Cannabis com níveis concentrados de THC não aumentam seus efeitos, diz estudo 

Cannabis com níveis concentrados de THC não aumentam seus efeitos, diz estudo 

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Fumar concentrado de cannabis de alta potência pode aumentar os níveis de THC duas vezes mais do que o consumo da erva convencional, mas não necessariamente causa euforia,de acordo com um novo estudo de consumidores regulares publicado em 10 de junho pela University of Colorado Boulder Researchers.

”Surpreendemente, descobrimos que a potência não acompanha os níveis de intoxicação,” disse Cinnamon Biwell, principal autora do estudo, no instituto de Ciência Cognitiva.

“Enquanto observamos diferenças impressionantes nos níveis sanguíneos entre os dois grupos, eles foram prejudicados da mesma forma.”

O artigo, publicado em 10 de junho na Jama Psyhiatry, é o primeiro a avaliar o impacto da cannabis entre os consumidores de produtos legais do mercado. Poderia informar tudo desde testes de sobriedade até decisões sobre o uso da cannabis medicinal ou recreativo pessoal.

Mas o estudo também levanta preocupações de que o uso de concentrados poderia desnecessariamente prolongar os efeitos colaterais.

”Isso levanta questões sobre a rapidez com que o corpo cria tolerância diante da cannabis e se as pessoas podem alcançar os resultados desejados em doses mais baixas,” disse Bidwell.

Enquanto 33 estados legalizaram o uso da cannabis medicinal e 11 tem legalizaram o uso recreativo, ambos dos usos permanecem ilegais ao nível federal. Os pesquisadores são também proibidos de manusear ou administrar cannabis. Alguns estudos anteriores usaram cepas fornecidas pelo governo, mas essas cepas contém menos THC do que os produtos reais.

Estudos através das Cannavans

Para estudar o que as pessoas realmente usam, Bidwell e os seus colegas utilizam duas vans brancas, também conhecidas como as ”cannavans” como laboratórios móveis. Eles dirigem até as casas das pessoas que fazem parte do estudo. Eles compram, usam a cannabis dentro de suas próprias casas e depois participam dos testes.

”Não podemos trazer a cannabis legal de mercado para um laboratório universitário, mas podemos trazer o laboratório móvel para as pessoas,” disse ela.

Para o estudo atual, a equipe avaliou 121 pessoas que usam cannabis regularmente. Metade delas geralmente usam concentrados (óleos e ceras que contenham os ingredientes ativos sem os caules). A outra metade geralmente usa flores da planta.

Os consumidores de flores compraram um produto contendo 16% ou 24% de THC. Os usuários concentrados foram expostos a um produto que continha 70% ou 90% de THC.

No dia do teste, os pesquisadores coletaram o sangue dos participantes, mediram humor deles e o nível de intoxicação e avaliaram sua função cognitiva e equilíbrio em três momentos: antes, durante e depois do uso.

Resultados do estudo

Aqueles que usaram concentrados apresentaram níveis altos de THC em todos os três momentos citados acima, com níveis atingindo 1,016 microgramas por mililitro em poucos minutos após o uso, enquanto os consumidores de flores atingiram 455 microgramas por mililitro. (Estudos anteriores mostraram que os níveis de THC oscilam em torno de 160 a 380 microgramas por mililitro depois do uso de cannabis).

Independentemente do tipo ou potência dos participantes da cannabis, seus auto-relatos de intoxicação ou ”sensação de tontura”, foram notavelmente semelhantes, assim como suas medidas de equilíbrio eles comprometimento cognitivo.

”As pessoas em grupo de alta concentração estavam muito menos comprometidas do que pensávamos que seriam,” disse o co-autor Kent Hutchison, professor de psicologia e neurociência da CU Boulder, que também estuda o vício em álcool. ”Se déssemos às pessoas níveis altos de álcool teria sido uma história diferente.” acrescentou ele.

O estudo também descobriu que, entre todos os consumidores, o equilíbrio era 11% pior depois de usar cannabis concentrada, assim também como a memória que também foi afetada. Porém, em cerca de uma hora, esse prejuízo simplesmente desapareceu.

”Isso poderia ser usado para desenvolver um teste, ou até mesmo para ajudar as pessoas a tomar suas decisões pessoais,” disse Bidwell.

Os pesquisadores não têm certeza de como o grupo concentrado poderia ter níveis tão altos de THC sem intoxicação, mas eles suspeitam que algumas coisas estão em jogo: consumidores regulares e concentrados provavelmente desenvolve uma tolerância ao longo do tempo.

Pode haver também diferenças genéticas ou biológicas que fazem algumas pessoas metabolizar o THC mais rápido. E pode ser que uma vez que os compostos da cannabis, chamado de canabinoides preencham os receptores no cérebro que provocam intoxicação, por consequência outros canabinoides tenham pouco impacto.

”Os receptores canabinoides podem ficar saturados com níveis altos de THC, além dos quais há um efeito crescente de THC adicional,” escreveu eles.

Os autores alertam que o estudo examinou consumidores regulares que aprendera a medir seu uso com base no efeito desejado, e não se aplica a consumidores inexperientes.

“Essas pessoas ainda devem ser extremamente cautelosas com os concentrados” disse Hutchison.

Por fim, os pesquisadores esperam entender quais são os riscos à saúde a longo prazo e o que realmente representam.

”A exposição concentrada a longo prazo interfere com os seus receptores canabinoides de maneia que poder ter repercussões futuras? Torna mais fácil parar quando você quer?” disse Hutchison ”Nós ainda não sabemos, mas os estudos e pesquisas continuaram.”

Lembrando que a cannabis é proibida no Brasil, salvo para uso medicinal mediante a autorização judicial e a importação só pode ser feita com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

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