Quando o assunto é cannabis, aposto que você já deve ter escutado diversas fake news sobre a planta. Mas, afinal, de onde elas surgiram? E por que é tão importante combatê-las?
Ao longo das décadas, a cannabis se tornou um terreno fértil para um fenômeno preocupante: as fake news. Desde os anos de estigmatização até o presente momento de regulamentação da cannabis medicinal no Brasil — e de legalização do uso adulto em diversos países e estados —, essa planta versátil tem sido envolvida em uma teia de desinformação e mitos.
Afinal, quando as pessoas não entendem muito bem um assunto, a tendência é que a imaginação vá cada vez mais longe, não é mesmo? Daí vêm as teorias da conspiração e tudo o mais.
A história das fake news sobre cannabis, porém, vem de muito tempo atrás, e é repleta de exageros, sensacionalismo e falta de embasamento científico, sendo que alguns dos recursos de desinformação utilizados há décadas persistem até hoje. Mas quais são essas fake news — você, sem sombra de dúvidas, já deve ter escutado pelo menos duas delas — e como elas surgiram, afinal?
A demonização da cannabis começou no início do século 20, quando os Estados Unidos iniciaram campanhas de proibição e desinformação sobre a planta, utilizando como recurso narrativas sensacionalistas que contribuíram para a disseminação do estigma em relação à cannabis.
Além disso, a classificação da cannabis como uma droga de Classe I nos Estados Unidos em 1970 a colocou ao lado de substâncias altamente viciantes, criando a ideia de que ela era extremamente prejudicial. Pesquisas subsequentes, contudo, revelaram que a cannabis não é tão danosa quanto uma droga de Classe I e possui aplicações médicas legítimas.
Hoje, ao passo que os estudos avançam e a compreensão pública evolui, fica cada vez mais claro que o estigma em torno da cannabis não se justifica em muitos casos, uma vez que, embora o uso indevido ou excessivo da planta possa ter efeitos negativos, a cannabis também demonstrou benefícios terapêuticos significativos.
Este mito é clássico e vem persistindo há anos — levando a uma série de equívocos sobre os seus reais efeitos: o de que a cannabis causa dependência.
Sua origem remonta ao início do século 20, quando a cannabis começou a ser regulamentada e proibida em várias partes do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Lei das Substâncias Controladas de 1970 a classificou como uma droga de Classe I, colocando-a ao lado de substâncias altamente viciantes, como a heroína. Essa classificação criou a ideia de que a cannabis era absolutamente viciante, apesar da falta de evidências científicas sólidas que a respaldassem.
Geralmente, o disparate anterior é acompanhado deste segundo argumento infudado: a crença de que a cannabis é uma “porta de entrada” que leva inexoravelmente ao uso de drogas mais pesadas.
Essa noção, muitas vezes usada para justificar a proibição da cannabis, tem uma história complexa e, em grande parte, desmentida.
O mito da “porta de entrada” vem da década de 1930, quando os Estados Unidos iniciaram uma campanha anti-cannabis bastante fervorosa. Com a criação do filme “Reefer Madness” em 1936, a narrativa ganhou força, retratando a cannabis como uma substância que transformaria usuários em criminosos e os levaria diretamente ao uso de narcóticos mais perigosos.
No entanto, ao passo que a pesquisa científica em torno da cannabis progrediu, tornou-se cada vez mais claro que essa suposição era simplista e imprecisa.
A grande maioria das pessoas que usam cannabis não avança para drogas mais pesadas. Isso porque, o uso de substâncias é influenciado por uma série de fatores, incluindo predisposição genética, ambiente social e econômico, e não pela simples experimentação da planta.
A crença de que a cannabis destrói neurônios teve origem em estudos realizados na década de 1970, que pareciam indicar danos cerebrais significativos em animais expostos à alta concentração de THC, o principal composto psicoativo da cannabis.
Na época, esses estudos foram amplamente divulgados, alimentando o mito de que a cannabis era tóxica para o cérebro humano.
As pesquisas mais recentes, contudo, mostraram que os efeitos da cannabis no cérebro são muito mais complexos. Embora o THC afete temporariamente as funções cognitivas, como a memória de curto prazo, esses efeitos geralmente são reversíveis após a interrupção do uso. A destruição permanente de neurônios não é uma característica comum do uso moderado de cannabis.
A compreensão atual dos efeitos da cannabis no cérebro destaca a importância de usar essa substância com responsabilidade e considerar os fatores individuais de cada usuário.
Sabe aquele filme que mecionamos antes, o Reefer Madness, de 1936? Então, ele também foi responsável por propagar uma outra grande fake news: a de que pessoas que usavam cannabis tornavam-se agressivas e violentas.
Ao retratar a cannabis como uma droga que levaria as pessoas à loucura e à violência — exagerando os seus supostos efeitos perigosos, incluindo a ideia de que ela transformava os usuários em criminosos violentos —, a narrativa sensacionalista contribuiu para a disseminação do mito da dependência da cannabis.
A realidade, contudo, é de que embora alguns indivíduos possam experimentar ansiedade ou paranóia sob o efeito da cannabis, associar seu consumo a comportamentos agressivos não é fundamentado em evidências sólidas, uma vez que seus efeitos variam amplamente de pessoa para pessoa, e a grande maioria dos usuários não apresenta tendências agressivas.
Hoje, temos a compreensão de que é irrevogavelmente necessário avaliar os fatores individuais, bem como o ambiente em que a substância é consumida.
Conforme mais países e estados regulamentam o uso medicinal e adulto da cannabis, a conversa sobre a planta se tornou mais aberta do que nunca. No entanto, em meio a essa mudança, a importância da apuração rigorosa de informações se destaca, especialmente quando se trata da narrativa sensacionalista que ainda persiste em alguns círculos.
A máxima “confiar, mas verificar” nunca foi tão necessária, especialmente com a eclosão da internet e das redes sociais, onde a busca por informações tornou-se mais acessível do que nunca. Todavia, ainda assim, a facilidade de disseminação de notícias e dados trouxe consigo um desafio significativo: a crescente disseminação de informações imprecisas ou até mesmo falsas.
Apurar informações sobre a cannabis ajuda a separar os fatos da ficção. Isso não significa ignorar os benefícios terapêuticos reais que a planta oferece, mas sim adotar uma abordagem equilibrada e informada.
Ao fazermos isso, contribuímos para uma discussão mais esclarecedora e garantimos que as decisões sobre o uso da cannabis sejam tomadas com base em dados sólidos, beneficiando pacientes, pesquisadores e a sociedade em geral.
Thaynara Moreira
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