A cannabis medicinal pode substituir os opioides?

A cannabis medicinal pode substituir os opioides?
Foto: Freepik

A Cannect esteve presente na primeira edição do Simpósio sobre o Uso Racional dos Opoides (RiOpioides), que aconteceu no Rio de Janeiro. O evento contou com palestras de diversos profissionais de saúde que trabalham com manuseio e prescrição deste tipo de medicamento e incluiu a cannabis medicinal em sua programação.

Opioides são medicamentos indicados para minimizar sintomas de dor e dispneia. Se um paciente possui uma doença que ameace sua vida, é possível que um dos sintomas seja a dor. Neste momento costumam ser receitados opioides, para minimizar as dores e até mesmo a falta de ar, em alguns casos. 

Baseado na definição do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), as drogas sintéticas do tipo opiáceo ou opioide têm os mesmos efeitos no Sistema Nervoso Central: diminuição da atividade. “As principais diferenças entre cada substância são perceptíveis na dosagem. Assim, temos que todas essas drogas produzem uma analgesia e uma hipnose. Daí receberam também o nome de narcóticos, que são os que conseguem produzir sono e diminuição da dor”. 

De acordo com o médico geriatra e um dos organizadores do evento, Dr. Filipe Gusman, o uso dos opioides deve ser feito com muita responsabilidade por conta de seus efeitos colaterais e potenciais complicações. Um dos efeitos adversos mais comuns é a constipação intestinal, também chamada de prisão de ventre.

Segundo Gusman, o tratamento com cannabis traz muitos efeitos benéficos que são semelhantes ao dos opioides. O canabidiol (CBD) isolado e o tetrahidrocanabinol (THC) podem melhorar os sintomas de dor e falta de ar. 

“A cannabis medicinal vem sendo descoberta como um poupador de opioides. Aqui falamos sobre os potenciais benefícios, mas também sobre os danos que esses medicamentos podem trazer. Se você tem um recurso como a cannabis que consegue diminuir sua necessidade, ela vai ser muito bem-vinda neste cenário”, explicou o médico a respeito do espaço da cannabis medicinal em um simpósio focado em outra medicação.

Confira o que aconteceu no evento.

Sistema Endocanabinoide

O tratamento com canabinoides é natural e seus efeitos são sentidos pelo Sistema Endocanabinoide, presente em todos os mamíferos. Esse mecanismo é responsável por regular a homeostase, capacidade do organismo de conseguir se manter saudável e responder corretamente às alterações externas. 

Dessa forma, é através do Sistema Endocanabinoide que a comunicação entre o Sistema Nervoso e o restante do corpo acontece. E com isso, percebemos quando estamos com fome, sono ou com dores.

A psiquiatra e presidente da Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia (AMBCANN), Dra. Ana Hounie, participou do RiOpides e falou justamente sobre o funcionamento deste sistema.

Segundo a médica, para um profissional de saúde poder prescrever produtos à base de cannabis, primeiro ele precisa entender como funciona o Sistema Endocanabinoide, ou seja, o que esses medicamentos fazem no organismo do paciente como um todo.

 “Os opioides têm uma série de efeitos adversos, como a dependência. Existem mais de 100 mil óbitos por ano devido à overdose de opioides, enquanto os canabinoides têm um perfil de segurança muito maior. Não temos mortes por THC, por exemplo”, afirmou Hounie. 

Ainda de acordo com ela, o Sistema Endocanabinoide modula a dor. É possível conseguir efeitos analgésicos se componentes diferentes da planta forem receitados. O canabigerol (CBG), por exemplo, é um componente que segundo ela vem sendo bastante estudado e tem função analgésica e anti-inflamatória.

“A cannabis tem perfil de segurança e de efeitos adversos bem melhor que os opioides”, concluiu Hounie.

Simpósio da Cannect

Assim como aconteceu na Conferência Internacional de Cannabis Medicinal (CICMED), a Cannect também teve seu simpósio no RiOpiodes.

Diretor Médico da Cannect, Dr. Rafael Pessoa.
Foto: Andrei Semensato

Desta vez o anestesiologista e especialista no tratamento da dor, Dr. Paulo Renato Fonseca, apresentou uma mesa com o tema “Uso dos canabinoides no contexto do paciente oncológico”. Ele explica que para pacientes com câncer, que muitas vezes sentem dores em decorrência da doença, a primeira coisa que tem que ser esclarecida é a expectativa acerca do tratamento.

“A cannabis veio para contribuir demais para o tratamento de pacientes com câncer, especialmente no controle dos sintomas, como náusea, vômito e ansiedade. Sua composição também possui um efeito analgésico que pode diminuir a necessidade de uso de outros produtos que talvez tenham um pouco mais de efeitos colaterais”, esclarece. 

Portanto, o anestesiologista explica que a dosagem terapêutica ideal é indicada pelo próprio paciente. Geralmente o profissional vai precisar de um tempo para saber se o medicamento está fazendo o efeito esperado. 

Programação

O cronograma do RiOpiodes foi pensado para pontuar evidências científicas, benefícios e problemas relacionados ao uso dos opioides. Portanto, o tema “cannabis medicinal” acabou sendo pouco debatido. 

Foram duas apresentações sobre o tratamento com canabinoides:

O Sistema Endocanabinoide e formulações disponíveis de cannabis medicinal

Apresentado pela Dra. Ana Hounie

Fitocanabinoides: evidências como poupador de opioide

Apresentado pelo Dr. Gabriel Micheli