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THC para animais: especialistas divergem no uso veterinário



20/06/2025


Veterinárias debatem os riscos e benefícios do THC para animais no WNTC. Entenda os impactos da cannabis no cuidado de pets e cavalos.

THC para animais: especialistas divergem no uso veterinário

THC para animais: especialistas divergem no uso veterinário

O uso do THC na saúde animal gera controvérsias no Brasil. Durante o WNTC — congresso realizado no dia 10 de junho em São Paulo — um painel sobre saúde animal revelou opiniões bastante divergentes.

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De um lado, Gabriela César, médica veterinária e CEO da Vettiva, fez um alerta claro sobre os riscos do THC, principalmente em cães de grande porte. Do outro, Kátia Ferraro, CEO da EquineCare, defendeu que a molécula, quando bem utilizada, oferece benefícios importantes. Além disso, criticou o que chamou de “demonização” do THC.

Um alerta sobre segurança

Para Gabriela César, os riscos são evidentes. “Nenhum dos nossos produtos possui THC. Considero uma irresponsabilidade, tanto ética quanto técnica”, afirmou em entrevista à Cannalize.

A veterinária chama atenção para a falta de regulamentação adequada e para o aumento dos casos de intoxicação em pets. “Nos Estados Unidos, clínicas veterinárias já validam métodos para detectar intoxicação por THC, pois os casos aumentaram muito”, explicou.

Ela reconhece que o THC pode ser terapêutico. No entanto, seu uso exige controle rigoroso. “Me preocupa muito, principalmente em animais de grande porte, como um dos nossos pacientes, um pitbull de quase 60 quilos. Com dor, ele fica agressivo. Submeter um cão a uma molécula que altera a consciência é um risco, inclusive pelo aumento da agressividade.”

Gabriela foi categórica: “Basta um acidente grave, como um pitbull mordendo uma criança após usar um produto irregular com THC, para gerar uma tragédia. Por isso, faço esse alerta tanto aos tutores quanto aos colegas veterinários.”

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THC não é vilão, diz especialista

Na mesma mesa, a veterinária Kátia Ferraro trouxe uma visão completamente diferente. Segundo ela, o medo em torno do THC não faz mais sentido. “No Brasil, tivemos que nos adaptar ao que tínhamos. Começamos na tentativa e erro, com doses muito baixas, e fomos ajustando”, relatou.

Kátia explica que, em muitos casos, o CBD isolado não traz os resultados esperados. Além disso, seu custo torna-se praticamente inviável. “Se eu usar só o CBD isolado, o custo é absurdo. E essa coisa de ‘nunca use no cachorro’… hoje, no Brasil, deve ter mais de 20 mil cachorros tomando óleo com THC, e problema zero.”

Para ela, o problema não está no THC, mas sim na criação dos animais. “O problema do cachorro pitbull não é o THC, é a criação. Somos todos bichos — bichos humanos e bichos animais — e nossa fisiologia é muito parecida.”

Kátia também defende o uso de cannabis, incluindo THC, no tratamento de cavalos de alta performance aposentados. “Esses animais sofrem com dores crônicas, artrose, artrite e ansiedade. Eu uso nesses cavalos e observo ótimos resultados. Não estou na universidade, mas, com o volume de pacientes que atendo, consigo traçar um perfil bastante sólido.”

Avanços na regulamentação

O debate acontece em um momento histórico para a medicina veterinária no Brasil. Em 2024, a Anvisa autorizou oficialmente a prescrição de cannabis para animais. Agora, veterinários podem prescrever produtos vendidos em farmácias. Além disso, o Ministério da Agricultura começa a regulamentar medicamentos específicos para uso veterinário.

A discussão sobre o uso do THC para animais deixa claro que, mesmo com avanços regulatórios, ainda existem desafios técnicos, éticos e científicos. Como mostrou o WNTC, esse debate está longe de terminar.

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Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.