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Pioneiro da cultura canábica na música, Erasmo Carlos morre aos 81 anos



22/11/2022



Censurada pela ditadura militar, canção composta por Erasmo há 50 anos foi considerada uma das primeiras menções à cannabis na música brasileira

Erasmo Carlos diante da janela do quarto de hospital onde foi internado, no Rio de Janeiro. Foto: Arquivo pessoal / Instagram

Morreu no Rio de Janeiro aos 81 anos nesta terça-feira (22) o cantor, compositor, ator e multi-instrumentista Erasmo Carlos. A causa da morte ainda não foi divulgada.

O eterno Tremendão estava internado desde a segunda-feira (21), segundo o site do GShow, quando voltou ao hospital depois de ter desmentido boatos de sua morte no último feriado de Finados.

Responsável por hits de enorme alcance midiático na voz de seu parceiro, o gigante Roberto Carlos, o ídolo da Jovem Guarda também sustentava o título de pioneiro da cultura canábica.

Isto devido a uma composição de 1971 chamada “Maria Joana”, em que o músico faz menções sobre a cannabis na letra. Censurada pela ditadura militar, “Maria Joana” é considerada uma das primeiras composições sobre cannabis da música brasileira. Em 2021, a gravação completou 50 anos.

“Só ela me trás beleza
Nesse mundo de incerteza
Quero fugir mas não posso
Esse mundo inteirinho é só nosso
Eu quero Maria Joana
Eu quero Maria Joana”

Erasmo defendia a cannabis como pauta do movimento hippie

Em 2015, Erasmo Carlos relembrou durante uma entrevista à revista Época o momento em que a música foi censurada.

“Era a época do desbunde. Eu queria seguir a filosofia hippie…Eu tentei driblar os censores, disse que Maria Joana era uma homenagem à filha do Nelson Motta [jornalista e produtor musical] que estava para nascer. A filha dele nasceu, mas se chamou apenas Joana. Eu quis dar uma de malandro, mas não deu”, contou o músico.

Na mesma entrevista, Erasmo se declarou fã de José Mujica, ex-presidente do Uruguai, considerando-o “um homem maravilhoso, esclarecido.”

O ídolo ainda disse que a legalização da cannabis é “um assunto que já deveria ter avançado”.

Também em 2015, em uma participação no programa do apresentador Danilo Gentili, Erasmo foi perguntado sobre sua relação com drogas. Ele respondeu: “Maconha nunca me prejudicou. Só vejo pessoas prejudicadas pelo vício da bebida. O álcool mata mesmo.”

Cannabis, drogas e jardinagem

Erasmo foi ainda mais incisivo quanto à sua opinião permissiva em uma entrevista ao programa Trip FM, de Paulo Lima, também de 2015. “Essa coisa de plantar maconha no quintal… Eu não planto, mas se eu quisesse plantar, eu plantaria. Sabe por quê? Porque na minha casa quem manda sou eu. É um absurdo alguém proibir plantar maconha no seu próprio quintal.”

Em outra entrevista, ainda em 2015, o cantor se manifestou claramente quanto a legalização e descriminalização.

“A legalização tem que ser bem pensada e realizada, sem oba-oba. O primordial é a descriminalização. Isso aí já deveria ter sido feito há décadas. Para mim, a não descriminalização da maconha é uma agressão.”

Anos mais tarde, em 2021, Erasmo ainda mantinha sua visão liberal sobre a cannabis.

“Geralmente a pessoa inclui maconha com drogas. Eu não. Eu separaria. Tem muita diferença da maconha para algo mais forte como um ácido, por exemplo”, argumentou.

“A maconha já deveria há muito tempo ter um olhar mais simpático por intermédio das pessoas que cuidam dessas coisas. Agora, as outras drogas já são um assunto médico, fogem da minha alçada”, analisou.

Leia também: Morre Gal Costa: veja os momentos em que ela falou sobre cannabis

Trajetória na música e nas artes

Nascido e criado na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, Erasmo sempre teve contato com a música. Segundo o biógrafo Nelson Motta, o Tremendão aprendeu a tocar violão com Tim Maia. 

Com Roberto Carlos gravou grandes canções como “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, “Como É Grande o Meu Amor Por Você”, “Se Você Pensa”, “Sua Estupidez”, “120… 150… 200Km Por Hora”, “Sou Uma Criança, Não Entendo Nada”, “Meu Ego” e “Mesmo Que Seja Eu”.

Entre os últimos trabalhos de Erasmo Carlos está o filme “Modo Avião”, de 2019.

Como ator, Erasmo contracenou com Larissa Manoela e fez o papel de avô “recluso” e “tranquilão”, que ajudava a protagonista num processo de detox das redes sociais.

Em fevereiro de 2021, o músico comemorou 50 anos de carreira viajando pelo Brasil para lançar o disco “O futuro pertence à… Jovem Guarda”, com oito faixas dos anos 60.

O cantor e compositor deixa esposa e dois filhos. Erasmo Carlos também foi pai de Alexandre Pessoal, morto em 2014, aos 40 anos, após um acidente de moto.

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Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.