as conexões neurais entre o hipocampo dorsal e a região pré-límbica do córtex pré-frontal para entender como acontece essa conexão. 

E também se ela está relacionada, além da dor crônica neuropática, mas também a outras comorbidades relacionadas à depressão e prejuízos cognitivos.

Resultados

E parece que a resposta foi afirmativa. Os chamados astrócitos, que respondem a alterações causadas por lesões do sistema nervoso central, um nervo periférico ou alguma condição pré-existente, podem resultar em um aumento de substâncias pró-inflamatórias, que acabam prejudicando a comunicação com os neurônios.

Ou seja, a ativação dessa área está associada a amplificação da dor e o seu prolongamento. A região também se comunica com outras relacionadas às emoções, causando a depressão e outras condições cognitivas.

O papel do CBD 

Depois de confirmar a hipótese acima nos ratos estudados, os pesquisadores começaram a tratá-los com canabidiol em diferentes dosagens. O objetivo era entender exatamente como a cannabis poderia influenciar na dor e nos problemas psicológicos.

Após dosagens injetadas diretamente no hipocampo dos roedores, foi percebido que o CBD conseguiu diminuir as sensações de dor ao toque e ao frio, além de melhorar os comportamentos relacionados à depressão, com melhora do desempenho da memória. 

Ao que parece, o canabidiol utiliza uma conexão do hipocampo com a área pré-límbica do córtex pré-frontal, induzindo a neuroplasticidade. Trata-se da  capacidade do cérebro de se moldar a novas experiências, que ficam guardadas na mente para serem lembradas.

Alterações que ainda melhoraram a funcionalidade da atividade celular e neuromolecular. O que pode representar um importante tratamento farmacológico para dor neuropática crônica, depressão e comprometimento da memória no futuro. 

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https://cannalize.com.br/cbd-dores-neuropaticas-estudo-brasileiro/ Conselho de Medicina do RJ promoverá evento sobre cannabis

Será a primeira vez que um Conselho médico organizará uma aula focada na terapia canabinoide. Evento acontece nesta quarta (24), às 19h

CREMERJ
Foto: Reprodução

O CREMERJ (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) realizará um evento sobre dor e cannabis medicinal. Este encontro é considerado histórico, pois nunca antes um Conselho de Medicina (seja ele nacional ou regional) organizou uma discussão sobre estudos científicos com a cannabis.

A audiência foi anunciada pelo Grupo de Trabalho sobre Dor do Órgão, com o tema “Dor crônica e o uso de canabinoides: evidências científicas e bases”. Os painéis estão previstos para começarem às 19h desta quarta-feira (24).

Programação

Durante o evento serão abordados quatro tipos de dores crônicas que podem ser tratadas com a cannabis medicinal. 

O uso da cannabis para tratar dores nociceptivas (que surgem de lesões nos tecidos, como queimaduras ou fraturas) é um dos destaques. Segundo o médico do trabalho Dr. Alexandre Cardoso, que apresentará o tema, os produtos com THC (tetrahidrocanabinol) podem responder melhor que o CBD (canabidiol) para esse tipo de desconforto. Assim, o uso dessa substância deve ser mais valorizado pela comunidade médica.

“O THC é a grande saída para o tratamento, porque sua molécula se parece muito com a anandamida que já é produzida pelo próprio corpo e está relacionada ao controle das dores. Na minha visão é preciso aumentar seu percentual nos óleos de cannabis: tem que ser 1:1 (comparado com o CBD)”.

Outro assunto que está em alta é uso dos canabinoides para dores oncológicas. O anestesiologista Dr. Carlos de Barros trará uma conexão entre os perfis de pacientes oncológicos e os possíveis usos dos produtos de cannabis no tratamento. Ele acredita que a iniciativa do CREMERJ de abrir espaço para essa discussão deveria servir de exemplo para outros Conselhos de Medicina.

Leia mais: Potencial da cannabis contra o câncer ganha atenção da grande mídia

“O contexto do evento serve para quebrar paradigmas, aumentar o conhecimento da classe médica sobre a prescrição de canabinoides e levar informação sobre o uso racional da cannabis medicinal”, opina o médico.

Confira a programação completa

Como participar?

Para assistir ao evento presencialmente, será necessário fazer sua inscrição. Clique aqui para ser redirecionado ao site do CREMERJ.

Informações

Local: Auditório do CREMERJ Júlio Sanderson – Praia de Botafogo, 228 – Rio de Janeiro/RJ.

Data: 24/07, às 19h.

Importante: o evento é exclusivo a médicos e estudantes de Medicina (a partir do 9º período). Para assistir à distância, o Conselho também transmitirá o evento em seu canal do Youtube

 

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Uma publicação compartilhada por Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (@cremerjoficial)

https://cannalize.com.br/cremerj-evento-cannabis/ Cannabis na Esclerose Múltipla é mesmo uma boa opção? Cannabis na Esclerose Múltipla é mesmo uma boa opção?

A terapia canabinoide é um tema relativamente novo que ainda está sob investigação. Mas será que já temos todas as respostas quando falamos sobre esclerose múltipla?

Cannabis na Esclerose Múltipla é mesmo uma boa opção?

Cannabis na Esclerose Múltipla é mesmo uma boa opção?
Foto: Freepik

O uso da cannabis medicinal na esclerose múltipla é frequentemente discutido no tratamento sintomático e preventivo. Mas o que ninguém fala é que alguns cuidados devem ser tomados quanto à indicação do uso na forma oral. 

Sintomas como comprometimento cognitivo, fadiga e alterações do humor, depressão e ideação suicida, por exemplo, devem sempre ser avaliados.

Mas isso não quer dizer que a cannabis não possa ser utilizada para tratar a doença. Há até remédios comercializados para tratar a condição, como o chamado Nabiximols. Trata-se de um preparado comercial utilizado em vários países com indicação específica para espasticidade na esclerose múltipla.

Leia também: Nabiximol Spray: o que é, para que serve e como comprar

O interessante é que ele contém THC e CBD, na proporção 1:1. Ou seja, tem a mesma quantidade de canabidiol quanto de tetrahidrocanabinol, a famosa substância que gera a alta da maconha.

Estudos mostraram que o Naximbols se mostrou eficaz nas escalas de auto avaliação no uso por até 15 semanas. Após um ano, os resultados ainda indicaram uma melhora nas escalas objetivas de mensuração da espasticidade.

Resultados que sugerem que essa opção terapêutica pode ser utilizada nos pacientes com esclerose múltipla. 

Mas…

Por outro lado, na dor neuropática ou central, os estudos foram realizados por períodos curtos. Por isso, não há uma certeza que o remédio funcione. 

Ainda assim, é importante lembrar que o Nabiximols, e outros produtos com extrato de cannabis, apresentaram resultados conflitantes. 

Embora não seja possível concluir de forma definitiva quanto à sua eficácia, os dados sugerem que esta pode ser uma opção terapêutica em pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais. 

No tratamento dos tremores e da disfunção vesical, por exemplo, o uso de preparos orais de CBD THC ainda estão sendo avaliados.

Conclusão: o CBD e o THC podem ser utilizados nas espasticidade seguidor da esclerose múltipla, sempre observando riscos e benefícios da sua indicação.

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https://cannalize.com.br/cannabis-esclerose-multipla-naximbol-estudos/ A descoberta de ser crônico A descoberta de ser crônico

O impacto de ter uma doença para o resto da vida

A descoberta de ser crônico

A descoberta de ser crônico
Foto: Arquivo Pessoal

O ano é 2013 e lá estava eu, conquistando meu diagnóstico de fibromialgia.

Conquistando porque, para chegar até ele, foram gastos anos, energia, dinheiro, consultas com dezenas de especialistas e incontáveis exames – permeados por medos, dúvidas, angústias, culpa, dor.

Meu nome é Lívia, tenho fibromialgia, 34 anos e estarei com você nesta coluna pelos próximos meses. 

Por aqui, vamos falar sobre saúde, dor, cannabis e estilo de vida. Penso ser importante me apresentar para dar um pouco de contexto para as informações e reflexões que vou compartilhar daqui para frente.

Uma dor solitária

Sinto dor desde criança. Ela sempre esteve presente e, até receber meu diagnóstico, eu achava que sentir dor o tempo inteiro era normal.

Estudei e me formei farmacêutica-bioquímica na Universidade de São Paulo, mas apenas trabalhando na indústria tomei conhecimento sobre a fibromialgia. 

Na época, acompanhava reações adversas a medicamentos e os relatos de pacientes “fibromiálgicos” sempre ficavam para o fim da fila.

Isso porque tendiam a ser mais longos, com narrações detalhadas do sofrimento envolvido não só em lidar com os efeitos colaterais do tratamento, mas também com todos os sintomas característicos da doença. 

Só anos depois compreendi que esses relatos eram, provavelmente, frutos de anos de invisibilidade e solidão.

A tal da fibromialgia 

A fibromialgia, caso você não saiba, é uma síndrome dolorosa crônica com origem no sistema nervoso central, em um processo que torna o organismo mais sensível a estímulos, incluindo a dor. Além dela, existem sintomas como fadiga, distúrbios de sono e vários outros que vêm e vão.

Foi através dos detalhes daquelas narrativas que percebi que sim, o que eu sentia tinha nome e endereço, e era fibromialgia – mas os desafios da jornada até o diagnóstico ficam para outro momento.

Em resumo, eu era “nova demais, sorridente demais e ativa demais” para ter mais uma doença crônica, ainda mais fibromialgia. 

Alguns anos antes, tinha recebido o diagnóstico de uma doença autoimune da tireoide, porém muito comum em mulheres e de tratamento bastante simples.

Lembro de ficar impactada com a ideia de precisar “tomar remédio para sempre”, mas logo percebi que aquilo não traria grandes consequências para minha vida.

Mas com a fibromialgia não… com ela foi diferente.

Um filme passou pela minha cabeça com as inúmeras vezes em que me senti fraca. Em que achei que não era capaz, que era inferior às outras pessoas. Situações em que me senti culpada por não conseguir acompanhar uma festa, uma viagem, um passeio, um trabalho.

Quanto choro, quanta dor, física e emocional, eu teria me poupado se tivesse recebido esse diagnóstico antes?

Descobrir-se crônico leva você, conscientemente ou não, a mergulhar em um universo paralelo que só outros crônicos são capazes de compreender. 

As frustrações do dia-a-dia; a descoberta de um novo eu, com novos hábitos, novos ritmos, novas prioridades e novos sonhos; a redefinição de expectativas; as pessoas que se aproximam e as que vão embora.

Ser crônico significa atenção constante, respeito constante, presença constante, cuidado constante. 

E cuidado constante significa tratamento contínuo. Com o uso de substâncias ou não, o tratamento nunca termina. Ele se transforma necessariamente em um estilo de vida.

Cannabis como tratamento

E é aí que a cannabis se encaixa tão bem: uma abordagem completa, que considera o ser humano em sua totalidade e oferece a possibilidade de atuação em múltiplos sintomas ao mesmo tempo. 

E o melhor de tudo, com poucos efeitos colaterais.

No próximo artigo, vou falar com mais detalhes sobre o grande potencial terapêutico da cannabis em síndromes crônicas, como a fibromialgia, em especial pelo fato de ainda não existirem opções realmente satisfatórias no controle dos sintomas.

A gente se vê por lá.

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

https://cannalize.com.br/a-descoberta-de-ser-cronico/ Cannabis é igualmente eficaz contra dor que os opioides, segundo estudo

A vantagem da cannabis está na diminuição dos efeitos adversos, o que a torna melhor indicada em casos de dor crônica não oncológica

Comparando cannabis e opioides, um estudo publicado no periódico de ciência BMJ Open, em janeiro deste ano, concluiu que tanto os canabinoides quanto os derivados do ópio tem a mesma eficácia contra a dor.

A pesquisa foi feita através de uma revisão sistêmica e meta-análise em rede, abrangendo 84 ensaios clínicos randomizados envolvendo mais de 20 mil pacientes, acompanhando durante 28 a 180 dias.

Para o estudo, eram considerados os opioides e canabinoides recomendados para a dor crônica não oncológica, ou seja, relacionada ao câncer. As descobertas mostraram que as melhorias na intensidade da dor são modestas para ambos os casos.

No entanto, o principal diferencial foi nos efeitos adversos, como por exemplo, a depressão respiratória, um problema grave e fatal que pode ser desencadeado pelo uso excessivo de opioides. No caso da cannabis medicinal, este problema não acontece.

Além disso, também foi menor o número de pacientes que descontinuaram o uso de cannabis medicinal por eventos adversos.

https://cannalize.com.br/cannabis-e-igualmente-eficaz-contra-dor-que-os-opioides-segundo-estudo/ Sistema de saúde pública inglês fará ensaio clínico massivo sobre dor crônica e cannabis

Objetivo do estudo é garantir a prescrição segura de medicamentos à base de cannabis para pelo menos 28 milhões de pessoas

Foto: Reprodução / Celadon Pharmaceuticals

Uma farmacêutica licenciada de medicamentos à base de cannabis recebeu do NHS, o sistema de saúde pública do Reino Unido, a aprovação para lançar seu ensaio clínico sobre medicamentos á base de cannabis para o tratamento de dor crônica com até 5.000 pacientes.

O estudo foi aprovado depois que um estudo de viabilidade de três meses, conduzido em 100 pacientes, indicaram resultados positivos para qualidade de vida, dor e sono, bem como redução do uso de opioides.

Segundo o portal Cannabis Health News, este ensaio é um dos primeiros desse tipo no Reino Unido, e foi projetado em colaboração com a MHRA (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency, Agência Reguladora de Medicina e Produtos de Cuidado em Saúde, em tradução livre), visando criar um conjunto de dados para apoiar a prescrição mais ampla de medicamentos à base de cannabis.

Acredita-se que até 28 milhões de pessoas no Reino Unido vivam com alguma forma de dor crônica, com cerca de 14.000 pessoas diagnosticadas anualmente com condições de dor difíceis de tratar, como fibromialgia .

Para a realização do estudo, os profissionais legalmente habilitados terão permissão para prescrever o produto aos participantes inscritos na pesquisa. Os pacientes serão recrutados por meio de instituições de caridade e outras organizações nacionais.

James Short, diretor executivo da Celadon Pharmaceuticals, empresa responsável pelo estudo clínico, comentou em entrevista: “Nosso objetivo de longa data continua sendo abrir o mercado do Reino Unido, dando aos médicos confiança para prescrever e criar os dados mais robustos até o momento no Reino Unido para medicamentos à base de cannabis.”

Legislação brasileira

No Brasil, a cannabis é aprovada apenas para fins medicinais e só pode ser comprada com receita. 

Atualmente, ela pode ser adquirida através de importações, nas farmácias e até por associações de pacientes. 

Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar desde a achar um prescritor até o processo de importação do produto. Clique aqui.

https://cannalize.com.br/sistema-de-saude-publica-ingles-fara-ensaio-clinico-massivo-sobre-dor-cronica-e-cannabis/