Cannabis e autismo: as barreiras reais e as que nós inventamos

Cannabis e autismo: as barreiras reais e as que nós inventamos

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Maconha é remédio sim e muito provavelmente serve para você. Mas no Brasil (e eu não sei se só aqui), nós vivemos um fenômeno onde usar termos corretamente é mais importante que o bem estar de um paciente.

Junte isso à preguiça de certos profissionais de saúde em atualizarem o seu conhecimento e terá então, o maior obstáculo conhecido, o que impede de fato a popularização da cannabis no combate aos sintomas de diversas síndromes, deficiências e doenças do ser humano.

Como eu passei a utilizar a maconha

Pessoalmente, estou na luta por acesso à cannabis medicinal desde 2020, quando introduzi o óleo à rotina do meu afilhado, um garoto autista, que hoje tem 5 anos de idade.

Descobrimos a condição do menino lá quando ele tinha apenas 2 anos e logo depois de observar efeitos colaterais vindos dos remédios tradicionais da farmácia, optamos por correr atrás de um tratamento com cannabis medicinal. 

E foi aí que apareceram os primeiros especialistas na língua portuguesa.

Veja bem. O Transtorno do Espectro Autista não é considerado oficialmente uma doença, os sintomas desse transtorno são desencadeados por um distúrbio no desenvolvimento do cérebro e portanto, se caracteriza como uma neuro-deficiência.

Como esse é um problema que não tem cura, não se pode dizer que há um tratamento para os autistas. O que existe é um controle dos sintomas que vem junto desse transtorno. Como a auto-agressividade, os acessos de fúria, os tiques nervosos e os vícios de comportamento repetitivos, entre outros.

Há cura para o autismo?

E esse “mero detalhe”, já é o suficiente para que médicos e defensores das pessoas nessas e outras condições, comecem a colocar barreiras entre o paciente e o acesso à cannabis terapêutica.

Quando falo que “a cannabis é um excelente remédio para tratar da condição autista”, surgem pessoas de todos os lugares para corrigir, num apego incrível à língua portuguesa, afirmando que autismo não tem cura, portanto não há remédio, ou sequer um tratamento.

Essas pessoas estão certas. Nós devemos ter cuidado com o que falamos e em como vamos atingir as pessoas. Mas quando nos deparamos com os dados, não tenho outra saída, se não a de achar fútil essa discussão.

O melhor caminho

Só na cidade de São Paulo existem mais de 200 mil autistas sem tratamento adequado, ou levando suas vidas à base de remédios controlados que causam uma série de efeitos colaterais.

Para essas pessoas, mesmo que não exista a cura, a maconha medicinal pode ser o melhor caminho no trato dos seus sintomas, já que ela minimiza consideravelmente os problemas associados ao transtorno do autista e praticamente não tem efeitos colaterais.

Coloque a cannabis na vida de uma criança autista e pergunte depois à mãe dessa criança, se ela pode viver sem esse remédio.
Você acha que ela vai perder tempo querendo te explicar que cannabis não é remédio? Ou será que ela vai defender primeiro o bem estar do filho a todo custo?

Melhora na qualidade de vida

Pois é. Eu já fiz essa pergunta a diversas mães e, tirando algumas das que fazem parte do movimento ativista, nenhuma se preocupou em me corrigir se cannabis é mesmo remédio ou não.

Até aqui usei o caso dos autistas como exemplo. Mas esse é um problema que está presente em todas as condições tratáveis com cannabis.

Quando uma pessoa, enfrentando determinada condição, escuta de um médico ou de um ativista, que maconha não é tratamento por que sua condição não tem cura, esquecendo ou até ocultando que a planta ameniza SIM seus sintomas, colocamos uma potencial solução em descrédito. 

Sem barreiras

E assim fazemos pessoas que precisam do acesso, perderem o interesse em seguir por um caminho que pode lhe trazer melhoras consideráveis em qualidade de vida.

O apego pela língua portuguesa não pode ser uma barreira para que pessoas tenham acesso a essa planta maravilhosa e eu entendo que autistas adultos e familiares se sintam incomodados com termos equivocados que possam diminuir a sua existência.

Mas isso não deveria ser um empecilho para buscar o que for mais próximo de uma solução. Vamos pensar primeiro no bem estar dos pacientes. Que tal?

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