Hackers invadem aula online de faculdade de medicina sobre Cannabis

Hackers invadem aula online de faculdade de medicina sobre Cannabis

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

A UFVJM busca fazer um estudo com a cannabis para autismo e refratários. No entanto, contrários interromperam a aula com xingamentos preconceituosos e vídeos de baixo calão.

Na última terça-feira (2), durante uma aula online sobre Sistema Endocanabinoide, os alunos e professores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), foram surpreendidos por hackers, que invadiram a videochamada e colocaram imagens pornográficas na tela.

Além das imagens, eles também colocaram vídeos do Bolsonaro, do Neymar e frases com ofensas.

Nos comentários, eles ainda chamavam os alunos de maconheiros e repetiam frases como, “não usem drogas!”.

O professor precisou criar outra sala para continuar a aula. Mas o receio de mais invasões nas próximas semanas ainda é grande.

File Photo

“Temos um longo ciclo de aulas pela frente, pois é um grupo de pesquisa e ainda estão montando um ensaio clínico para pacientes com autismo e refratários aos tratamentos ortodoxos com derivados canabinoides.”, ressalta o professor Wilson Lessa, da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

Ele é um dos professores que foi convidado para o projeto. O professor de medicina acredita que o hackeamento faz parte da intolerância que ainda existe ao falar sobre assuntos como a cannabis.

Segundo o professor Guilherme Nogueira da UFVJM, eles não deixaram para lá e estão investigando o ocorrido para denunciar o culpado.

O que é o Sistema Endocanabinoide 

Foi a partir de investigações sobre as propriedades medicinais da cannabis que o sistema foi descoberto.

Presente em várias partes do corpo humano, ele ajuda a regular a homeostase, isto é, o equilíbrio de várias funções do organismo, como fome, humor, sono, sistema nervoso, sistema imunológico e entre outros.

Assim como no resto do mundo, o novo sistema descoberto é cada vez mais explorado pelas universidades brasileiras, que já estão inserindo o ensino nas graduações de medicina.

Os alunos de biomedicina, farmácia e medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por exemplo, já tem a matéria de cannabis em suas grades. Ela serve para capacitar os profissionais terapêuticos para usar a cannabis na profissão.

A matéria chamada “Sistema Endocanabinóide e Perspectivas Terapêuticas da Cannabis Sativa e seus Derivados” foi aprovada com unanimidade pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) e é optativa.  Ela oferece perspectivas históricas, jurídicas e médicas da planta.

Outras instituições, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, (UFRN) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também já acrescentaram a nova disciplina voltada para estudantes e profissionais da saúde, sobre o uso terapêutico da cannabis.

A Universidade Federal de Santa Catarina também já dá aulas sobre o Sistema Endocanabinoide no curso de veterinária.

Estudos

Isso sem contar com os estudos. As universidades brasileiras estudam os famosos canabinoides da planta desde a década de 1980.

A Universidade Pública de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto tem até um Centro de Endocanabinoide, que se dedica a pesquisas exclusivamente voltadas para a planta.

O campus é conhecido por ser a entidade de ensino que mais tem estudos sobre o canabidiol (CBD) no mundo.

A Universidade Federal da Integração Latino-América (UNILA) também tem sido destaque nos últimos meses por conta dos resultados promissores para o tratamento de Alzheimer.

  Dificuldades

No entanto, o preconceito ainda é grande. Apesar da aula online da UFVJM só poder ser assistida com autorização, o link para participar estava disponível para todos, o que pode ter sido o motivo da invasão.

“Dado a vulnerabilidade dessas salas virtuais, sugeri que não colocassem em redes sociais, mesmo que a pessoa tenha que ter autorização. Pois se entram no endereço, fica mais fácil quebrar a segurança e entrar/apresentar mesmo sem autorização.” Acrescenta o professor Wilson.

Com a descredibilização da ciência, ataques como este são cada vez mais recentes. “Era uma discussão de um artigo científico sobre o sistema endocanabinoide e o cérebro.” ressalta.

 Não só por parte de hackers, como aconteceu na UFVJM, mas também do próprio Ministério da Saúde. No começo do ano, ele não autorizou a continuidade de um estudo da Universidade de Brasília, que estava testando o CBD para tratar o vício de usuários de crack.

A própria cartilha sobre drogas, divulgada pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, ignora os estudos feitos até hoje sobre a planta e criticam o uso medicinal.

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