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Burnout X Canabinoides: Conheça seu inimigo



16/01/2024


Quem prescreve derivados de cannabis sente na pele como a prática clínica e o empirismo guiam o conhecimento que será sedimentado em evidência científica anos depois.

O mínimo de embasamento sobre CBD (canabidiol), já nos alivia quanto ao princípio hipocrático de primum non nocere quando se trata deste como alternativa terapêutica.

Com exceção das gestantes e crianças, pacientes acima de 21 anos de idade terão raras contraindicações à prescrição feita de maneira responsável por profissional experiente e qualificado.

Mas o que é o Burnout?

Assim como o CBD, Burnout é um assunto cada vez mais presente para quem se importa com saúde mental e neurociência. Ainda não classificado no principal manual de transtornos mentais (DSM-V), é uma doença com incidência variável, sendo mais frequente em profissionais de saúde e educadores. 

Sua origem se deve a uma provável alteração no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que acontece em um ambiente de trabalho insalubre. As manifestações clínicas mais frequentes, segundo o CID-11, se dão por exaustão emocional, despersonalização/cinismo e sentimento de baixa realização/eficácia profissional. 

O tratamento para burnout com maior nível de evidência no momento é a psicoterapia (terapia cognitivo comportamental) associada a mudança do estilo de vida. Para sintomas pontuais é prática comum a prescrição de antidepressivos como a fluoxetina, sertralina e paroxetina.

Cannabis como tratamento?

Nesse contexto, um estudo recente publicado no JAMA chamou bastante atenção. Durante a pandemia, o grupo de estudos da USP Ribeirão Preto avaliou o uso de canabidiol (isolado) + abordagem tradicional vs uma abordagem tradicional, apenas.

 Doses de 300 mg/dia divididas em 2 tomadas diárias se mostraram eficazes para redução de sintomas como ansiedade e depressão. Isso mostrou como uma doença com incidência tão crescente e sem tratamento medicamentoso definido, pode se beneficiar do uso de derivados de cannabis. 

Ainda sobre o estudo, vale ressaltar que a dose usada foi alta (CBD isolado) e quem sabe ainda possamos usar doses menores (de CBD full spectrum) com resultados  semelhantemente importantes. Ademais, outros canabinoides podem ser associados, como o THC (tetrahidrocanabinol), o CBG (canabigerol) e o CBN (canabinol).

Tratamento seguro

Voltamos aqui a um ponto importante sobre a relevância do uso de derivados de cannabis na prática médica. Para quem trabalha em ritmo intenso, o ideal é que o faça sem sofrer sedação com o uso de medicações que o acalmem. 

O CBD é conhecido por não causar alteração da percepção da realidade e recentemente, tem sido associado a melhora da cognição. Por isso, torna-se imprescindível que o bom profissional médico tenha, ao menos, um conhecimento básico sobre o manejo dessa medicação a fim de poder fornecer o melhor das alternativas disponíveis ao seu paciente.

Fonte: Crippa JAS, Zuardi AW, Guimarães FS, et al. Efficacy and Safety of Cannabidiol Plus Standard Care vs Standard Care Alone for the Treatment of Emotional Exhaustion and Burnout Among Frontline Health Care Workers During the COVID-19 Pandemic: A Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2021;4(8):e2120603. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.20603

Sobre as nossas colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Felipe Neris

Formado em 2017, atuando como médico generalista desde então, membro e pós-graduando da Sociedade Brasileira de Estudos Canabinoides, membro-fundador AMBCANN (Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia).