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O dia em que revi minha relação com a cannabis



28/09/2024


O dia em que revi minha relação com a cannabis

O dia em que revi minha relação com a cannabis

Há 10 anos, conheci um garoto na época do cursinho que era muito divertido. Ele fazia piadas, ajudava os amigos com os estudos, era muito esforçado e quase sempre estava sorrindo. Mas ele escondia uma mágoa muito grande dentro dele. 

Pelo pouco que nos contava, ele tinha uma relação difícil com sua família e consigo mesmo. A constante autocobrança em todos os campos de sua vida fez com que em setembro de 2014 ele tomasse uma decisão extrema, se é que vocês me entendem. Felizmente, não deu certo.

A partir daquele momento, ele sabia que precisava de ajuda e iniciou uma jornada que dura até hoje. A família desse rapaz, por entender a extremidade do caminho que ele estava tomando, decidiu que ele precisava iniciar não só um tratamento psiquiátrico mas também psicológico.

 E foi ali que surgiu o interesse em entender mais sobre saúde mental e mecanismos que pudessem expandir não só o seu autoconhecimento mas que auxiliassem a não cair mais nessas pequenas armadilhas do ego. 

O mundo novo da cannabis

Um ano depois, esse mesmo garoto entrou em uma das universidades mais renomadas da América Latina e começou a estudar farmácia. Por ironia do destino, descobriu os benefícios que a cannabis poderia ter em sua vida, mas como todo bom universitário e por falta de acesso aos tratamentos em um tempo em que não existiam muitas opções de tratamento, optou pelo bom e velho prensado.

Após trancos e barrancos, esse garoto amadureceu em algumas questões pessoais. Finalizou alguns ciclos, mas a Santa Maria nunca o abandonou. Assim como a sua busca pessoal pelos benefícios que essa medicina ancestral poderia trazer não só para ele mas para seus amigos, só aumentava. 

Até que em 2021, ele iniciou um tratamento com um óleo artesanal. Um ano depois, quando iniciou seu tratamento com óleos importados, também mergulhou nos pilares da saúde mental.

Entendeu que a chave para uma vida saudável não era consagrar a planta todos os dias, mas equilibrar esses três pilares, tendo a planta como uma espécie de cimento que dá liga para essa estrutura tão complexa mas que se bem cuidada traz diversos benefícios.

Sobre essa tal autoestima

O mês de setembro sempre será especial pra mim, foi o mês em que o que deveria ter dado certo, deu errado e eu sou muito grato por isso. 

Cada setembro que passa, tenho acesso a mais literatura, evidências clínicas e evidências pessoais de que a maconha tem o poder de resgatar uma autoestima que há muito foi perdida.

E ao falarmos sobre o mês da saúde mental, o primeiro ponto que precisamos abordar é sobre essa tal autoestima, que não é apenas sobre olhar no espelho e se sentir confortável com a imagem, mas sim sobre se sentir confortável com você mesmo, com suas escolhas, com seus erros e acertos. 

E no fim das contas o saldo, vai ser sempre positivo, pois você não desistiu e escolheu caminhar da melhor maneira, a que você sabe.

Entre passos e tropeços, acertos e erros, vamos evoluindo sempre. Ter acesso a medicamentos à base de cannabis, aliado a sessões de psicoterapia, exercícios, espiritualidade e tantas outras ferramentas pode ser a chave para a revolução na saúde mental que o século XXI precisa.

Afinal de contas, precisamos resgatar a ancestralidade de cura que há muito tempo foi perdida através de uma política proibicionista torpe.

Sobre as nossas colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Guilherme Salgueiredo

Guilherme Salgueiredo é Bacharel em Farmácia-Bioquímica pela Unesp Araraquara, especialista em relacionamento e consultor canábico desde 2022. Através da educação em saúde, busca expandir e conscientizar o mercado sobre os usos medicinais da cannabis.