Os pacientes podem reduzir ou cessar completamente o uso de opioides após o acesso legal à cannabis, sem comprometer sua qualidade de vida, descobriu mais um estudo com milhares de pacientes.
Pesquisadores da Emerald Coast Research e da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida, nos EUA, pediram a pacientes registrados de cannabis que respondessem a perguntas sobre seus hábitos de uso de maconha e o funcionamento de sua saúde após a substituição dos opioides.
Os 2.183 participantes recrutados em dispensários médicos em toda a Flórida tinham uma série de condições, incluindo ansiedade, dor crônica, depressão, insônia e TEPT (transtorno de estresse pós-traumático).
A maioria estava usando maconha diariamente.
As respostas da pesquisa transversal de 66 itens revelaram que 90,6% dos participantes considerou a cannabis “muito ou extremamente útil no tratamento de sua condição médica”, enquanto 88,7% disseram que a maconha era “muito ou extremamente importante para sua qualidade de vida”.
Além disso, os níveis de dor melhoraram em 85,9% dos participantes, com cerca de 84% dizendo que os problemas de saúde não estavam interferindo em suas atividades sociais normais tanto quanto antes da substituição — mais da metade disse que as atividades físicas, do trabalho doméstico à corrida, não eram tão difíceis quanto antes.
“Os achados sugerem que alguns pacientes de cannabis medicinal diminuíram o uso de opioides sem prejudicar a qualidade de vida ou o funcionamento da saúde, logo após a legalização da cannabis medicinal”, escreveram os autores na conclusão do artigo, publicado na Substance Use and Misuse na terça-feira.
A maioria dos participantes (79%) relatou a cessação ou redução no uso de analgésicos opioides após o início do uso de maconha e 11,47% descreveram melhora no funcionamento da vida diária.
“Um grande número de pessoas sente a necessidade de tomar analgésicos opioides”, disse a pesquisadora Carolyn Pritchett em um comunicado à imprensa.
“Se houver a opção de usar um medicamento com efeitos colaterais menos prejudiciais, incluindo menor risco de overdose e morte, talvez deva ser considerado. Mas mais pesquisas, incluindo estudos que acompanhem os pacientes ao longo do tempo, são necessárias antes que a substituição de analgésicos opioides por cannabis medicinal se torne comum.”
“Como qualquer outro medicamento com efeitos colaterais, os pacientes devem ser monitorados e avaliados regularmente quanto a eventos adversos, transtorno de abuso e outros problemas”, acrescentou.
A pesquisa também descobriu que 68,7% dos participantes experimentou pelo menos um efeito colateral, sendo os mais comuns boca seca, aumento do apetite e sonolência.
“O uso de analgésicos à base de opiáceos pode ser reduzido, ou até mesmo cessado, especialmente em pacientes com dor crônica, logo após o acesso à cannabis medicinal legalizada”, escreveram os pesquisadores. “O início de leis de cannabis medicinal pode levar a mudanças na saúde pública por meio dos potenciais efeitos poupadores de opioides da cannabis medicinal sem piorar o funcionamento da saúde”.
“Dados os grandes custos individuais e sociais associados à crise dos opioides, é importante considerar as implicações para a saúde pública desses achados”, concluíram.
O estudo aponta para dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA que revelam que o número de mortes por overdose de opioides quadruplicou de 1999 a 2019 no país, com quase 500.000 mortes durante esse período.
“O recente aumento nas overdoses de opioides, 28% de 2020 a 2021, enfatizou ainda mais a necessidade de reduzir os danos associados ao uso de opioides”.
As descobertas são condizentes com estudos anteriores que demonstraram a eficácia da maconha na redução do uso de drogas opioides.
Na reunião da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos em março deste ano, dois estudos apresentados revelaram que o acesso à cannabis pode reduzir ou até eliminar o uso de opioides para controle da dor para pacientes com dor crônica nas costas e osteoartrite.
“No cenário da atual crise de opioides, devemos identificar alternativas que possam mitigar a dependência de opioides para controlar a dor”, disse Asif M. Ilyas, professor de cirurgia ortopédica no Hospital Universitário Thomas Jefferson (Pensilvânia), que liderou os estudos.
Um outro estudo da Universidade de Toronto, publicado no ano passado na Applied Health Economics and Health Policy, também observou um declínio nas prescrições de opioides em todo o Canadá.
Nesse estudo foram analisados especificamente quantos opioides foram prescritos no Canadá antes e depois da legalização, em outubro de 2018, bem como o dinheiro gasto com opioides. O período observado foi de janeiro de 2016 a junho de 2019.
“O gasto total mensal com opioides também foi reduzido em maior medida após a legalização (C$ 267.000 vs. C$ 95.000 por mês)”, disseram os pesquisadores. “Os resultados foram semelhantes para planos privados de medicamentos; no entanto, a queda absoluta no uso de opioides foi mais pronunciada (76,9 vs. 30,8 mg/pedido). Durante o período de 42 meses, o uso de gabapentina e pregabalina também diminuiu”.
Um estudo publicado em janeiro do ano passado na BMJ descobriu que o acesso a lojas de maconha legais está associado a uma redução nas mortes relacionadas com opioides nos EUA, particularmente aquelas ligadas a opioides sintéticos como o fentanil.
Smoke Buddies
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