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Relato de caso de um paciente que teve a ferida de diabetes fechada com a cannabis



25/10/2022



Esse relato de caso fundamenta-se no tratamento tópico com Cannabis em uma ferida de pele crônica de um paciente diabético tipo 2 com neuropatia diabética.

O paciente L.C.S.S, homem, 54 anos e diabético tipo 2 há 5 anos procurou uma consulta devido à uma ferida crônica ulcerada na região maleolar lateral do pé direito em evolução com duração de mais de um ano.

O mesmo fazia acompanhamento pelo serviço de cirurgia vascular do Hospital Federal do Servidor do Estado (HFSE) no Rio de Janeiro, onde havia sido cogitada a amputação do membro devido ao aspecto, extensão do tamanho da lesão, assim como comprometimento vascular extenso e um diabetes descompensado com isso irregular dos hipoglicemiantes orais.

No dia 28/11/20 foi iniciado um tratamento com óleo artesanal de Cannabis Medicinal Full Spectrum 1:1 via oral duas vezes ao dia, juntamente com a pomada artesanal da raiz e da flor da Cannabis na ferida diariamente.

Após uma semana de tratamento, já foi possível obter uma melhora importante no aspecto da ferida e diminuição visível de sua circunferência. A cura completa da lesão aconteceu em menos de 3 meses de tratamento.

Ferida fechada

Na primeira semana de uso da Cannabis oral e tópica, já foi possível perceber a diminuição da circunferência da lesão assim como um aspecto mais cicatrizado comparado ao aspecto de “sangue vivo” da lesão inicial.

Após um mês, essa mesma lesão já havia reduzido mais de 50% do seu tamanho com cicatrização quase completa da lesão, com sinais muito evidentes de melhora e com fechamento da periferia para o centro da lesão.

Seguimos com a mesma conduta e marquei uma nova avaliação 1 mês após, na qual a lesão está quase totalmente fechada com apenas o cordão fibrinóide amarelado no centro da lesão, sendo suspensa a terapêutica tópica e mantido apenas o óleo de Cannabis via oral.

Um ano e 9 meses após o início do tratamento, temos o retorno do paciente com lesão totalmente fechada e cicatrizada e com cicatriz atrófica hipocrômica no local e com mobilidade do pé preservada, sendo orientado manter o óleo de Cannabis via oral e retorno anual.

Tópico associado ao óleo

Vale a pena ressaltar que esse foi o primeiro paciente tratado com esse tipo de lesão na minha prática clínica e que, após esse caso, tive êxito no tratamento de outros pacientes também diabéticos com a pomada de Cannabis e até óleo de semente aplicado diretamente na lesão, sempre associados ao óleo Full Spectrum via oral rico em THC.

Em 14/11/2020 havia registros de 43 amputações dos membros inferiores por dia segundo publicação da Agência Brasil decorrentes de complicações da doença, e os dados do Ministério da Saúde contabilizam 10 546 amputações feitas pelo SUS entre janeiro e agosto desse mesmo ano.

Os resultados da interação entre os canabinoides da planta e os receptores endocanabinoides presentes em todas as camadas da pele, inclusive nos nervos periféricos, contribuem diretamente para a diminuição no número de amputações por neuropatia diabética tanto no Brasil como no mundo inteiro.

Cannabis como opção

Há registros na China datados de 2000 a.C. e registros do papiro Ebers no Egito, que incluem o uso tópico da Cannabis para tratamento de inflamação.

Atualmente, a Cannabis Medicinal vem sendo citada como botox natural no ramo estético, devido aos seus efeitos antioxidantes, e no tratamento para várias doenças da pele devido aos seus efeitos antibactericidas, anti-inflamatórios e, até mesmo, antitumorais.

E como isso funciona?

Os canabinoides da planta cannabis são agentes lipofílicos que se ligam aos receptores endocanabinoides existentes no nosso corpo (CB1eCB2), que regulam diversas vias de sinalização em nossos tecidos e órgãos, incluindo pele, vasos sanguíneos, células, pulmões, fígado e cérebro.

Isso ajuda a reestabeleer a homeostase, ou seja, o equilíbrio do corpo após vários distúrbios, dentre eles as doenças dermatológicas crônicas.

O receptor CB1 é expresso em queratinócitos dentro das camadas epidérmicas mais diferenciadas, células do folículo piloso, glândulas sebáceas, neurônios sensoriais, melanócitos e células imunes na pele humana.

Já o CB2 é expresso em queratinócitos, glândulas sebáceas, neurônios sensoriais e células imunes.

A partir do relato de caso, conclui-se que a Cannabis Medicinal de forma tópica pode auxiliar no tratamento de feridas de pacientes diabéticos com neuropatia diabética instalada.

Isso mostra mais uma característica benéfica da planta, a qual demonstra suas propriedades anti-inflamatórias no local da lesão, promove a revascularização em uma área já comprometida por uma microangiopatia e a melhora mais rápida com cura da lesão comparada aos métodos tradicionais já utilizados.

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Vanessa Matalobos

Vanessa Matalobos é Médica formada na Faculdade medicina Teresópolis há 23 anos. Pediatra, dermatologista e pós graduanda de neurologia, trabalha como médica prescritora de Cannabis medicinal há mais de 4 anos, com mais de 300 pacientes tratados de diversas patologias.