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Histórias Reais

“Dá para usar maconha na comida”, diz empreendedora



18/08/2021



Conheça a história de um brasileiro que já cozinhou com a planta na Europa e hoje vive da culinária canábica no Uruguai.

Atualmente o brasileiro Gustavo Colombeck é chef de cozinha no Uruguai, país que mora há alguns anos. Além de dar workshops, o cozinheiro também trabalha como Personal Chef, onde cozinha na casa dos próprios clientes.

Por ser seu próprio patrão, Colombeck também reserva um tempo para fazer experimentos e receitas novas. Ele também está prestes a lançar um livro sobre gastronomia, que escreveu antes mesmo de receber a proposta. 

Contudo, tanto os seus pratos como os seus temperos tem um diferencial. Eles levam algo a mais que já virou até a maior característica do chef. Sim, estamos falando da cannabis.

Plantada em seu próprio quintal, o ingrediente nem tão secreto assim vai em todos os seus pratos, sejam eles doces ou salgados, como tempero ou a parte principal.

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Foto: Divulgação

Como tudo começou  

Gustavo Colombeck sempre gostou da gastronomia. Além de trabalhar como garçom em um restaurante, também fazia brownies e espaguete de abobrinha para vender.

No meio disso tudo, ele tirava um tempo para fumar maconha, hábito que veio ainda na adolescência. Nunca viu nenhum problema sobre a questão. No entanto, só conhecia a versão prensada.

Foi depois que viu as flores da planta que seus olhos brilharam. “Eu trabalhava em um restaurante, e foi onde eu conheci a  maconha mesmo e disse: ‘nossa,  isso dá para colocar na comida!’. Isso sempre ficou na minha cabeça”, comentou.

Maconha na comida? 

Antes mesmo de Gustavo colocar a cannabis na comida, os estigmas já começaram a aparecer. As pessoas riam quando ele falava que a planta combinava algumas receitas. Até a sua namorada na época terminou com ele por causa da erva. 

O cozinheiro começou a fazer um curso intensivo de gastronomia com o intuito de seguir os seus instintos. Chegou a comentar com um professor que a cannabis poderia entrar na receita de coxinha, mas mais uma vez foi desacreditado. O professor disse que a maconha estava ‘fritando o seu cérebro.

“A maconha não me influenciava em nada, mas me via tendo que mostrar uma competência a mais”. (…) Isso gerou um afastamento, ele me colocou como um maconheiro, da sala. Mas eu o surpreendi quando a equipe que eu coordenei ganhou o projeto final”, disse.

Nova realidade

O cozinheiro juntou dinheiro, pegou a mochila e foi em uma viagem só de ida para o Uruguai em 2015, onde vive até hoje. Lá a produção e a venda de cannabis é legalizada desde 2013, o primeiro país a legalizar na américa. 

No Uruguai inclusive, há até um museu dedicado à erva, chamado Museo del Cannabis, em Montevideo.

Colombeck começou a trabalhar como voluntário no hostel onde morava, pois se apaixonou pela liberdade para usar maconha que tinha no Uruguai. No quintal da casa tinha até alguns pés de cannabis que ele ficou responsável de cuidar. 

Mas mesmo em um país onde a visão da cannabis é diferente, misturá-la na comida ainda parecia loucura. O dono do hostel também riu da sua ideia.

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Foto: Divulgação

“No museu da cannabis tinha um curso de manteiga cannabica que comecei a fazer. Eu não entendia nada de espanhol”, completa.

Ele sabia fazer brownies e brigadeiros com a erva, mas percebeu que era um doce bastante comum em vários pontos da cidade, por isso resolveu inovar. Montou a sua barraquinha e começou a vender alfajor de maconha, como uma espécie de teste.

“A polícia me parou e pensei que iria rodar, pois já estava com medo pela ideia de polícia no Brasil. As minhas pernas começaram a tremer, mas eles me parabenizaram pela ideia. Foi uma das coisas que mais me motivou, não ter medo da polícia”. Completou.

Culinária canábica

Como dito, a gastronomia canábica ainda era novidade, mesmo no Uruguai. Por isso, o cozinheiro só encontrava cursos em inglês. Sem saber quase nada da língua, ele tinha que traduzi-los para o espanhol.  

Começou a oferecer serviços de chef privado, onde tinha a oportunidade de mostrar que a cannabis cabia no cardápio. Posteriormente descobriu que estava entre os 20 cozinheiros canábicos do mundo.

Foi convidado para ir à Europa conhecer a regulamentação em Portugal e de outros países também. Aproveitou a oportunidade para oferecer os seus serviços em alguns clubes de Amsterdã e Barcelona. 

“Ia nos clubes de porta em porta oferecer a minha ideia de buffet pagando a entrada. Eles me deram oportunidade de levar as pessoas e comida sem me cobrar o espaço. Primeiro foram 30 clientes, entre pessoas de várias nacionalidades que estavam de viagem”, acrescenta.

Colombeck conta que junto a um amigo, também ofereceu jantares e cursos para turistas hospedados nas cidades.  

Ele quase se casou com uma alemã que conheceu em um clube onde servia um jantar canábico. “Eu sempre ganhava maconha, então ela terminou comigo porque achou que eu era narcotraficante!”Conta. 

Um mundo maior do que se imagina

O gastrônomo ressalta que as experiências na Europa lhe abriram os olhos para utilizar ainda mais a cannabis na cozinha. Lá ele estudou cozinha molecular, o que lhe deu ideias para introduzir na culinária canábica. 

De repente ele começou a usar a planta como decoração de prato, tinturas para abrir as massas, folhas e talos como tempero, na salada e fazer molhos com a cannabis. 

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Foto: Divulgação

Livro

Gustavo Colombeck ainda era apaixonado pelo Uruguai, por isso, resolveu voltar para o país sul americano. Ele começou a refletir sobre as suas metas e objetivos alcançados ao longo da vida, percebeu que estava feliz.

Realizou o sonho de ter uma casa própria, de cozinhar com a cannabis e agora, só faltava uma coisa que almejava, lançar um livro culinário. Começou a organizar algumas receitas com esse intuito para publicar quando estivesse estabilizado. 

“Quando a editora me procurou eu já tinha dito que tinha a ideia, eu já sonhava com isso, mas não tinha grana, por isso, deixei a meta mais pra frente. Mas para a minha sorte as coisas só aconteceram e eu já tenho ideia para oito livros. Disse para a editora que o segundo já está quase todo escrito”, diz.

O livro será publicado pela editora Moluscomix, mas ainda precisa arrecadar fundos. A campanha que está no Catarse vai até dezembro. 

“Agora eu só espero chegar a o final da vida, pq muita coisa q eu queria fazer já fiz o que vier é lucro”, conclui. 

 

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Tainara Cavalcante

Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.