Avô da Cannabis? Conheça o médico responsável pela primeira pesquisa científica sobre a planta

Avô da Cannabis? Conheça o médico responsável pela primeira pesquisa científica sobre a planta

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Há 172 anos, um médico irlandês com pouco mais de 20 anos já escrevia um artigo científico sobre as propriedades da cannabis no alívio das dores e no tratamento de convulsões.

Talvez todos conheçam o israelense Raphael Machoulam, hoje considerado pai da cannabis. Ele ficou conhecido por isolar alguns canabinóides da planta e testar os seus efeitos separadamente para entender a interação com o corpo humano.

No entanto, a planta milenar já tinha sido estudada há mais de 100 anos, com os seus resultados publicados em um jornal científico.

Foi em uma viagem à Índia que o médico irlandês William Broke O’Shaughnessy descobriu uma planta nova que era usada há milhares de anos na região. 

Ele morou no país por alguns anos e percebeu que os potenciais terapêuticos da cannabis não eram explorados pela ciência.

Quando voltou à Europa, o médico não achou nenhuma referência ou estudos sobre a planta no ocidente. “Não consegui localizar referências sobre o uso dessa substância na Europa”, escreveu em um estudo sobre a cannabis publicado em 1839 na revista científica Journal of the Asiatic Society of Bengal, com o título “Sobre as preparações da cannabis indiana, ou Gunjah”.

Por isso, a primeira pesquisa científica sobre as propriedades médicas da planta ficou conhecida como “O Estudo O’Shaughnessy”.

Como tudo começou

Com apenas 24 anos, o irlandês recém-formado em medicina aceitou o cargo de assistente cirúrgico em Calcutá, na Índia. Lá ele viveu por oito anos, conhecendo e experimentando algumas plantas novas, como o ópio e claro, a cannabis.

A cannabis era muito conhecida pela população local, mas nada se sabia sobre ela pela medicina. Por isso, o médico decidiu explorar. Ele fez pesquisas profundas sobre as suas propriedades, tanto consultando arquivos bibliográficos quanto a população local.

William O’Shaughnessy também fez experimentos em animais para descrever a reação da planta entre eles. Ratos, coelhos, gatos, cachorros e até peixes passaram pela mão do europeu, que documentava todos os efeitos considerados por ele como “fascinantes”.

Um dos experimentos foi a introdução de 10 gramas em um cachorro de porte médio. Em seus relatos, ele acrescenta que meia hora depois o animal ficou “estúpido, sonolento e com aspecto de embriaguez”.

Mas a reação era passageira, depois de seis horas o cachorro estava “perfeitamente bem”.

Depois dos experimentos nos animais, o médico percebeu que a planta era perfeitamente segura para usar em humanos. Foi então, que começaram os testes em adultos e crianças.

Tal confiante como estava, o irlandês também começou a tratar os seus pacientes com a cannabis, sobretudo para cólera, tétano, reumatismo, raiva e convulsões.

Cannabis defendida publicamente

Foi através de seus estudos e experimentos que o médico concluiu que a cannabis pode ajudar no tratamento de sintoma graves de várias doenças, além de aliviar a dor e espasmos musculares.

O’Shaughnessy observou também que a cannabis poderia prevenir convulsões em um recém-nascido com 40 dias de vida. Ainda registrou: “”a profissão ganhou um remédio anticonvulsivo de grande valor”.

A apresentação e a defesa da sua tese na Sociedade Médica e Física de Calcutá aconteceu em 1839. Considerado um marco na introdução da cannabis no mundo ocidental, o seu trabalho gerou anos depois um grande alarde na Europa e nos Estados Unidos.  

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