Por incrível que pareça, a plantinha já foi cultivada a céu aberto em uma pequena cidade do Rio Grande do Norte chamada Cruzeta. Mas os moradores não sabiam que era ilegal.
Era uma vez uma pequena cidade chamada Cruzeta que tinha cerca de oito mil habitantes. Ela ficava dentro do estado do Rio Grande do Norte, onde alguns cidadãos tinham plantações de maconha em casa. As plantas eram espalhadas também em praças e até no cemitério.
Até o que se sabe, os moradores utilizavam a maconha somente para fins medicinais e a conheciam como um outro nome. Liamba.
Pode até parecer um conto de fadas, mas esta é uma história real que passou até no Fantástico. Em 1996, quando a polícia descobriu, os cidadãos de Cruzeta ficaram espantados ao descobrir que se tratava de maconha.
Tudo começou quando a polícia recebeu uma denúncia anônima, relatando que um rapaz estava vendendo maconha em um bar. O suspeito foi encaminhado à delegacia e informou que pegou as plantas na casa de um idoso.
Tratava-se de um senhor de idade, que cultivava cannabis dentro do seu quintal. Ele tinha câncer e utilizava o extrato da planta diariamente para tratar as dores que sentia e ainda afirmava que ela evitava que a doença avançasse.
O denominado “líquido santo”, chamou a atenção de vários vizinhos, que começaram a pedir mudas para cultivar em casa também.
Em depoimento na época, o idoso disse que cultivava a maconha há oito anos, desde que a sua esposa trouxe a erva da casa da sua irmã, que morava em Natal (RN). Também acrescentou que não sabia se as pessoas utilizavam de outra forma que não fosse medicinal.
As plantas foram encontradas em pelo menos, outras seis residências de pessoas com mais de 50 anos que a utilizavam para uma série de condições médicas, como dores de cabeça, problemas respiratórios, epilepsia, reumatismo, enxaqueca e outras comorbidades.
“Tudo era tratado com o chá da planta. Bastava a notícia de que alguém estava padecendo com algum problema de saúde que chegava a notícia do chá milagroso”, declara o escrivão do cartório de Cruzeta na década de 90, Pedro George de Brito ao portal BBC News.
Os moradores esquentavam a cannabis em álcool ou na água para qualquer mal-estar que tivesse. E ainda doavam galhos para os amigos que tinham alguma queixa.
Diversos relatos afirmavam que a planta curava e mantinha as doenças sob controle, sobretudo quando falamos sobre dores. Todos na cidade, inclusive disseram que a morte do idoso aconteceu porque confiscaram a cannabis que ele plantava no quintal.
Outra idosa também comentou que depois que a erva foi apreendida, ela voltou a ter problemas de saúde.
Quando a justiça determinou o corte de todas as plantas de maconha que estavam na cidade, vários moradores, sobretudo os mais velhos, foram até à delegacia para ver a famosa erva que estava sendo recolhida.
Quando perceberam que já conheciam, muitos achavam um absurdo podar as plantas, pois não faziam mal a ninguém. Outros eram a favor de confiscar a cannabis.
A maioria delas foi incinerada, mas uma pequena parte da cannabis confiscada foi encaminhada para uma análise do Instituto Técnico-Científico de Perícia do Rio Grande do Norte (ITEP-RN), que a classificou com liamba.
Trata-se de uma variação da cannabis com pouco THC (tetrahidrocanabinol), substância que gera o famoso “barato da maconha”, e muito CBD (canabidiol), o princípio ativo mais usado no uso terapêutico.
No Brasil, o cultivo de maconha é proibido desde 2006, salvo por decisões judiciais em que o paciente cultiva em casa para fazer o próprio remédio.
Há até um projeto de lei que visa regulamentar o cultivo à nível industrial para a produção de produtos feitos com a planta no país. O PL 399 é discutido desde 2015, mas ainda causa polêmica.
No caso da cidade de Cruzeta, o delegado concluiu as investigações e apontou que não houve indícios de que os moradores usassem a cannabis como entorpecente. O inquérito concluiu que “Eles cultivavam a referida para curar doenças e para cicatrizar cortes”.
Com isso,o inquérito foi arquivado e ninguém foi indiciado. Contudo, a polícia alertou que se as plantas fossem encontradas novamente na casa de alguém, essa pessoa seria indiciada.
Após o ocorrido, a prefeitura ainda decidiu disseminar informações à população sobre os “perigos” de ter a planta em casa, com palestras nas escolas e em outros locais da cidade.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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