Brasileira produz filme sobre a legalização da maconha no Uruguai

Brasileira produz filme sobre a legalização da maconha no Uruguai

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

O filme Xeque-Mate, da mineira Bruna Piantino, foi parar na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A autora também participa da competição de novos diretores.

O filme fala sobre vários aspectos da maconha no país, como legislação, proibicionismo, mercado e até uso medicinal.

Bruna Piantino foi para o Uruguai no ano passado com outros objetivos. Ela pretendia editar um filme no país vizinho. Coisa que poderia fazer aqui, mas queria respirar novos ares.

A escolha do tema do novo filme foi bem inusitada. Ela se inscreveu em uma oficina de Audiovisual na cidade e o trabalho final era produzir um curta metragem.

A mineira não sabia sobre o que poderia ser o assunto, mas foi em um dia com outro qualquer que ela decidiu que falaria de cannabis.

Bruna Piantino andava pelas ruas de Montevidéu quando se deparou com o Museu da Cannabis e resolveu entrar.

O espaço foi inaugurado em 2016, inspirado na legalização do Uruguai em 2013.  Os nossos vizinhos, foram os primeiros a legalizar a cannabis no mundo, o que gerou um impacto de aproximadamente R$90 milhões que iriam para o tráfico.

Hoje é um dos maiores exportadores do mundo e também referência em produtos de cannabis.

Bruna Piantino – Arquivo pessoal

O que Bruna sabia sobre o universo canábico é mais ou menos o senso comum. Por isso, entender um pouco mais sobre a cannabis, a deixou bastante interessada.

“Parece que abriu uma porta para mim, pois era tanta coisa que eu não sabia! (…) O que mais me marcou foi ver a planta de quase quatro metros. Eu fiquei encantada!” relembra.

O que Bruna viu exatamente foi o cânhamo, uma derivação da cannabis sativa. Plantas desta espécie só podem produzir 0,3% de tetra-tetraidrocanabinol (THC), componente que gera os efeitos alucinógenos.

O número é 33% mais baixo que a maconha menos potente possui.

Apesar de ser da mesma espécie, ela não se difere da recreativa apenas pela quantidade de canabinóides, mas também pelo tamanho, o ambiente de cultivo e até o gênero.

Enquanto a maconha tem baixa estatura e muitas flores, o cânhamo é bem mais comprido, e possui poucas ramificações.

No cultivo de maconha, o ideal é que o ambiente seja fechado e as plantas machos sejam retiradas para preservar o THC.

Já o cultivo de cânhamo é a céu aberto e a planta é rica em canabidiol (CBD).  As suas fibras são muito utilizadas pelo mercado, principalmente pela indústria têxtil e farmacológica.

O filme

Foi depois da sua visita ao Museu da Cannabis que a cineasta soube qual seria o tema do seu curta, que giraria em torno dos efeitos que a regulamentação da cannabis trouxe para a população uruguaia.

No entanto, falar de uma planta com séculos história não seria fácil “Não coube em um curta” ressaltou.

Ao todo, foram 22 entrevistados, que ela fez questão de colocar no documentário.

Entre eles estavam Eduardo Blasina, diretor do Museo del Cannabis Montevideo; Christian Scaffo, diretor do clube canábico Golden Leaf; Julio Calzada, ex-diretor da Junta Nacional de Drogas.

Além de vários outros profissionais da medicina, ciências sociais, agricultura e farmacêutica.

A cineasta acrescenta que uma das entrevistas que mais a marcou foi a de Julio Calzada, que participou da implementação da legislação da canábica no Uruguai.

“Ele me disse: ‘A política das drogas não pode estar baseada no medo, mas na política da liberdade, as pessoas tem que ter liberdade para decidir’. Isso me marcou muito”, acrescentou.

O nome Xeque-Mate foi intencional. Ela decidiu abordar a complexidade da legalização como em um jogo de xadrez.

“Eu queria mostrar essa evolução, essa mudança, comparando com um jogo de xadrez. Mostrar o movimento das pessoas até a legalização, onde acontece o xeque-mate. (…) Uma analogia ao mundo das drogas, o jogo de poder e como as pessoas lidaram com isso” acrescentou.

O filme foi focado no Uruguai. O restante do mundo entrou apenas na história da planta e a proibição. O Brasil, por exemplo, apareceu de maneira bem rápida, para falar de mercado.

“O filme me ajudou a compreender tanto o universo da planta, quanto a jogar xadrez” brinca.

Foto de Divulgação

Dificuldades

Bruna teve apenas dois meses para produzir o documentário. Sozinha em outro país, ela teve que se desdobrar para planejar o filme, dirigir, entrevistar, filmar e produzir.

Sem contar que o filme não foi planejado era independente.

“O processo de montagem é como um quebra-cabeça, como uma fala pode se conectar com outra, como começa, como termina, tudo precisa se encaixar. Eu tive pouco tempo” ressalta.

Apesar das dificuldades, o seu filme foi aceito na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ele estará disponível até o dia 8 de novembro.

A taxa para assistir ao filme na plataforma online, custa apenas R$6,00.

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