O papel das associações e das empresas no cenário canábico
A recente notícia sobre o pedido do Ministério Público da Paraíba para o afastamento da diretoria da Abrace (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança) por má gestão e favorecimento pessoal, reacende um debate crucial sobre o papel das associações no cenário da cannabis medicinal no Brasil.
Em um contexto de crescente regulamentação e com a recente decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que valida o cultivo medicinal da cannabis por empresas, a linha entre o caráter associativo e a operação empresarial torna-se cada vez mais tênue.
Este artigo de opinião busca explorar essa dicotomia, a necessidade de submissão às regras da Anvisa e o impacto da decisão do STJ, para, ao final, reafirmar o valor inestimável do acolhimento e da proximidade que as associações trouxeram para a história da cannabis no Brasil.
A Abrace nasceu da necessidade e do ativismo de famílias em busca de tratamento para seus entes queridos. Depois, tornou-se um pilar fundamental no acesso à cannabis medicinal no Brasil.
No entanto, as acusações de má gestão, nepotismo e uso indevido de recursos, levantam questionamentos sobre a governança e a transparência da entidade.
Embora o Ministério Público afirme que o objetivo não é interromper a produção de medicamentos, mas sim melhorar a gestão, a situação expõe a fragilidade de um modelo que, ao crescer e ganhar escala, se depara com desafios inerentes a grandes operações, muitas vezes confundindo-se com a lógica empresarial.
A questão central reside na perceção pública e regulatória: até que ponto uma associação que produz e distribui medicamentos em larga escala pode ser vista apenas como uma entidade sem fins lucrativos?
A submissão às regras da Anvisa para a produção e venda de medicamentos, embora essencial para a segurança e qualidade dos produtos, impõe um rigor e uma estrutura que se assemelham cada vez mais aos requisitos de uma empresa farmacêutica.
E essa conformidade, embora necessária, pode descaracterizar o propósito original de acolhimento e apoio mútuo que impulsionou a criação de muitas dessas associações.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo. Além de de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Dra. Tais Correa
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