Desde a antiguidade, a cannabis vem sendo utilizada por guerreiros e soldados durante e após o combate para melhorar o foco, diminuir o medo, a ansiedade e controlar as dores.
E nos últimos 4 anos, houve um crescimento exponencial no uso de produtos à base de cannabis por atletas amadores, profissionais e até mesmo por simples praticantes de exercício físico.
Ainda assim, ainda há muitas polêmicas em torno desse uso.
Já não é mais novidade que o CBD (canabidiol), principal fitocanabinoide não psicoativo da planta, teve seu consumo liberado por atletas desde 2017 pela WADA (Agência Mundial Antidoping), o que fez diversos esportistas profissionais iniciassem a suplementação com essa substância, visando o controle de dor e a recuperação muscular.
Marcas de cannabis, inclusive, tem cada vez mais investido no patrocínio de atletas de diferentes modalidades esportivas.
E, se antes isso era algo restrito à realidade estadunidense, em 2022, empresas brasileiras como a Cannect, a USA Hemp Brasil, a Pangaia e muitas outras, apostaram em atletas de diversos níveis competitivos e esportes para lhe representarem e melhorarem sua performance esportiva individual com o CBD.
O ano de 2022 foi também muito relevante para a medicina canabinoide na produção científica. Foram publicados cerca de 4300 estudos sobre a cannabis e muitos deles estiveram correlacionados ao uso no exercício físico e no esporte. E as conclusões?
Foi comprovado, em humanos, o papel da anandamida e de outros endocanabinoides – substâncias que ativam os receptores canabinoides e são produzidos pelo nosso corpo – na ativação do “runner’s high” – a sensação de euforia e bem-estar que acontece após o treino.
‘Chapadinho’ de endorfina? Nada disso. São os endocanabinoides que levam à todos os benefícios psicológicos depois de treinos mais intensos.
Além disso, parece que esses endocanabinoides desempenham uma função muito importante na motivação à prática esportiva. Quer ânimo, disposição e energia pra treinar? A solução está nos canabinoides!
Diversos estudos também demonstraram o papel do CBD na recuperação muscular, modulando a inflamação e diminuindo as dores osteomusculares pós-treino. E o CBD tem se firmado como um suplemento esportivo muito adequado.
Em relação ao THC, o tetrahidrocanabinol, a molécula psicoativa da cannabis, os artigos evidenciaram que doses baixas da sustância não afetam negativamente o desempenho esportivo – e nem possuem benefícios ergogênicos claros.
Embora os estudos apresentem evidências de danos ou melhoras na performance esportiva com o uso de THC – e apesar da WADA ter se comprometido em 2021 a rever o banimento da deste – a lista de substâncias proibidas de 2023 é clara: o THC – e qualquer outro canabinoide que não o CBD – continua tendo o consumo proibido no
período competitivo.
Consequência disso, é que no ano passado, pelo menos três atletas sofreram penalizações pelo doping por THC: Joseph Schooling – nadador singapuriano e campeão olímpico, o zagueiro João Paulo e Fernando Ferreira – campeão sul-americano do salto em vara.
Todos alegaram o consumo de cannabis para fins recreativos, sem qualquer intuito de melhorar o desempenho esportivo e, mesmo assim, foram punidos e suspensos por um período.
Na onda contrária à conduta da WADA, de manter o THC banido, a USADA – agência que controla o doping do UFC – e as ligas estadunidenses NBA, MLB e NHL não punem os atletas que usam o THC.
Já a NFL, apesar de continuar a testagem no período competitivo e punir com multas – ao invés de suspensões – o atleta que testar positivo, está patrocinando estudos para entender os efeitos da cannabis na dor, recuperação muscular e prevenção de lesões nos esportistas e, também, o papel na concussão e lesões cerebrais.
O fato é que os melhores atletas do mundo ou fumam maconha de forma recreativa, como Michael Phelps, Kevin Durant, Ricky Williams, ou têm recorrido ao uso da cannabis medicinal como um aliado importante no bem-estar.
E a cannabis, no contexto esportivo, continuará sendo uma pauta muito importante ao longo desse ano. Precisamos quebrar os tabus e os estigmas que envolvem essa relação.
Partindo desse pressuposto, no mercado esportivo internacional, tem crescido um movimento de atletas, profissionais do esporte e marcas de cannabis iniciado pela Sports Cannabis – mídia de cannabis – e apelidado de #breakthestigma, cujo objetivo é pressionar os órgãos regulatórios e mostrar o papel tão valioso da planta – e todos os seus fitocanabinoides e substâncias – no contexto esportivo.
E para que tenhamos mais vitórias, se faz necessário persistir nas quebras de tabus e no estudo do papel dessa planta milenar na melhora da qualidade de vida e da performance esportiva.
E que cada vez mais atletas possam se beneficiar dos efeitos ansiolíticos, anti-inflamatórios, antioxidantes e de melhora de qualidade do sono já estudados e que toda a cannabis e suas formas de uso sejam permitidos sem exceções!
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Jessica Durand
Médica graduada pela Universidade Cidade de São Paulo, pós-graduada em Medicina Esportiva pelo Instituto Vita e em Cannabis Medicinal pela Unyleya. Possui certificação internacional em terapias à base de cannabis pela Green Flower. Atleta amadora, enxerga na prática clínica o potencial da cannabis medicinal na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes, com foco especial em praticantes de atividades físicas e atletas amadores, semiprofissionais ou profissionais. Compõe o núcleo de medicina esportiva da Gravital, atuou como consultora de assuntos médicos do Atleta Cannabis.
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